Centro histórico de Lisboa conta apenas com 8% da oferta do alojamento local do país

Existiam, a 1 de junho deste ano, 30.308 alojamentos locais registados em Portugal. No entanto, constatou, esta manhã, numa conferência de imprensa, em Lisboa, Eduardo Miranda, presidente da ALEP, destes, apenas 17% se situam em Lisboa, estando no centro histórico da capital, nomeadamente nas freguesias de Santa Maria Maior e Misericórdia, “o que mais se fala”, apenas localizados 8%. “Fora do centro histórico da cidade, o impacto do AL é quase irrelevante”, afirmou o responsável, dando conta que 65% dos alojamentos locais estão situados nas zonas de praia, “com o Algarve a ter uma força grande”.

Em Lisboa, existem atualmente 5114 alojamentos locais registados, dos quais 4661 são apartamentos. “Em 2014, as situações não registadas eram muito mais. Essa realidade inverteu-se. Começámos com cerca de 1500 registos e hoje já temos mais de 5000”, constatou. Explicando que os números da ALEP têm em conta os alojamentos registados, mas também os não registados, tendo por base os anúncios dos principais sites, o responsável afirmou que em Portugal, o alojamento local representa, atualmente, entre 29 e 35% da capacidade de alojamento para turistas. As contas da ALEP indicam que, em Lisboa, “20% do mercado ainda está por legalizar”.

Respondendo às criticas que têm vindo a ser feitas por outros players do setor, o presidente da ALEP trouxe para cima da mesa alguns números que, na sua opinião, “são chatos de ser revelados e que não favorecem” o debate, nomeadamente o facto de, em 2011, na freguesia de Santa Maria Maior, 30% dos imóveis estarem vagos e 50% a precisar de obras. “Quando se fala que os moradores estão a fugir (dos bairros históricos) é preciso olhar para trás e ver que, entre 2001 e 2011, Alfama, por exemplo, perdeu 20% dos habitantes e o Castelo 30%. E quem estava aqui nessa altura para os mandar embora?”. Não era o turismo nem o alojamento local, lembrou.
Dando conta que o alojamento local sofre, no inverno, de alguma sazonalidade, o responsável alertou para a importância da oferta do alojamento local quando, na época alta, as taxas de ocupação na hotelaria chegam aos 90%. “Se querem fechem o aeroporto, porque se temos turistas temos de os acomodar”, afirmou.

 
“É necessário perceber qual a motivação do investimento estrangeiro”

 
Na mesma ocasião, o presidente da ALEP abordou o facto de, muito do investimento nestes imóveis para arrendamento local vir de cidadãos estrangeiros, nomeadamente franceses, brasileiros e chineses, em consequência do lançamento dos “Golden Visa e do Regime de Residente Não Habitual”. Segundo Eduardo Miranda, uma das prioridades é perceber qual é a “motivação deste investimento estrangeiro”, uma vez que, muitas vezes, a solução que mais se adequa a estes investidores que procuram imóveis na capital pode não ser o alojamento local e ser, por exemplo, o arrendamento de longa duração. “Para garantir os benefícios de residentes não habituais e Golden Visa, os estrangeiros acabam por ter como opção o alojamento local, porque é flexível, permite rentabilizar a casa e acaba por ser o único que se enquadra nas exigências do processo”.

 
No entanto, o inquérito realizado aos titulares de espaços para alojamento local em Lisboa revela que 68% dos proprietários estão abertos a ter contratos de média/longa duração, o que, complementa o responsável, é um indicador de que há espaço para “outras soluções”.

 
Segundo o responsável, a ALEP está atualmente a trabalhar num projeto que visa ser uma alternativa a esta realidade e que tem a ver com o alocar alguns dos imóveis a arrendamento de longa duração para jovens. Não querendo adiantar detalhes deste projeto, o presidente da ALEP adiantou apenas que “quando os rendimentos mensais chegam a ser apenas de 400 euros, há soluções alternativas”. “Muita gente entrou no alojamento local com a ideia de que ia fazer fortunas e que era muito fácil”, afirmou Eduardo Miranda. No entanto, o que se verifica é que os estrangeiros estão a ter rentabilidades menores por terem de contratar todos os serviços, desde a receção, à contabilidade e limpeza dos imóveis. Ou seja, conclui, há aqui neste nicho de casos espaço para se “trabalhar o arrendamento de longa duração”.