Cimeira CTP: Em tempos de “incerteza”, Confederação do Turismo pede apoios estruturais ao setor

A Confederação do Turismo de Portugal (CTP) enumerou os desafios em vários quadrantes que se colocam ao desenvolvimento do turismo nacional, através de Francisco Calheiros, o seu presidente, durante a VI Cimeira do Turismo Português, que decorre em Lisboa sob o tema “O Turismo e o Novo Mundo”. Indica o responsável que, neste contexto, as empresas turísticas esperam apoios estruturais, até porque sem uma nova infraestrutura aeroportuária em Lisboa, o crescimento desta atividade nos próximos anos será limitado.

Para Francisco Calheiros, “vivemos sem dúvida tempos desafiantes, dias de mudança, assistimos como que a um virar de página, tais são as alterações geoestratégicas e os desafios que enfrentamos, que têm implicações nas vidas de todos nós”. Acrescenta o orador que o turismo foi obviamente também afetado por estas mudanças, sobretudo nos dois anos de pandemia, mas que a tenacidade dos empresários, a qualidade e determinação de todos os que trabalham na atividade turística, fizeram com que o turismo resistisse e continue a ser um importante fator da competitividade do país e um grande responsável pela recuperação da economia portuguesa. No entanto, lembra que se “com este desempenho pode dizer-se que o turismo já recuperou totalmente, mas não podemos esquecer que 2020 e 2021 foram anos muito difíceis, pelo que não serão suficientes os excelentes resultados deste ano para recuperar completamente as empresas”.

Para o presidente da CTP, o turismo quer dar ainda mais a Portugal e a toda a sociedade: “O Turismo quer, além da nossa cadeia de valor, proporcionar mais receitas ao país, através do que devolve em impostos e contribuir para o crescimento de outras atividades económicas”. No entanto, há barreiras no caminho, lembra Francisco Calheiros, que “bem sabemos que a entrada de mais turistas em Portugal significa mais receitas para o país, por isso a CTP continua a bater-se para que haja uma decisão final sobre o novo aeroporto”. Pois “só com uma nova infraestrutura aeroportuária poderemos dar ainda mais a Portugal. Desde logo na fase da sua construção, já que se fomentará a atividade de vários setores económicos e se criará mais emprego”.

Outro perigo para o desenvolvimento do negócio turístico em Portugal, considera a Confederação, é o atual contexto global e “que sem um apoio muito claro do Governo para enfrentar a tempestade perfeita por que passámos e que ainda mantém as suas marcas será tudo muito mais difícil”. Indica o responsável que “se o Governo esteve bem no início da pandemia, com medidas rápidas, eficazes e fundamentais para assegurar a sobrevivência das empresas, atualmente poderia e deveria ir muito mais longe. Infelizmente, uma boa parte das medidas anunciadas pelo Governo para apoiar as empresas portuguesas – e não só as do turismo – ou ainda não se concretizaram e não chegaram efetivamente à economia, ou são insuficientes, como os apoios extraordinários anunciados este mês para combater a inflação”.

Sendo assim, considera Francisco Calheiros que “as empresas esperam apoios estruturais; medidas que prevaleçam no tempo e não apenas paliativos pontuais. São necessárias medidas de âmbito fiscal, por exemplo, e não apenas apoios, que no geral, passam pela concessão de crédito que ainda endividam as empresas”.

Outro dos problemas com que a atividade se debate diz respeito à falta de recursos humanos. “Estamos cientes dos desafios, como por exemplo a falta de mão de obra, que não se resolve por decreto, mas que exige medidas imediatas e diplomacia económica e política com vista a serem estabelecidas pontes sólidas, em especial, com os países da CPLP”. Por outro lado, o presidente da Confederação indica que “existe, também, por parte do Governo, a intenção de celebrar um acordo de rendimentos e competitividade, de 2022 a 2026, mas alerto desde já que sem compromissos objetivos, sobretudo de ordem fiscal e da redução dos custos de contexto, não será fácil de ser atingido esse desígnio, no qual, a CTP, à data de hoje, está esperançada em que seja possível alcançar”.

Resumindo, Francisco Calheiros afirma que “sei bem que os tempos que vivemos ainda são incertos e desafiantes. Vivemos em plena guerra na Europa; a inflação está em constante crescimento; as taxas de juro estão também mais altas – sendo um forte peso para o endividamento das empresas -, e os custos de contexto que as empresas enfrentam são cada vez maiores, a começar pela energia e pelas matérias-primas. Por tudo isto a palavra que mais se ouve atualmente é «incerteza»”. Realçando este ponto, considera o orador que “mais do que apoios, e para que não sejamos acusados de estarmos sempre de mão estendida, o que o turismo quer é que sejam criadas as condições necessárias para que esta atividade seja cada vez mais forte, continue a ser motor da economia portuguesa, geradora de riqueza para o país e criadora de emprego”.

Finalizando, o presidente do organismo de cúpula do turismo nacional relembra que “nós cá estamos para defender um turismo com valor cada vez mais acrescentado e assente na sustentabilidade, nos benefícios para a sociedade, na economia digital, na qualificação dos territórios, na mobilidade e na qualificação e formação profissional”. Considera ainda o responsável que, para a CTP, também o espaço da Concertação Social é muito importante e cada vez mais se assume como um forte fator de estabilidade jurídica, laboral e social no nosso país.

A VI Cimeira do Turismo Português, promovida pela CTP, decorre durante o dia de hoje na Fundação Champalimaud.

 

Por Pedro Chenrim