Conferências DH: Caminho passa por “aumentar o gasto de cada visitante no nosso país” 

Sob o tema “O Impacto do Turismo no Retalho e Marcas”,  decorreu esta terça-feira a 14.ª edição das Conferências DH. O Museu do Oriente acolheu uma série de apresentações e mesas-redondas relacionadas com o impacto do turismo nas vendas do setor de distribuição. 

Victor Jorge, diretor editorial da revista “Distribuição Hoje” começou por destacar o turismo como a maior atividade económica exportadora do país, tendo sido responsável, em 2018, por 51,5% das exportações de serviços e por 18,6% das exportações totais. Por sua vez, o setor da Distribuição Moderna (alimentar e não alimentar), em Portugal, atingiu os 21 mil milhões de euros de volume de vendas, segundo dados da Associação Portuguesas de Empresas de Distribuição (APED).

Miguel Silva, Deloitte

Pedro Miguel Silva concorda com a opinião do jornalista. O Associate Partner for Strategy & Operations na Deloitte defende que o setor do Turismo tem dado o seu “contributo para o equilíbrio da balança comercial por ser um setor eminentemente exportador”, além de ser “gerador de emprego. É um setor que cresce e que continua a crescer”, sustenta o responsável, citando o exemplo de Lisboa onde o setor “cresce em média 12% ao ano. São poucas as indústrias que têm este crescimento”. É desta forma que o turismo tem um “impacto direto” noutros setores como o retalho. “Na região de Lisboa, o impacto macroeconómico mais do que triplicou entre 2005 e 2017”, frisa. 

No entanto, há desafios a ultrapassar. “Uma das grandes melhorias é aumentar o gasto de cada visitante no nosso país”. Pedro Miguel Silva diz que há “falta de oferta dirigida aos segmentos mais afluentes. Para o turista, o consumo no retalho representa parte integrante da sua experiência de viagem” e Portugal tem uma “oferta limitada”, levando a uma “perda de competitividade do ponto de vista de gasto média em cada turista”. A acrescentar a isto, está o facto de haver uma “fragmentação com poucos estabelecimentos-âncora. A dimensão média de cada ponto de venda, no caso do canal HORECA em Portugal, é muito pequena”, cenário semelhante no retalho onde existe uma “baixa densidade de “flagships stores. Elas são muito importantes pois atraem e criam experiências de consumo e valor”, sustenta. O caminho é o de “criar oportunidades de melhoria” e eliminar as “limitações ao desenvolvimento individual de cada ponto de venda”. 

“A inovação é importante e acelera a forma de pagamento”

Paula Antunes da Costa, VISA

Nesta linha, Paula Antunes da Costa considera que é fundamental perceber “quais são e quem são os corredores, o que procuram, quais os métodos de pagamento e qual a tendência de crescimento destes”. A country manager da VISA não tem dúvidas que o turismo é já um “fenómeno generalizado” em Portugal mas é preciso “desenvolver” “fomentar” e “melhorar” a experiência do turista, trazendo aumento a nível de receitas. 

Os pontos de fricção acontecem aquando do “primeiro impacto” do visitante na chegada a Portugal. 95% dos turistas que chegam a Lisboa vêm por via aérea e a “primeira preocupação” passa por conseguir um transporte. Comparada com Madrid ou Barcelona, “são raros (os meios de transporte) que aceitam cartão. Na sua grande parte, só aceitam pagamento em dinheiro”, quando nos outros locais é “obrigatória” a aceitação de cartão. Os problemas prolongam-se para a estadia. “O pagamento em numerário em zonas locais (bairros de alojamento local, por exemplo) é a única forma de pagamento”, sustenta. Nesta área, “há um caminho a ser trabalhado”, diz Paula Antunes Costa, destacando também a área dos cartões internacionais como outro dos objetivos. “40% dos terminais de pagamento não aceitam cartões de marca internacional”.  

Já sobre as novas formas de pagamento que estão a surgir, a responsável considera que, em Portugal, “não existe tanto essa noção”. As novas formas de pagamento digital (smartwatch, telemóvel, contactless) “exigem e requerem esta aceitação por parte dos terminais”, além de que “há um grande caminho a percorrer” na área do e-commerce. O objetivo passa pelo turista conseguir, antes de viajar, “planear e prever” a jornada no destino, realizando, através do sistema, a “compra do bilhete para o museu, evitando as filas no local”, exemplifica. 

Paula Antunes da Costa diz que o trabalho efetuado pela VISA passa por encontrar formas de “diminuir o gap da aceitação” por parte de “entidades e instituições”. A responsável diz ser necessário “formar e educar alguns stakeholders e reforçar a comunicação” através da sinalética, “importante para o turista perceber que consegue pagar com o cartão no estabelecimento. 

Além disso, é necessário apostar em soluções de mobilidade urbana, através do contactless proporcionando “uma solução única para todos”, e na modernização e digitalização, sempre assentes nesta tecnologia. “Na Europa, cerca de 40% das transações são feitas por contactless e Portugal está em último lugar”, refere a responsável que defende o uso da tecnologia. “A inovação é importante e acelera a forma de pagamento que todos querem que seja simples”, conclui.