Congresso AHP debate Investimento Hoteleiro em Portugal

“Investimento hoteleiro em Portugal“ é o tema do primeiro painel no 31.º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo que decorre até sexta-feira no Centro Cultural de Viana do Castelo. A Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) convidou os cinco principais grupos hoteleiros – Vila Galé, Hoti Hotéis, Porto Bay, Pestana e SANA Hotels – que representam mais de 140 hotéis, mais de 20 mil quartos em Portugal e, apenas 7%, da oferta.

Nas palavras do chairman do Grupo Hoti Hotéis Manuel Proença, o setor do turismo está na realidade a viver um “grande momento”, tendo crescido mais do que a economia portuguesa. No entanto, concorda com a visão de que se trata de um “ciclo,” notando que “vai haver um abrandamento” mas “estamos preparados para isso”. Segundo o responsável, o Grupo vai continuar a crescer e a investir. Os projetos já anunciados por outros grupos são a prova de que há “confiança” no setor. Esta aposta advém do facto de o segmento onde o grupo atua (o segmento “urbano”) ser “mais estável que outros”. Aliás, nos últimos anos, “temos assistido a um crescimento maior no setor urbano do que no lazer, o que estará a acontecer devido ao envelhecimento da população europeia”, analisa. 

Confirmando a estratégia de crescimento, o chairman diz que o grupo tem, “em pipeline, sete projetos em ambiente urbano, para os próximos anos”, sendo que aposta será a Norte, tendo mesmo anunciado um hotel Meliá, de quatro estrelas, em Viana do Castelo. “ Estamos confiantes relativamente ao futuro e numa fase que considero de consolidação”, diz, sublinhando, no entanto, que o crescimento não será de “dois dígitos, como nos últimos anos, mas iremos crescer a um, essa é a nossa visão para os próximos anos”. 

Já a visão do presidente do Grupo Vila Galé Jorge Rebelo de Almeida é de que o “país, para crescer, precisa realmente de olhar para o Interior”, estando Grupo a caminhar nesse sentido: “Estamos ajudar e a fazer negócio. Há negócio no interior”, considera. Um outro aspeto passa pela “qualificação permanente da oferta turística”, declara, considerando a “formação” importante, assim como a “melhoria das condições de vida” de quem trabalha no setor. Para isso, Jorge Rebelo de Almeida acredita que a solução passa pela remuneração. “Embora o setor seja aliciante, a gente boa não vem para o setor sem essa remuneração”, precisa.

“Temos de aproveitar a oportunidade”, destaca o administrador do SANA Hotéis Carlos Silva Neves, destacando que, no “futuro, a aposta no setor vai continuar”. Enquanto Grupo, o responsável destaca que o objetivo continua a ser apostar em Portugal, tendo, nos próximos anos, um investimento de 400 milhões de euros para novos projetos. O facto de terem entrado, pela primeira vez, no programa Revive e ter a adjudicação do Quartel da Graça leva o responsável a afirmar que vai permitir criar bons produtos. Mas não se fica por aí: Carlos Silva Neves acabou por anunciar que o grupo tem “novos projetos” e que estão previstas novidades. “Vamos abrir novos dez hotéis, propriedades nossas”, anunciou, indicando que o caminho é “continuar a criar bons produtos e a inovar. No turismo em geral, tenho assistido a uma particularidade muito interessante que é a inovação e o cuidado com os recursos humanos”, afirma, explicando que os atrasos que se verificam nos licenciamentos, muitas vezes, são “uma pescadinha de rabo na boca” quando o assunto é inovação.

A celebrar os 45 anos do Grupo Pestana, o administrador José Roquette começou por destacar o centésimo hotel da grupo nos Estados Unidos da América (EUA) e a experiência muito forte em 15 países. A presença do grupo no estrangeiro é importante, na medida em que “ajuda a fazer comparações e ter referências internacionais”, contribuindo para um “olhar mais rico e completo em relação a  Portugal”. Nesta linha, o administrador não tem dúvidas de que “as unidades mais rentáveis do grupo estão hoje em Portugal”, acrescentando que, ao pensar num curto prazo, os “investimentos mais acessíveis são feitos cá”. Na visão do responsável, estamos no “ponto alto do ciclo. Não vejo razões para pessimismo”, destacando que esta é a hora para fazer um apelo à “lucidez e fidelização”, tendo Portugal uma oportunidade para fidelizar “estes novos clientes que escolherem o nosso país”.

O contexto ainda é favorável ao aumento da oferta? 

Por seu turno António Trindade, presidente do grupo Porto Bay, destaca a importância do reconhecimento entre os “casamentos do setor público e privado”, destacando a importância de que “não podemos viver como pensávamos há dez anos”. O empresário optou por sublinhar a questão da acessibilidade como ponto primário no País, sendo fundamental “alternativas diárias às acessibilidades” em destinos como o Algarve, além de “aumentar a estadias médias das noites”. É por isso importante “preparar a oferta turística” para esse aumento.

Já o presidente do grupo Vila Galé, Jorge Rebelo de Almeida louva o facto de se ter registado uma redução no endividamento das empresas, considerando que existem “alguns investimentos otimistas exagerados” mas sublinha que o setor precisa de ofertas diferenciadoras. Sobre o Alojamento Local (AL), Jorge Rebelo de Almeida é perentório ao afirmar que “temos de cuidar da ‘nossa vida’ para sermos mais competitivos”. Notando que o AL “é um concorrente mas, ao mesmo tempo, estimulante para fazer produtos diferenciadores”. Neste sentido, o responsável destaca o papel fundamental que o AL teve na generalidade dos centros históricos. “Para nós, hoteleiros, é fundamental que os centros das cidades sejam interessantes”, diz Rebelo de Almeida, acrescentando que “temos de ter vida portuguesa nos centros e temos de criar condições para isso”. 

No que toca à captação de turistas, Jorge Rebelo de Almeida considera que,“ a partir do momento em que existe uma oferta melhor e um setor mais profissional, as condições para atrair mais gente já estão em cima da mesa”. O empresário refere que “o boca a boca continua um dos fatores promocionais deste setor” e, desse modo, será possível “captar novos mercados. Há muitos mercados emergentes”. Rebelo de Almeida considera que é necessário uma aposta forte em “mais gente a falar alemão” para ser possível captar este mercado.

Por seu turno António Trindade destaca os “problemas das acessibilidade”, sublinhando que o “transporte faz parte da oferta e da procura”. Apesar de tudo, o presidente do grupo Porto Bay considera ter havido uma “grande evolução com esta abertura destes novos mercados”, além do papel que a TAP e a SATA podem desempenhar no sentido de serem companhias de destino. O empresário considera que este “jogo” de “as acessibilidades se integrarem com a oferta para, em conjunto, se apresentarem ao mercado” é “fundamental para percebermos qual a estabilidade e sustentabilidade que os destinos turísticos portugueses têm para consolidar numa lógica de parceria”, conclui.