Congresso AHP: “Envolvência do setor privado” é um “desafio” para o Algarve

O 30.º Congresso da Associação da Hotelaria Nacional (AHP), que decorreu no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, nos dias 15 e 16 de novembro, teve como objetivo debater o futuro do Turismo em Portugal.

“O desafio do Algarve” foi o tema de um dos painéis do último dia do evento, tentando perceber como olhar para esta região, como a comunicar e como se deve enfrentar os desafios do Brexit. Para João Fernandes, a “oferta” da região “tem de ser requalificada e diferenciadora”. O presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve considera que “estamos a crescer”: “Estamos a falar de uma região que, no ano passado, teve 15 milhões de dormidas de estrangeiros”, refere. Há, portanto, “motivos” para considerar o Algarve como um destino “maduro” e que foi “pensado e desenhado a partir do aparecimento do Aeroporto (de Faro) em 1965”.

O espaço em que a região se insere também mereceu atenção por parte de João Fernandes: “Estamos no Mediterrâneo. É o espaço mais concorrencial deste setor (turismo) no mundo e, ainda assim, continuamos a ter excelentes resultados”.

Apesar dos resultados positivos, o futuro “tem de ser visto como uma preocupação”. O responsável diz que a região deve ter a “capacidade de responder ao longo do ano com diferentes motivações de visita à região”, sendo que já foram destinados “30 milhões de euros para a requalificação da oferta. O setor público já está a introduzir aqui instrumentos que permitam esta capacidade e esta necessidade”. Mas, para o responsável, também é importante “ter uma envolvência por parte do setor privado. Esta estratégia já está definida desde 2013 e continua a ser executada”.

Além disso, “há investidores que querem investir no Algarve”. Basta que se “estruture o portfólio planeado” que isso é o bastante para que haja “mais investidores. “O esforço é grande e quanto a isso não há a mínima dúvida!”, sublinha.

A par dos investimentos na região, é preciso também diversificar mercados. Com o Brexit no horizonte, há a “necessidade de nos reorganizarmos e de nos posicionarmos na nossa oferta com maior captação de valor”. Recorrendo aos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), João Fernandes diz que “não há dúvidas” sobre o aumento das dormidas de turistas oriundos de mercados como o Brasil, Estados Unidos ou Itália na região. “Estão a crescer de forma exponencial em termos percentuais” representando já “100 mil dormidas adicionais até setembro”, afirma. Nesse cenário, “faz todo o sentido” que a TAP direcione alguns voos procedentes dos Estados Unidos, Canadá ou Brasil para o Algarve, tal como “já está a começar a fazer no Porto”.

Para o próximo ano prevêem-se outros desafios como o “abrandamento do crescimento dos mercados britânico e alemão. Como é que compensamos estas realidades?”, questiona o dirigente. Na sua visão, isto só pode ser atenuado se houver “aumento de rotas, novos serviços e novas frequências”, um “trabalho” que já está “a ser feito com os operadores”, conclui.

Investir no Algarve é “pensar num retorno para a vida inteira”

“Há toda uma nova oferta desde a abertura do aeroporto de Faro em 1965”, afirma António Trindade, também orador neste painel. “No mundo do Turismo e na bacia do Mediterrâneo, a oferta é manifestamente superior à procura e, ciclicamente, esta procura vai derivando de um lado para o outro do Mediterrâneo em função de fatores conjunturais”. O CEO do PortoBay Hotels & Resorts considera que um investimento feito no Algarve tem de ser pensado como um “retorno para a vida inteira. É preciso gostar muito do Algarve para fazermos estes investimentos”, diz.

No entender de António Trindade, a lógica de investimento não pode passar apenas pela “requalificação da estrutura física” mas também tem de passar pela própria “estrutura do modelo de gestão. Uma coisa é ter uma perspetiva de saber o que posso fazer a nível de investimento e outra é gerir um investimento”, defende o CEO, que vê os dois termos como campos diferentes. “A requalificação do produto far-se-á, necessariamente, quando houver a perspetiva de poder vir buscar uma maior rentabilidade, inclusivamente dando a gestão a terceiros”, sublinha.

Quanto ao tema “Brexit”, na visão de António Trindade, “atualmente, há mais cidadãos britânicos a voar para fora da União Europeia do que para dentro da União Europeia”. O CEO considera que “os britânicos são fiéis aos destinos”. No entanto, existe um “fator adicional: os nossos grandes concorrentes (Turquia, Egito e Chipre) têm usado a desvalorização monetária para ganharem competitividade”. Inclusivamente, o “Egito adapta a sua própria moeda no fim de uma estação para se adaptar ao nível de pagamentos que é feito durante o Verão”. Para António Trindade, o que pode vir a ser preocupante é “se a libra desvaloriza e é acompanhada pelas moedas “não euro”” e aqui haverá “uma perda de concorrência”, alerta.