Congresso AHP: Indústria da aviação em “game changing”

O Centro Cultural de Viana foi o local escolhido pela Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) para o seu 31.º Congresso. Sob o tema “Portugal – Preparar o amanhã”,  foram convidados vários oradores para debater sobre o setor que hoje se afirma com uma atividade económica fundamental para Portugal e um modo de afirmação da identidade nacional. 

No painel dedicado ao tema “Game Changing: a Transformação da indústria da aviação”, o presidente da Comissão de Estratégia da TAP Air Portugal Diogo Lacerda Machado começou por evidenciar que a companhia de bandeira nacional está num “tempo de mudança”. Considerando ser uma aérea “interessante” no mercado, o responsável destaca que surge em 2015, numa altura em que a empresa estava “ em dificuldades, sem horizonte e não tinha um cêntimo de fundos próprios”. Neste momento, a transportadora está a reinventar-se e a apostar em novos aviões, até porque os anteriores eram “envelhecidos” e “consumidores de combustível”, recorda o responsável, destacando que não existia possibilidade de investimento. “Aquilo que se foi fazendo foi criar essa possibilidade”, explica. Atualmente, a empresa “desempenha a função primordial que tem para Portugal e para a economia portuguesa”, declara Lacerda Machado. O responsável não tem dúvidas de que, no futuro, o “dono da TAP será o Estado Português”, acrescentando que o que aconteceu do “ponto vista estratégico” foi a “vontade coletiva do Estado e da defesa do interesse geral”, sendo possível, através de uma reconfiguração, “casar virtuosamente os interesses privados com os interesse públicos. Foi possível trabalhar o processo de transformação que a TAP necessitava para sobreviver e poder preparar o seu futuro”, estando agora “à altura” para enfrentar o “momento de transformação” a que se assiste no setor. “Hoje, a TAP suscita a atenção dos seus colegas e competidores”, realça Lacerda Machado, acrescentando que tem a “capacidade para fazer as suas próprias escolhas sobre o futuro”. Na visão do responsável, os próximos tempos serão de “ganhar dinheiro sustentavelmente”, ao contrário do que se sucedeu em anos anteriores. “Nos últimos 45 anos, a TAP teve dois anos de resultados positivos e 43 de perdas”, exemplifica.

Apesar de tudo, “a aviação é um negócio de margens baixas”, declara Lacerda Machado. Desde logo, “os combustíveis, na sua relativa imprevisibilidade, oscilam”, tornando o setor “muito trabalhoso” e imprevisível. “Temos de esperar que o nevoeiro não atrapalhe o congestionado aeroporto de Lisboa” e que “não atrapalhe uma operação por inteiro”, exemplifica, acrescentando que os “cancelamentos de aviões” causam “irregularidades desgraçadamente caras”, sublinha o responsável.

“A TAP não vai mais a sítios para perder dinheiro”

Relativamente à presença da TAP em Faro, o responsável destaca que a companhia passou, em 2018, de uma oferta de 279 mil assentos para 400 mil este ano”, tendo aumentado 43% o número de lugares oferecidos a partir de Faro. No entanto, o responsável sustenta que a “TAP não vai mais a sítios para perder dinheiro”, indicando ser “uma oferta que cresceu muito significativamente”, mas  “tenho dúvidas que faça sentido acrescentar muito mais”. 

Já sobre o Funchal, a companhia aérea de bandeira nacional “aumentou, ao longo deste ano, em 100 mil assentos a oferta para a Madeira”, afirma o responsável, destacado que a ilha tem uma uma “enorme importância em termos de receita”.

Em jeito de conclusão, Machado Lacerda destaca que a TAP Air Portugal “cumpre os compromissos estratégicos que foram estabelecidos”, continuando a ser portuguesa, a criar em emprego e a cumprir “a função de ligação com o mundo. Com as linhas de Faro e da Madeira, a TAP ganha”, conclui. 

“A aviação bem gerida pode ter margens elevadas”

A easyJet fechou o ano fiscal com um “lucro de 427 milhões de libras”, começa por destacar o country manager da easyJet para Portugal José Lopes, não tendo dúvidas de que “a aviação bem gerida pode ter margens elevadas”. Em Portugal, a companhia low cost ultrapassou pela primeira vez a “barreira dos 7 milhões de passageiros”, devendo-se, “em muito, ao trabalho dos hoteleiros”, tornando-se “muito fácil vender Portugal como destino num ano difícil”, acrescenta o responsável. O responsável vai mais longe e afirma que a companhia teve um “crescimento duas vezes superior ao crescimento do mercado”, ressaltando que “vamos continuar com este modelo económico forte e sustentando”, acreditando que “iremos continuar a crescer e a trazer crescimento”.

Embora haja uma necessidade cada vez maior de os “modelos terem de se adaptar”, José Lopes acredita que o “nosso modelo funciona em alturas de crise e bonança”. Relativamente ao modelo económico low cost na Europa, o responsável indica que “é um modelo de expansão”, acrescentando que “há muito para crescer” havendo muito mercados para desenvolver como é o caso de Portugal. Aliás, o objetivo da easyJet no mercado português é o de “duplicar a quota de mercado. Acreditamos que na Europa é onde “existem players”, sendo expectável que “continue haver este processo de consolidação”. A visão do responsável é de que os “players mais fracos vão continuar a fechar portas”, abrindo espaço para que “os mais fortes continuem a crescer e a oferecer um bom produto aos passageiros”. Para o responsável, é “muito importante” conhecer os mercados e, neste campo, a easyJet é a “única companhia pan-europeia,” operando com base por toda a Europa. Embora traga “alguma complexidade ao nosso modelo”, José Lopes acredita que “é uma forma de estar em cada um destes países” contratando localmente e seguindo as regras de cada país, contribuindo para a criação de emprego e para o desenvolvimento das economias locais.

Relativamente ao norte de Portugal, o responsável salientou que a easyJet conseguiu de “forma muito clara” proporcionar aos emigrantes uma ligação entre os seus países de trabalho com os de origem. “Graças à companhia, muitos deles passaram a vir de forma mais frequente visitar os familiares”, declara o responsável, acrescentando que esta é uma aposta a manter-se. Em Portugal, a “aposta é a mesma”, avança, destacando que o objetivo é “continuar a crescer de forma sustentada, passo a passo e de mão dada com os players do turismo do país”, de forma a “continuar a trazer um impulso maior para o setor”. Face ao processo de retoma de investimentos nas infraestruturas aeroportuárias, José Lopes acredita que, muito em breve, “esperamos crescer com maior pujança” num País que, na rede da easyJet, “cresce mais do dobro do que a média” da companhia.

EasyJet: “Não operamos para perder dinheiro”

Enquanto empresa privada, a easyJet tem como objetivo principal “maximizar o lucro para o seu acionista. Não operamos para perder dinheiro”, sublinha o responsável, acrescentando que em todos os aeroportos em que a companhia opera, “somos rentáveis”. Sobre as ligações para Faro e Funchal, o responsável sublinha que são “operações extremamentes interessantes e rentáveis”, ressaltando que o crescimento nestes dois destinos é para continuar. “Deixem-nos assim continuar a operar naquela região autónoma e não nos queiram expulsar como aparentemente alguns políticos nos queriam fazer”, declara o responsável. José Lopes destaca que a easyJet pretende “diversificar rotas”, reforçando França e Itália, com o objetivo de “trazer cada vez mais benefícios” para as regiões de Faro e da Madeira que são “dependentes de mercados exteriores”.