Congresso AHP: Norte ainda tem “grande potencial para crescer”

“Crescer a Norte” foi o tema do quinto painel do 31.º Congresso Nacional da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) que terminou na passada sexta-feira, em Viana do Castelo. “Como encaram os empresários o crescimento atual e o potencial na região Norte? O que falta fazer?” foram algumas das questões levantadas ao longo do debate.

Sobre “projetos em marcha” na região, o CEO da Douro Azul, Mário Ferreira, começou por destacar que “faltam às aldeias e regiões da cidade prepararem-se para receber” turistas. O responsável afirma que, neste momento, estão a preparar os cruzeiros de Natal noutros países da Europa. “Ao contrário de Portugal, nos principais rios do mundo, as barragens não fecham” pelo que “nos permite preparar os Christmas Cruises”. Nestes “tours” natalícios, que passam pela Alemanha, Áustria e vão até à Roménia, Mário Ferreira sublinha que as aldeias estão preparadas com “luzes de natal, mercados e outros produtos” para receber turistas. Enquanto “meio de transporte”, a Douro Azul “capta e traz pessoas” mas “não podemos fazer tudo”, declara, acreditando que “é preciso saber captar novos recursos” que, “infelizmente, no país, tem sido um processo muito lento”.

É notável a “disparidade” que existe no Douro entre o “volume, intensidade e qualidade” de clientes, sendo fundamental a “muitas quintas terem uma estrutura” que responda às “necessidades dos mercados”, explica Mário Ferreira. Para o responsável, esta questão tem solução, exemplificando o caso da Sogrape que, “através de reuniões” com a Douro Azul, soube “ajustar-se” às prioridades dos turistas, oferecendo experiência diferentes e com valor. Sobre as regiões menos densas, o CEO da Douro Azul sustenta que “há muito sítios onde existem vilas e aldeias com gente suficiente para investir em projetos interessantes”, notando que, neste caminho, “há uma pequena evolução”.

Embora o Porto tenha vivido “períodos” de transformação nos últimos 10 anos, Mário Ferreira refere que “ainda existem muitas ruas abandonadas”, pelo que “há muito espaço para reabilitar. Estamos longe de ter a cidade como ela devia estar”, acrescenta.

“Não nos podemos esquecer que, quando o Turismo aparece no Porto, a cidade estava deserta”, afirma Paulo Garcia da Costa, founder do Vila Foz Hotel & Spa, destacando que foi “o investimento de muitos empresários privados” e da Associação do Turismo do Porto, com uma “forte promoção externa”, que permitiu trazer à Invicta “este movimento”. Para o responsável, é “injusto” que, após os investimentos e esforços que deram “vida” à cidade, se afirme que “há um excesso de turismo”, acreditando que será o mercado a encontrar o “ponto de equilíbrio” no momento em que as “pessoas se sentirem bem onde estão”.

Na visão de Bernardo D´Eça Leal, founder & managing partner do The Independent Collective, o potencial do turismo deve-se em muito à “democratização e acessibilidade das passagens aéreas”, levando aos “números e crescimentos” a que se assiste hoje. O responsável perspetiva uma tendência pelo “original”, na qual os empresários têm de ter essa noção, marcando pela diferença. Comparando com Lisboa, que “já dispõe de outros fatores de atratividade e novas formas de viver”, Bernardo D´Eça Leal acredita que o Porto “tem à sua volta um conjunto de ofertas muito interessantes” para que tal se suceda, acrescentando que a “aposta em fatores de promoção e novidade” deve continuar. Desde a génese do The Independent Collective, o objetivo passava por ser um “grupo e uma referência em hospitalidade criativa”, explica o responsável, acrescentando que a ideia foi “pegar em destinos e edifícios que tivessem um potencial e abri-los à cidade”, trazendo a comunidade para “dentro do próprio edifício”, criando uma “integração com a comunidade local”.

Do lado do enoturismo, o chief sales & marketing officer da Sogrape, João Gomes, refere que a atividade também “veio a ganhar uma importância crescente”, afirmando que o enoturismo “constitui-se como uma ferramenta fundamental de criação de marca”. O responsável considera que, havendo uma “janela de oportunidade para inovar”, isso constitui um “motivo adicional para que a atividade contribua para a construção das marcas”.  O vinho, sendo um dos produtos mais associados ao produto turístico, é o que “mais poder tem para valorizar uma experiência e para acrescentar valor à mesma”, contribuindo para fazer a “ponte entre os bens culturais, que são o grande fator de diferença”, fazendo-o através de uma “experiência prazerosa”.

O impacto da atividade do enoturismo assenta em vários pontos dos quais João Gomes evidenciou o “estimular a existência de recursos” e o “fixar as populações na região do interior”. O responsável perspetiva que “vamos passar por um período de excesso de procura” que irá beneficiar o desenvolvimento dessa regiões. Cerca de “10% dos turistas são atraídos pelo vinho” pelo que há “um grande potencial para crescer. Temos um trabalho monumental para fazer”, sustenta

“A questão dos conteúdos é fundamental” 

A “falta de conteúdo” nas regiões foi um dos desafios mais evidentes no debate. Para Mário Ferreira, “há falta de ideias”, apelando para “novos conteúdos”. Como exemplo de um passo a dar, o empresário destacou a iniciativa de “reuniões” com a Douro Azul, de modo a serem construídas “estruturas” que contribuam para experiências diferentes. 

Numa mesma ótica, Paulo Garcia da Costa sublinha a importância em “adaptar a nossa oferta àquilo que o hóspede quer”, acrescentando que dentro das cidades e das regiões se deve perceber qual a “sensibilidade” do cliente, desenhando o pacote oferecido à medida de cada um. A aposta do Vila Foz Hotel & Spa foi na “restauração” e na “promoção dos sabores e dos vinhos portugueses”, sendo algo que já faz parte do ADN do grupo.

Já Bernardo D´Eça Leal acredita que as unidades devem servir como parte do destino, proporcionando uma “troca de experiências” entre a comunidade e os locais. Contra a ideia de que o turismo é algo “negativo”, o responsável declara que há “muitas oportunidades” na atividade e cada vez mais “interesse internacional” em trazer ideias inovadoras com produtos diferentes. “De facto, vão ajudar a transformar o setor em algo diferente com outro tipo de oferta”, considera, traduzindo-se “igualmente em mais conteúdo”.

“A questão dos conteúdos é fundamental”, sublinha João Gomes da Silva, acrescentando que as pessoas “querem experiências diferentes”. A única forma de tornar as experiências “diferentes” é serem “muito difíceis de replicar”, afirma, construindo-se “produtos únicos” mas fazendo a um “preço que valorize aquilo que se está a fazer”.