Pedro Siza Vieira, ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital concorda com o repto lançado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na abertura do 46º Congresso da APAVT, que termina hoje em Aveiro, em que devem ser clarificadas politicamente algumas temáticas que podem impactar o desenvolvimento económico do país, como o aumento da infraestrutura aeroportuária de Lisboa, mas também relembra que a TAP faz parte dessa equação.
Para o responsável, que também participou no Congresso da APAVT, “é lamentável a incapacidade de tomarmos uma decisão pura e simplesmente que tem de ser tomada” sobre o novo aeroporto para a região de Lisboa. Indica o orador que “há sempre prós e contras numa decisão que tem de ser tomada. Qualquer das opções tem prós e contras, agora esta incapacidade de tomarmos uma decisão onde alguns setores acham que ainda há aspetos desfavoráveis, é lamentável”. Acrescenta ainda que “já cheguei a perder a esperança de alguma vez termos a capacidade de aumentar a infraestrutura aeroportuária na região de Lisboa, porque os lisboetas não se sabem entender entre eles. É complexo que no sistema político não fossemos capazes de tomar uma decisão básica que é esta: nós precisamos mesmo de um novo aeroporto. É incontestável que precisamos de aumentar a capacidade aeroportuária em Lisboa”. Para o ministro da Economia, no âmbito desta situação “há uma coisa muito crítica, o tempo tem um valor cada vez maior. Espero que uma das vantagens destas eleições seja que o sistema político seja capaz de responder ao apelo do Presidente da República, que fez há dois dias atrás, neste palco: entendam-se sobre o que querem fazer do aeroporto. Porque se houver consenso político, as decisões tornam-se possíveis”. Considera ainda o interlocutor que “foram anos perdidos nesta matéria e espero vivamente que sejamos capazes de inverter esta situação tão rapidamente quanto possível”.
TAP
Relativamente à TAP, Pedro Siza Vieira indica que esta “é das empresas mais críticas para o nosso desenvolvimento coletivo, não tenho dúvida nenhuma e vou fundamentar a opinião”. Mas antes, indica, “direi que não vale a pena termos um aeroporto muito significativo se não tivermos TAP. Porque uma coisa que tenho muito claro é que o movimento aeroportuário cresceu em Lisboa porque a TAP cresceu. O crescimento da TAP é que também motivou que outros operadores tivessem vindo para Portugal”.
Sendo assim, e justificando a importância da companhia aérea para o país, considera o ministro que “não falo do ponto a ponto europeu, que conseguimos cobrir com companhias de curto alcance. Mas aquilo que é a conectividade intercontinental não existiria em Lisboa se a TAP não tivesse o seu hub. É absolutamente crítico para mantermos esta ligação ao mundo que tenhamos uma companhia que faz o seu hub no aeroporto de Lisboa”. O orador relembra que “é isso que nos permite também viver num mundo onde a conectividade internacional, não só para o turismo, é absolutamente crítica. Estamos na ponta da Europa. Devíamos pensar em nós mais como uma ilha do que propriamente como um país intercontinental”. E relembra que 95% das pessoas que chegam ou saem de Portugal fazem-no por via aérea. Ou seja, “precisamos mesmo desta ligação, porque é essencial para a centralidade que queremos, para a capacidade de atrair investidores estrangeiros, grandes eventos, entre outros. Podemos vir das Américas, de África ou Ásia, diretamente para Lisboa, se não tivermos um aeroporto em que haja uma companhia de grande ligação na melhor das hipóteses seremos um aeroporto secundário de um hub grande em Madrid. Isso cria-nos uma grande dificuldade estratégica”.
O ministro da Economia acrescenta que se o grande problema de Portugal nos últimos séculos foi o défice acumulado, que se reflete na divida externa, não se deve esquecer que a TAP, só por si, representou em 2019 um contributo positivo para a balança comercial do país e quase 2% do PIB. “Sempre que um americano vai da costa Leste dos EUA para Roma ou Atenas num voo da TAP é uma exportação que o país faz. Sempre que um português vai para o Brasil ou para Angola e usa a TAP estamos a manter o valor em Portugal, se assim não fosse era uma importação que o país fazia. Desaparecer uma companhia com as características da TAP tinha um impacto imediatamente negativo na nossa balança comercial, PIB e balança externa”, acrescenta.
Quanto ao processo de reestruturação em curso, Pedro Siza Vieira explica que “todos os estados do mundo fizeram grandes apoios às suas companhias aéreas durante a crise da Covid. A uma indústria que estava completamente parada e que é muito pesada”. Para o responsável do Governo, “a ideia que temos é de preservar esta capacidade instalada para quando houver recuperação ela poder responder. O esforço que estamos a fazer na TAP deve ser visto como um investimento que todos estamos a fazer num ativo estratégico para o país. Se nos víssemos privados dele provavelmente iriamo-nos lamentar mais tarde. Mas, tal como no passado nos arrependemos de ver desaparecer algumas empresas importantes para o nosso futuro coletivo. se deixássemos agora a TAP morrer. isso era uma perda muito grande para o país, daqui a uma década iríamos entender.”
Relativamente ao desenvolvimento da ferrovia, Pedro Siza Vieira considera que “mesmo que decidíssemos fazer uma ligação de Alta Velocidade para Madrid, demoraríamos muitos anos até estar a funcionar. É pior que o aeroporto, demora muito tempo a decidir, a planear, a fazer aprovações ambientais, projetos de execução, a pôr em execução, a reunir a capacidade de operação… Estamos a falar de um projeto para uma década, entre o momento que se decide e aquele que começa a funcionar”.
Indica o responsável que “tenho tido grandes discussões no Conselho da Competitividade que reúne os ministros da Economia da União Europeia a propósito do pacote Fit For 55 que é basicamente aquela proposta da Comissão Europeia sobre como os vários setores devem reduzir os seus níveis de emissão de gases com efeito de estufa e aquilo que está em causa no transporte aéreo”. Mas, para o ministro, “não há alternativa ao transporte aéreo, a não ser que estejamos no centro da Europa. A minha grande convicção é que vamos ver na próxima década aviões que vão ser muito menos agressivos para o meio ambiente”. Sendo assim, o responsável acredita que “a forma de o nosso mundo combater as alterações climáticas não é regredindo, não é cortando no consumo ou no nível de conforto que proporcionamos à população mundial, é mesmo pela aceleração nas transformações tecnológicas que nos vão permitir ter modelos de funcionamento com tecnologias mais amigas do ambiente. Isso também vai acontecer no transporte aéreo”.