CongressoAHP2024: “Apelamos às principais instituições financeiras públicas que sejam instrumentos ao serviço da economia e do turismo”
Esta foi uma das mensagens que Bernardo Trindade, presidente da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal, quis passar no seu discurso de abertura do 34º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, que começou ontem, dia 21 de fevereiro, no Funchal. A questão surge porque o dirigente associativo quis recordar que, se é verdade que “Portugal liderou o crescimento na União Europeia e esse crescimento teve uma impressão digital chamada turismo”, um crescimento sentido em todas as regiões e setores turísticos, com as receitas turísticas a atingirem os 25 mil milhões de euros em 2023, também é verdade que “continuamos com muitos desafios pela frente”.
E, tal como Bernardo Trindade já tinha afirmado numa entrevista dada à Ambitur, um desses desafios é a conta de exploração das empresas do turismo. Isto porque, sendo a hotelaria um setor de capital intensivo, “assistimos a um aumento substancial dos encargos financeiros”. E explica que o controlo inflacionista do BCE, motivado pela guerra na Ucrânia, levou ao aumento significativo das taxas de juro de referência e, consequentemente, os encargos das empresas hoteleiras duplicaram, “os resultados da banca também, com o aumento da sua margem financeira, tudo isto sem alterar o nível de risco, apenas pelo efeito automático do aumento das taxas de referência”.
“apelamos aos maiores partidos políticos neste período de pré-campanha – tal como já o fizemos nos dois almoços promovidos pela CTP – para que as instituições financeiras públicas sob responsabilidade do Estado, o Banco Português de Fomento e a Caixa Geral de Depósitos, sejam instrumentos ao serviço da economia e do turismo”
E é neste sentido que o presidente da AHP afirma que, para que este efeito possa ser corrigido já em 2024, “apelamos aos maiores partidos políticos neste período de pré-campanha – tal como já o fizemos nos dois almoços promovidos pela CTP – para que as instituições financeiras públicas sob responsabilidade do Estado, o Banco Português de Fomento e a Caixa Geral de Depósitos, sejam instrumentos ao serviço da economia e do turismo”. Como? O responsável explica: “procurando desenhar instrumentos financeiros adequados às necessidades do setor em articulação com o Turismo de Portugal”. E aqui Bernardo Trindade é perentório: “qualquer outra agenda não nos serve”.
Outra temática abordada pelo dirigente associativo no seu discurso relaciona-se com a mão-de-obra imigrante que, entre 2015 e 2023, passou de 3% para 15% em Portugal. Dados da Segurança Social dizem-nos que, hoje, são já mais de 720 mil os trabalhadores imigrantes no nosso país e, destes, 115 mil estão no setor do turismo. Para Bernardo Trindade, é fundamental dignificar as pessoas que escolheram Portugal e as suas regiões para viverem e trabalharem. “O nosso futuro coletivo será construído com estas pessoas”, frisa, sendo que, por isso, “temas como a qualificação, a habitação, os transportes têm de merecer uma atenção de todos nos”.
só em 2023, segundo a ANA Aeroportos, “recusámos o equivalente a 1,3 milhões de lugares de avião, de companhias intercontinentais, transportando clientes de alto valor aquisitivo”
O tema Aeroporto de Lisboa também não passou ao lado do discurso do presidente da AHP neste 34º Congresso, referindo que a procura em Portugal “está condicionada” e “há muito tempo”. E apontou que só em 2023, segundo a ANA Aeroportos, “recusámos o equivalente a 1,3 milhões de lugares de avião, de companhias intercontinentais, transportando clientes de alto valor aquisitivo”. E não deixou de lamentar o facto de Comissão Técnica Independente responsável pelo relatório sobre a localização do novo aeroporto não ter tratado “com a mesma dignidade as respostas a curto e médio prazo que Portugal tem de dar em termos de acessibilidades”.
Falando também em aeroporto, mas desta vez da Madeira, Bernardo Trindade alertou para um tema já recorrente, o dos ventos neste aeroporto, “causador de enormes prejuízos a toda a cadeia do setor – dos aviões aos hotéis, restaurantes e serviços, afetando inclusivamente a reputação da Madeira”. Admitindo saber que os equipamentos estão neste momento a ser produzidos e que serão colocados no terceiro trimestre de 2024, para se iniciar a posterior recolha de dados, “não podemos lamentar todo este inacreditável atraso.
“a AHP inclina-se para uma taxa regional (na Madeira), que permita a distribuição equitativa entre todos”
Por fim, o responsável da AHP fez questão de abordar a situação da taxa turística na Madeira, sublinhando desde logo que “a AHP é por princípio contra a banalização das taxas turísticas”, defendendo um caminho de diminuição da burocracia, dos encargos fiscais e contributivos. No entanto, acrescenta, se a decisão de criação da taxa na Madeira se confirmar, “a AHP inclina-se para uma taxa regional, que permita a distribuição equitativa entre todos”. E o modelo de governação e decisão sobre o destino a dar às verbas deve assim contar com representantes dos empresários da hotelaria, indica.
Por Inês Gromicho, no 34º Congresso da AHP, no Funchal