No terceiro dia do 47º Congresso da APAVT, que decorreu entre 8 e 11 de dezembro, em Ponta Delgada, a “Diversificação de produto, novos mercados, mais território” foi tema de mais um painel. Catarina Valença, fundadora da Spira, empresa que trabalha com património cultural, começou por dizer que, em Portugal, “esta área é muito empobrecida do ponto de vista da estratégia”.
A verdade é que o património cultural se encontra muito bem distribuído pelo país, incrementando o seu potencial de âncora de desenvolvimento. “Temos ativos estratégicos, recursos endógenos, matéria-prima no interior do país por explorar”
A responsável fez uma análise do valor do património cultural nacional e apontou a existência de 38 mil bens patrimoniais imóveis, 4575 dos quais património classificado, 1000 classificados como monumento nacional e 17 como património da humanidade. Esta é, segundo a oradora, “a mais alta distribuição por habitante de classificação de património da humanidade”. A verdade é que o património cultural se encontra muito bem distribuído pelo país, incrementando o seu potencial de âncora de desenvolvimento. “Temos ativos estratégicos, recursos endógenos, matéria-prima no interior do país por explorar”, alertou Catarina Valença.
Mas a realidade é que do total de 4575 monumentos classificados, apenas cerca de 250 estarão abertos ao público, originando cerca de 20 milhões de visitantes e gerando uma receita estimada de 60 milhões de euros em bilhética. Estimativas pois “há uma aversão aos números na área da cultura”, lamenta a representante da Spira.
Portugal “é o único país da Europa sem uma estratégia nacional de património cultural”, algo que “nunca teve”
Mas quais os constrangimentos com que nos deparamos para que este património possa ser aproveitado? Catarina Spira começa por dizer que Portugal “é o único país da Europa sem uma estratégia nacional de património cultural”, algo que “nunca teve”. E a visão do Estado é que “o património é nosso”, algo que também não encontra correspondência em mais nenhum outro país europeu. Além disso, diz a oradora, não há uma visão da economia de serviços, frisando que “quando isso acontecer, este ativo poderá ser efetivamente explorado
pela sociedade civil, por privados”.
Por outro lado, o país tem a taxa mais baixa da Europa a nível a frequência de visitação de monumentos, o que contrasta com o indicador de que tem a taxa de orgulho mais alta em relação aos mesmos. “Somos os maiores mas não queremos saber”, critica, acrescentando que a maior parte das pessoas considera mesmo que a responsabilidade deve ser do Estado.
56 milhões de visitantes, um emprego por cada 25 mil visitantes/ano, um aumento de 3,4% das dormidas por município e 224 milhões de euros de receitas, apenas de bilhética
Mas “há um potencial muito significativo por explorar”, recorda Catarina Valença, com visitantes distribuídos equitativamente pelo país, e privilegiando o interior do país. Quanto poderia então gerar o património cultura, se fosse efetivamente explorado e se os 4575 monumentos classificados estivessem de portas abertas? A responsável aponta: 56 milhões de visitantes, um emprego por cada 25 mil visitantes/ano, um aumento de 3,4% das dormidas por município e 224 milhões de euros de receitas, apenas de bilhética.
Quem medidas devem então ser tomadas? Primeiro, diz a responsável da Spira, “mudar esta perspetiva de ser um bem sob tutela, passar a ser um bem coletivo, estratégico, com a participação de todos na sua gestão” e, nesse caso, “o Estado teria como missão garantir que este bem chega às pessoas da melhor maneira possível”. Esta estratégia nacional de património cultural deveria apostar numa gestão de proximidade, assente em parcerias, também público-privadas, apontando para o interior. Medidas de política pública de promoção do escoamento do tráfego turístico, a certificação de produtos de turismo cultural e paisagístico e ainda a adaptação e implementação de formação de nível IV na área, defende Catarina Valença.
Por Inês Gromicho, no 47º Congresso da APAVT.
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