Conselheira Ambitur: “A tendência será a adoção dos eventos em formato híbrido”

Maria João Rocha de Matos, diretora geral da FIL e do CCL, é a nova Conselheira Ambitur e procura dar o seu contributo como especialista na área da Meetings Industry, na qual trabalha desde que assumiu a direção do CCL em 2004 e, com a acumulação com a FIL em 2010. Saiba qual a sua visão relativamente aos temas questionados.

Que fatores/tendências europeias/ mundiais identifica e que parecem ser necessárias que os empresários nacionais acompanhem?
No contexto em que vivemos, com grandes restrições na mobilidade e no convívio entre pessoas, a grande tendência que se verifica a nível global e em todos os aspetos da vida das pessoas, é a adoção generalizada dos meios digitais. O turismo acompanhou esta tendência. Na comunicação, na promoção e na realização de eventos.

Na área da MI (Meetings Industry), a maior parte dos eventos que se realizaram a partir de março tiveram um formato exclusivamente digital. A realização dos eventos em formato digital tem vantagens, como por exemplo, a expansão das audiências para novos públicos e novos mercados. No entanto, e como foi largamente reportado por diferentes organizadores internacionais de eventos, os eventos digitais não conseguem reproduzir aquela que é a característica mais valorizada pelos participantes nos eventos: o networking. Também se verificou que o engagement dos participantes com oradores, patrocinadores e expositores no evento é muito mais diluído. Ou seja, os eventos digitais não são um substituto o F2F (Face to Face).

Por outro lado, os rendimentos gerados num evento digital são substancialmente inferiores aos gerados pelos eventos físicos, pelo que a sua rentabilidade para o organizador também é muito menor. Outra característica dos eventos exclusivamente digitais, que não é de menor importância, é que os eventos digitais não têm qualquer impacto na indústria do turismo.

Pela análise que fizemos na nossa organização, Lisboa-FCE / CCL e FIL, a tendência será a adoção dos eventos em formato híbrido, que assumem as duas componentes: uma componente digital, que permite o alargamento de audiências a participantes que, por diversos motivos, não podem ou não querem deslocar-se ao destino onde se realiza o evento, e uma componente física, com participantes físicos, que permitirá o tão humano F2F, o networking, o engagement produtivo e o desfrute do destino onde o evento se realiza.

Tal como acontece na Lisboa-FCE, outros empresários nacionais deste setor já estão fazer o seu caminho neste sentido.

Num contexto geoestratégico, e falando de turismo, com o atual contexto de pandemia, como se deve Portugal enquadrar/posicionar?
No atual contexto de pandemia, resolvidas as questões relacionadas com a mobilidade, a palavra/conceito fundamental para a retoma da atividade do turismo é confiança. Neste caso, confiança de que Portugal assegura a existência de todas as condições, de higiene, saúde, segurança, …, para o gozo de uma experiência positiva, desde que o visitante sai do avião até que volta a entrar.

Confiança é uma palavra/conceito positiva que, construindo a partir do reconhecimento, notoriedade positiva, prémios e ratings internacionais que Portugal e os seus destinos têm vindo a receber nos últimos anos, pode fundar uma narrativa positiva sobre as características do nosso país e a diferente oferta que temos de norte a sul e nas regiões autónomas. E não esquecer que Portugal é, segundo o World Peace Index, o terceiro país mais seguro do mundo, o que nos coloca numa posição de vantagem mesmo dentro da Europa.

Parcerias internacionais por parte das empresas turísticas nacionais é um caminho a seguir?
A adoção de parcerias internacionais é um caminho a seguir ou não conforme os objetivos e a estratégia definidos por cada empresa.

No nosso caso, é um caminho que já vimos a seguir há anos e com resultados positivos. Refiro como exemplo os Leading Centres of Europe, aliança que agrupa 10 dos maiores centros de congressos da Europa, todos de países diferentes, criada com objetivo de partilha de conhecimento e estratégias, bem como de uma abordagem conjunta ao mercado. Esta aliança tem-nos permitido um melhor reconhecimento e posicionamento perante clientes e parceiros, o acesso a novos clientes e um crescimento do nosso know-how através da partilha de tendências, modelos de atuação, etc.

Outro caminho, mais informal, de presença nos mercados internacionais, é a participação em organizações internacionais do setor de forma ativa, isto é, contribuindo para o desenvolvimento da própria organização através, por exemplo, da participação em grupos de trabalho ou outras atividades.

Face à importância dos mercados internacionais na estratégia da Lisboa-FCE, este são dois dos caminhos adotados na prossecução dessa estratégia.

Nota: A Ambitur conta, desde março de 2020, com um conjunto de Conselheiros que partilham connosco as suas visões sobre questões da atualidade no setor do Turismo. Os nossos Conselheiros Ambitur são, neste momento: Jorge Rebelo de Almeida (CEO da Vila Galé), José Theotónio ( presidente da comissão executiva do Pestana Hotel Group), Manuel Proença (presidente do Grupo Hoti Hotéis), Miguel Quintas (CEO do Consolidador.com), Frédéric Frère (CEO da Travelstore), Vítor Filipe (presidente da TQ Travel Quality e ex-presidente da APAVT), Raul Martins (presidente da AHP e do conselho de administração do Grupo Altis), Francisco Teixeira (CEO da Melair Cruzeiros), Luís Alves de Sousa (sócio gerente do Hotel Britania e ex-presidente da AHP), Bernardo Trindade (administrador do PortoBay Hotels & Resorts e ex-secretário de Estado do Turismo), José Lopes (diretor da easyJet em Portugal), Eduardo Jesus (secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira), Francisco Pita (CCO ANA Aeroportos), José Luís Arnaut (presidente-adjunto da Associação Turismo de Lisboa), Cristina Siza Vieira (presidente executiva da AHP), Mafalda Bravo (Country Manager Portugal Ávoris) e Maria João Rocha de Matos (diretora geral FIL e CCL).