Conselheiro Ambitur: “A história do aeroporto ainda vai ter que passar mais alguns capítulos”

O Governo liderado por Luís Montenegro anunciou a localização do novo aeroporto de Lisboa, recaíndo a escolha sobre Alcochete. Ambitur quis ouvir os Conselheiros sobre esta decisão e de que forma afeta o turismo em Lisboa e Portugal. Miguel Quintas, CEO do Consolidador.com e presidente da ANAV – Associação Nacional de Agências de Viagens, deixa-nos a sua visão.

Depois da última década de anúncios sobre um novo aeroporto para a região de Lisboa, a atual decisão do Governo parece-lhe definitiva? Que passos se seguem?

Acreditando que a decisão política é definitiva pois teve apoio de ambos os partidos do arco governamental, temo que ainda falte algum caminho a percorrer, nomeadamente no que diz respeito a procedimentos administrativos, legais, ambientais, lobbies, impactos de imagem política, entre outros. Por tradição, Portugal tem uma longa história de criação de obstáculos a tudo o que são grandes obras, ou produtos com visibilidade mediática. Ao progresso normalmente responde-se com alguma reserva e inveja, neste país.

Portugal tem uma longa história de criação de obstáculos a tudo o que são grandes obras, ou produtos com visibilidade mediática.

O que pode representar o novo aeroporto para a região de Lisboa em termos de novos investimentos turísticos?

Um aeroporto traz, por definição, um crescimento em todos os setores da economia (primário, secundário e terciário). No caso do turismo não é diferente. Veremos que as difíceis decisões dos empresários na construção de mais e melhor oferta turística serão facilitadas pela segurança de um incremento de turistas resultantes de um novo e maior aeroporto. Em particular, diria que a hotelaria liderará este processo de crescimento no nosso setor.

Sempre que se disponibilizam as infraestruturas exigidas para trabalhar, o setor do turismo agradece e retribui, multiplicando os investimentos em ganhos económicos para o País

Poderá haver um crescimento considerável de turistas para Lisboa com a nova infraestrutura? Ou ainda é cedo para prognósticos?

Os turistas pertencem, em primeiro lugar, a quem promove o País. Se quem promove o País tem a noção clara que existe uma melhoria substancial da capacidade de receber turistas, quer no aspeto quantitativo, quer no qualitativo, não tenho dúvidas que iremos crescer no turismo. Sempre que se disponibilizam as infraestruturas exigidas para trabalhar, o setor do turismo agradece e retribui, multiplicando os investimentos em ganhos económicos para o País. O novo aeroporto é um desses casos gritantes.

O TGV pode vir ainda a ser uma longa história de amor, de interesses e desinteresses entre lobistas, políticos, ecologistas e empresários.

O TGV Lisboa-Madrid é uma das peças do puzzle que faltava para uma maior acessibilidade dos mercados europeus a Portugal?

Não creio que o TGV seja relevante para a ligação de Portugal à Europa. Acredito que possa ser relevante para a ligação a Madrid. Numa perspetiva economicista, ter-se-á que fazer as contas sobre a sua importância para Portugueses e Espanhóis e chegar a um acordo sobre quem paga o quê. Por outro lado, e não menos relevante, as futuras diretrizes de sustentabilidade emanadas pela União Europeia podem ter uma palavra a dizer sobre este investimento e o do novo aeroporto. Esta é também uma das razões por que acredito que a história do aeroporto ainda vai ter que passar mais alguns capítulos. O TGV pode vir ainda a ser uma longa história de amor, de interesses e desinteresses entre lobistas, políticos, ecologistas e empresários. Veremos.

Para a continuação do desenvolvimento turístico nacional que outros pontos chave são importantes ao nível de decisão do Governo?

Três pontos fundamentais: Desburocratização. Estabilidade legislativa. E ouvir o setor. É isto que pede o turismo em Portugal. É isto que pedem as associações de turismo. E é isto que pedem os empresários do setor. O caso do Aeroporto é um exemplo evidente disto mesmo.