Conselheiro Ambitur: A tendência de escolher locais com menos gente “vai favorecer Portugal”

Empresas e profissionais começam já a tentar desenhar a realidade que o país (e o mundo) viverá no retomar gradual das atividades económicas. Ouvimos Raul Martins, presidente da AHP e presidente do conselho de administração do Grupo Altis, partilha com a Ambitur algumas perspetivas sobre o que irá passar-se num futuro próximo.

O fator medo condicionará as viagens num curto prazo, ou será o inverso, depois de levantados os Estados de Emergência?
O Estado de Emergência nada tem a ver com o receio das pessoas viajarem. As pessoas, depois de levantado o Estado de Emergência, uma medida de contenção necessária e que tem produzido efeitos, terão apenas regras menos apertadas relativamente à sua circulação. O que vai condicionar as viagens é, de facto, a existência de medicação ou da vacina. Sabemos que a vacina não demorará menos de um ano, ano e meio, e há informações que vão chegando sobre um medicamento que pode estar disponível daqui a dois ou três meses, o que atenuará o receio de viajar.

O receio de viajar, provavelmente, durante um ano manter-se-á. O que vai fazer com que as pessoas viajem menos. Há companhias aéreas que já estão a tomar medidas muito específicas relativamente a isso. Acabei de ler que a Emirates proporciona a análise antes de embarcar, que tem resposta em 10 minutos, por causa do contágio do coronavírus, o que naturalmente virá a trazer mais confiança aos passageiros.

Até que não tenhamos indicações de que um medicamento está disponível, a situação das viagens está muito condicionada e far-se-á primeiro por uma questão de necessidade, viagens de negócios que não se possam resolver por videoconferência, e só mais tarde aparecerão as viagens de lazer. Em termos de transporte aéreo. As pessoas vão-se deslocar de carro e de comboio, têm um risco menor de contágio, e portanto o que haverá é, de facto, um turismo muito de proximidade e as distâncias para destinos
longínquos neste primeiro ano estarão altamente condicionadas.

Como se pode tentar defender o produto e agregar valor?
Nós na AHP estamos em contacto com o Turismo de Portugal que tem a intenção, e a AHP apoia, de criar uma certificação de que os hotéis serão seguros. Estamos a preparar um protocolo, para obter esse
certificado, e os hotéis têm que declarar que o praticam. Antes do Estado de Emergência já tinhamos um protocolo que ia desde controlar a temperatura dos empregados, até à limpeza das superfícies de duas em duas horas ou o gel desinfetante nas casas de banho. Mas, naturalmente, agora no momento de reabertura haverá outras, como seja os empregados usarem máscara, para sua proteção e dos clientes, o distanciamento nas zonas de refeições levará ao aumento da disponibilidade desses espaços nos hotéis, os restaurantes verão muito condicionadas as suas aberturas por essa razão, naturalmente que haverá proteção em vidro nas receções, como hoje há noutros locais desde as farmácias aos hospitais. A implementação de uma série de medidas está a ser preparada pelo Turismo de Portugal e pela AHP para darmos um certificado e com isso as pessoas saberem que aquele hotel tem essas características e tem uma segurança sanitária implementada. Esse é o primeiro passo.

O passo mais longínquo terá a ver com os locais onde as pessoas se irão deslocar. Certamente que as grandes aglomerações neste primeiro momento, sejam elas quais forem, estarão condicionadas. Apesar de tudo, Lisboa, Porto e Portugal têm em relação a isso uma vantagem comparativamente com outros destinos na Europa. Não temos uma população de milhões de turistas. Depois, temos também em Portugal uma abertura enorme para as regiões onde haja menos aglomerações, do Alentejo aos Açores, até em termos de turismo de proximidade e turismo interno, serão uma escolha neste próximo ano e nesta próxima época de férias. Iremos certamente escolher locais onde haja menos gente. Vai ser uma tendência que vai, nomeadamente, favorecer Portugal.

Que papel terá o marketing/ comunicação no arranque da atividade turística?
Tudo isto que estou a projetar e a prever que serão características na oferta turística, quando houver a reabertura, tem de ser divulgado. É muito importante que as empresas do turismo façam divulgação junto dos seus clientes porque há procedimentos que, de facto, asseguram uma segurança sanitária em relação às instalações e às viagens. Temos a Emirates a dar já sinal de que isso vai ser certamente diferenciador. Temos aqui uma situação de controle que dará segurança aqueles que vão utilizar o transporte aéreo e a divulgação de tudo isso fará diferença. Quem tiver essa capacidade de adoptar essas medidas deve divulgá-lo.