Conselheiro Ambitur: “A procura reprimida é enorme e é possível voltar a viajar de forma segura”

José Lopes, diretor da easyJet para Portugal, e Conselheiro Ambitur, deixa-nos as suas perspetivas sore a evolução do atual contexto e da retoma do setor do turismo.

A evolução do atual contexto pandémico em Portugal – onde se implementa já a vacinação e se verifica uma diminuição do número de infetados – poderá levar a uma previsão da retoma da atividade turística a partir de maio/junho deste ano? Será esta uma retoma homogénea na Europa?
Acreditamos que a vacinação e a testagem são medidas determinantes para uma retoma da atividade turística, não só pelos benefícios que potencia a quem a recebe, mas também pela confiança que transmite a quem quer viajar. Para que os passageiros voltem a reservar viagens com convicção, e com a normalidade anterior à pandemia, é necessário que seja estabelecido um conjunto de medidas que visem demonstrar que é seguro fazê-lo – devendo estas partir dos governos. Temos verificado que o levantamento de restrições em vários países tem resultado num impulso bastante positivo e crescente no agendamento de viagens. Tal aconteceu há mais de um mês, no Reino Unido, onde as reservas para os voos da easyJet para o sul da Europa, incluindo Portugal, aumentaram mais de 300%. E, há cerca de quatro semanas, com a retirada de Portugal das listas de países de risco da Suíça e da Alemanha, voltámos a registar um aumento exponencial na venda de viagens. Estes indicadores revelam que o abrandamento de medidas restritivas como as proibições a viajar, quarentenas e obrigatoriedade de testes, são fatores que impactam negativamente o turismo e a aviação na Europa. Por isso, a easyJet defende que se os governos implementarem em tempo útil uma metodologia clara, igual em todo o espaço europeu, com bases científicas sólidas e baseada na gestão de risco, será possível a retoma da atividade de forma homogénea e a tempo do verão.

Quais deverão ser os pilares da retoma da atividade turística, assegurados por parte do Governo português e da União Europeia? Isso está a ser trabalhado, no seu entender?
No ponto de vista da easyJet, é essencial que o Governo português, assim como os restantes países da União Europeia, assegurem uma abordagem homogénea e que cubra os requisitos necessários para uma retoma segura da circulação de pessoas. Com isto, defendemos que é urgente chegar-se a um acordo entre todos os estados, para que exista um consenso na implementação de um sistema de testes facilmente ajustável às necessidades de cada região. A easyJet considera que quando se tem que impor testes por uma questão de saúde pública, se deve recorrer à combinação de dois testes antigénio (cinco e três dias antes da viagem), em vez de um teste PCR (três dias antes da viagem). Desta forma garante-se a mesma eficácia a nível de saúde pública, economiza-se e impacta-se menos a procura. É relevante ter em conta que o custo de um teste PCR é, muitas vezes, mais caro do que o próprio voo. Além disto, e tendo em consideração que a liberdade de circulação de pessoas é um dos pilares da UE e que deve ser intocável, é importante que todos devam poder viajar. Assim, defendemos que se a origem do voo for de um país sem risco, se deve viajar sem qualquer tipo de restrição. Se a origem for de um país de risco moderado deve recorrer-se à implementação de testes antigénio, como explicado anteriormente. E, por fim, se a origem for de um país de risco elevado, deve optar-se por uma conjugação de testes com tempos de quarentena. Só assim será possível efetuar viagens de forma continuada e sem constrangimentos. Apesar de nos últimos tempos se ter verificado a nível global alguns esforços neste sentido, consideramos que é necessário continuar a trabalhar para recuperar a liberdade de circulação e para que a Europa volte a ser o principal destino turístico do mundo.

Está o tecido empresarial turístico português preparado para uma eventual retoma turística nos próximos meses? Quais serão as suas principais debilidades?
Todos os setores no último ano sentiram de alguma forma o impacto negativo da pandemia. Agora, estamos a caminhar para um momento de retoma e sabemos que há vários desafios que se avizinham durante este período, sobretudo porque ainda há várias condicionantes a impactar o tecido empresarial, como é o caso das restrições ainda impostas. No entanto, a easyJet está bastante expectante com o futuro do turismo nacional. A abertura da nossa nova base em Faro, a partir de 1 de junho, comprova isso mesmo, pois pretende contribuir para o apoio ao turismo do país e para a empregabilidade da região do Algarve, para onde recrutamos uma centena de colaboradores. Acreditamos que para que a retoma seja bem-sucedida, é necessário que exista confiança nos próximos meses, tanto por parte do tecido empresarial, como por parte de quem nos visita. A easyJet está confiante relativamente a este verão, porque a procura reprimida é enorme e é possível voltar a viajar de forma segura. A easyJet tem capacidade e flexibilidade para rapidamente capturar esta procura assim que ela retomar e oferecemos condições de flexibilidade, como líderes na indústria, que permitem a todos os consumidores fazer planos e reservar com confiança. Os empresários do setor do turismo português, com quem temos mantido um diálogo bastante próximo ao longo deste período de pandemia, estão prontos e já demonstraram no passado que é possível implementar rapidamente um produto seguro e de qualidade. Estou confiante que assim que a procura retomar, eles voltarão a fazê-lo e os nossos passageiros serão de novo pessoas mais felizes.

Nota: A Ambitur conta, desde março de 2020, com um conjunto de Conselheiros que partilham connosco as suas visões sobre questões da atualidade no setor do Turismo. Os nossos Conselheiros Ambitur são, neste momento: Jorge Rebelo de Almeida (CEO da Vila Galé), José Theotónio ( presidente da comissão executiva do Pestana Hotel Group), Manuel Proença (presidente do Grupo Hoti Hotéis), Miguel Quintas (CEO do Consolidador.com), Frédéric Frère (CEO da Travelstore), Vítor Filipe (presidente da TQ Travel Quality e ex-presidente da APAVT), Raul Martins (presidente da AHP e do conselho de administração do Grupo Altis), Francisco Teixeira (CEO da Melair Cruzeiros), Bernardo Trindade (administrador do PortoBay Hotels & Resorts e ex-secretário de Estado do Turismo), José Lopes (diretor da easyJet em Portugal), Eduardo Jesus (secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira), Francisco Pita (CCO ANA Aeroportos), José Luís Arnaut (presidente-adjunto da Associação Turismo de Lisboa), Cristina Siza Vieira (presidente executiva da AHP), Mafalda Bravo (Country Manager Portugal Ávoris) e Maria João Rocha de Matos (diretora geral FIL e CCL).