Francisco Pita, CCO da ANA – Aeroportos de Portugal, é um dos novos Conselheiros Ambitur e dá-nos a sua visão sobre o turismo e o setor da aviação, perante o contexto atual de pandemia.
De que forma o posicionamento das grandes empresas europeias/mundiais de turismo pode obrigar a refletir e alterar as estratégias das empresas nacionais no atual contexto?
O turismo e a aviação são atividades dinâmicas e globais por natureza que beneficiam das vantagens da globalização, mas também são, naturalmente, afetadas pelas mudanças do contexto do mercado global.
Estamos a viver a crise mais profunda e extensa de que há memória nestes setores. É inevitável e expectável que conduza a alterações relevantes, com impacto estrutural a nível global, e consequentemente com repercussões a nível nacional.
Refira-se, no entanto, que muitos dos desafios que se colocam hoje ao setor antecedem esta crise pandémica.
Hoje os novos desafios da segurança sanitária e da recuperação da confiança dos consumidores assumem grande relevância. Mas os movimentos de consolidação e falência de companhias aéreas e operadores turísticos, as alterações climáticas, a crescente fragmentação dos mercados, a digitalização e as alterações no comportamento dos consumidores, são temas que já marcavam a agenda pré Covid-19. É agora ainda mais premente dar uma resposta rápida e efetiva a estes desafios.
Considera ser necessária uma avaliação cuidada sobre o futuro dos fluxos turísticos europeus e mundiais, devido ao atual contexto? Em que sentido?
Ninguém tem a resposta final nesta matéria. Ainda não conseguimos perspetivar o fim da pandemia e todos os seus impactos a nível social e económico. Há várias questões que se colocam, também ao nível do turismo. Os mercados turísticos emergentes serão os mesmos do pré Covid-19? Os mercados tradicionais manterão a sua relevância? O setor é resiliente, tem capacidade para se adaptar a crises, mas neste momento a volatilidade continua a ser a palavra de ordem.
Ainda assim, é certo que é necessária uma melhor coordenação da atuação. O transporte aéreo depende do turismo para gerar procura. Por seu lado, o turismo, como o conhecemos hoje, depende da disponibilidade de transporte aéreo frequente, acessível e assente em processos de viagem simples e descomplicados para os passageiros.
Garantir a facilitação dos fluxos, assegurando as devidas condições de segurança sanitária, a facilidade de transporte e movimentação, a agilização de procedimentos associados à viagem de forma coordenada a nível internacional é fundamental para a retoma do transporte aéreo e por inerência da atividade turística.
Usar o transporte aéreo tem de ser uma experiência agradável. Nos aeroportos geridos pela ANA temos a preocupação de procurar soluções que, mantendo a segurança sanitária, permitam oferecer uma boa experiência aos passageiros nas nossas infraestruturas.
Num contexto geoestratégico, e falando de turismo, com a atual pandemia, como se deve Portugal enquadrar/posicionar?
A recuperação da confiança dos consumidores é um processo demorado que não devemos subestimar, pelo que não podemos abrandar os nossos esforços em matéria de garantia da segurança sanitária.
Mas a garantia da segurança sanitária é algo que passará a fazer parte do “pacote básico” e que, só por si, deixará de garantir diferenciação num momento em que a concorrência entre destinos turísticos, que já era grande, se vai acentuar.
Acredito que o posicionamento de destino que nos fez crescer até hoje não perdeu a sua base de sustentação. As características do nosso produto turístico podem ser ainda mais apelativas no mundo pós Covid-19. Devemos reforçar a nossa presença nos mercados e afirmar a qualidade e a exclusividade da nossa oferta turística.
Parcerias internacionais por parte das empresas turísticas nacionais são um caminho a seguir?
Com ou sem pandemia o turismo opera numa economia global e a possibilidade de aceder a mercados globais deve ser vista como uma oportunidade.
As cadeias de valor globais e as redes internacionais têm benefícios a vários níveis, por exemplo, ao nível da partilha de conhecimento e inovação.
A VINCI Airports, concessionária da ANA, gere 45 aeroportos em 12 países. A possibilidade de partilhar conhecimento e experiências, particularmente neste momento desafiante, tem sido muito importante. Saliento, a este propósito, a certificação em segurança sanitária atribuída aos aeroportos da VINCI Airports pela Bureau Veritas, incluindo os aeroportos portugueses. Esta distinção confirma a ambição da VINCI Airports em garantir o mais alto nível de segurança para todos dos seus passageiros e equipas.
Nota: A Ambitur conta, desde março de 2020, com um conjunto de Conselheiros que partilham connosco as suas visões sobre questões da atualidade no setor do Turismo. Os nossos Conselheiros Ambitur são, neste momento: Jorge Rebelo de Almeida (CEO da Vila Galé), José Theotónio ( presidente da comissão executiva do Pestana Hotel Group), Manuel Proença (presidente do Grupo Hoti Hotéis), Miguel Quintas (CEO do Consolidador.com), Frédéric Frère (CEO da Travelstore), Vítor Filipe (presidente da TQ Travel Quality e ex-presidente da APAVT), Raul Martins (presidente da AHP e do conselho de administração do Grupo Altis), Francisco Teixeira (CEO da Melair Cruzeiros), Luís Alves de Sousa (sócio gerente do Hotel Britania e ex-presidente da AHP), Bernardo Trindade (administrador do PortoBay Hotels & Resorts e ex-secretário de Estado do Turismo), José Lopes (diretor da easyJet em Portugal), Eduardo Jesus (secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira) e Francisco Pita (CCO ANA Aeroportos). Em breve irão juntar-se a este painel mais um conjunto seleto de Conselheiros.