Conselheiro Ambitur: “As crises tendem a favorecer aqueles que demonstram capacidade de visão”

A Ambitur.pt partilha consigo o que os gestores turísticos têm a dizer sobre três questões que atualmente impactam o dia-a-dia destes profissionais.

Frédéric Frère, CEO da Travelstore, deixa-nos as suas respostas como “Conselheiro Ambitur”.

De que forma pode uma crise tornar-se uma oportunidade?
A observação do passado demonstra-nos que, por mais duras e penosas que possam ser as crises, elas são também geradoras de muitas oportunidades. As crises “sacodem” a ordem estabelecida e tendem a favorecer aqueles que demonstram capacidade de visão, de antecipação sobre como o futuro vai evoluir e, naturalmente, capacidade de arriscar. É também um principio conhecido que é nos ciclos recessivos que surgem as melhores oportunidades de investimento.

Dito isto, a crise que vivemos atualmente não tem nenhuma equivalência com as anteriores crises e é muito provável que as oportunidades não se resumam à capacidade de investimento em ciclo baixo mas sobretudo à capacidade de adaptação a uma espécie de “novo mundo” que poderá resultar dela. O simples facto de uma boa parte da população mundial ser obrigada a permanecer dentro de casa vai eventualmente deixar alterações definitivas na forma como trabalhamos.

Em termos mais concretos, e pensando por exemplo em Portugal como destino turístico, se conseguirmos evitar que o impacto da crise sanitária alcance as mesmas proporções que alguns dos países Europeus atualmente mais atingidos, Portugal poderá eventualmente beneficiar de um fluxo de procura muito positivo mas desde que saiba reconquistar o visitante oferecendo value for money. E é a noção mesmo de value que vai evoluir sendo fundamental percebermos aquilo que o visitante irá valorizar nos tempos pós crise.

Será possível, neste contexto, pensar-se o amanhã?
É obrigatório começarmos rapidamente a pensar no amanhã apesar de que, no imediato, todos os nossos esforços estejam focados no presente, o que é bem normal dadas as circunstâncias extremamente adversas em que nos encontramos. Mas, considerando que a economia do país vai sair muito debilitada desta crise, e que o setor terciário, impulsionado sobretudo pelo turismo, é de longe aquele que mais contribui para o PIB nacional, é fundamental que tudo seja feito a nível do Governo para não só proteger a sobrevivência das empresas do setor como também de reservar alguma capacidade de investimento adicional em tudo o que poderá contribuir para maximizar a experiência do cliente, seja nas infraestruturas, seja no elementos soft que tocam ao meio ambiente, à animação e gastronomia, cultura, património histórico.

O que os gestores turísticos não devem esquecer?
Julgo que, nos tempos atuais, qualquer gestor não se deve esquecer de um princípio que já é regra em tempos normais, que é que são as pessoas que fazem a diferença e que não vale a pena pensarmos no futuro sem esgotarmos todos os esforços possíveis para protegermos ao maximo os nossos colaboradores. As crises são também geradores de união porque as pessoas tendem em se juntar mais na adversidade mas o gestor deve dar o exemplo garantindo equidade nos sacrifícios exigidos.