Conselheiro Ambitur: “É altura de apostar em tudo aquilo em que somos melhores e diferentes”

A Ambitur.pt partilha consigo o que os gestores turísticos têm a dizer sobre três questões que atualmente impactam o dia-a-dia destes profissionais.

Luís Alves de Sousa, sócio gerente do Hotel Britania (Hotéis Heritage), deixa-nos as suas respostas como “Conselheiro Ambitur”.

De que forma pode uma crise tornar-se uma oportunidade?
Todas as crises devem ser encaradas como oportunidades para fazer alterações, corrigir o que está errado, definir novas estratégias e inovar tornando as empresas mais “amigas” dos seus colaboradores, fornecedores e clientes.

Este “tempo suspenso” que estamos a viver pode ser longo mas o Turismo não vai acabar.
Já várias vezes escrevi que nos devemos focar no cliente que respeita e aprecia verdadeiramente os nossos destinos. Estamos no momento certo para esta reflexão. Aproveitemos a oportunidade e seguramente todo o País ganhará. É altura de apostar em tudo aquilo em que somos melhores e diferentes.

Será possível, neste contexto, pensar-se o amanhã?
A incerteza e as preocupações do momento atual absorvem-nos excessivamente mas é imperativo pensar o amanhã. Os nossos investimentos são de longo prazo e não são deslocalizáveis. Não podemos fazer stock da nossa “mercadoria”!

Além da especial atenção a dar ao nosso capital humano este é o momento para valorizarmos a nossa oferta que inclui o Ambiente, o Património, a Cultura. A falta de respeito por estes valores, quer por parte da população residente, quer por quem nos visita, é um fator destrutivo que desvaloriza os destinos e afasta os turistas que verdadeiramente pretendemos captar.

Grandes concentrações de pessoas que se acotovelam para comprar recordações “made in China” em centenas de lojas idênticas, filas intermináveis de gente que aguarda horas para visitar um monumento, para subir num elevador, para andar num elétrico ou, simplesmente, para comer pasteis de nata, consomem muitas horas de uma viagem – geralmente curta – que poderia ser culturalmente enriquecedora e que se torna, muitas vezes, num imenso vazio, quando não, num verdadeiro pesadelo.

A segurança, o combate à exclusão social, a recuperação do património – designadamente com a limpeza dos grafittis – novas “rotas turísticas”, nomeadamente do Saldanha ao Campo Grande (Rota da Memória e do Conhecimento) onde estão localizados diversas universidades, bibliotecas, arquivos e museus, são apenas algumas das questões que urge, desde já, começar a pensar.

A atividade turística assume para Portugal uma importância vital e inquestionável. Tal como a OMT referia há 20 anos no Código Mundial de Ética do Turismo, “ o Turismo tem que saber conciliar a Economia com a Ecologia, o Ambiente com o Desenvolvimento e a abertura às trocas internacionais com a proteção das identidades sociais e culturais.”

O que os gestores turísticos não devem esquecer?
Há mais de 44 anos que trabalho em hotelaria e atravessei várias crises, mas nunca uma tão estranha e grave como esta. Penso que o maior desafio que se nos coloca será manter motivados os nossos colaboradores que irão trabalhar, por certo, pelo menos no início, num ambiente bastante tenso. Como vencer o medo e voltar a acolher quem nos visita com a nossa habitual hospitalidade?

Há dúvidas, algumas de caráter iminentemente prático sobre as quais temos que começar a pensar, designadamente:
. Os passageiros e bagagens serão desinfetados antes de embarcar?
. Juntamente com os passaporte devem ser exigidos boletins de saúde?
. A par com outros cuidados trabalharemos nos hotéis de máscara e luvas?

Talvez pareçam absurdos estes exemplos mas muitos mais se colocarão. Unidos teremos de debater muito e arranjar soluções para captar clientes e reiniciar a nossa atividade.