José Lopes, diretor da easyJet em Portugal, é mais um novo Conselheiro Ambitur. Falámos com o responsável sobre o posicionamento das grandes empresas turísticas e o enquadramento de Portugal no atual contexto.
De que forma o posicionamento das grandes empresas europeias/mundiais de turismo pode obrigar a refletir e alterar as estratégias das empresas nacionais no atual contexto?
As estratégias estão sempre ligadas à cultura socio-económica dos países, às vontades de quem os visita e dos seus comportamentos. Todos os setores são parte essencial neste “novo normal” e as grandes empresas podem ser desbloquedoras para ajudar e apoiar na retoma do setor do Turismo. Aos poucos vamos percebendo qual o melhor caminho e a melhor forma de o atingir. Todos vamos ter que alterar algumas estratégias, mas sabemos que temos que manter o rumo que traçamos. A cadeia de valores existente dá-nos garantia que esta retoma apesar de mais lenta irá ajustar-se e os fluxos turísticos irão, com o passar do tempo, voltar a crescer.
No setor do da aviação, em particular, sabemos que se espera uma recuperação mais lenta do que o previsto inicialmente. E é importante que a nível global, e no atual contexto, as grandes empresas assumam o compromisso de serem pioneiras e ajudarem a mostrar o melhor caminho para novas estratégias para a retoma da aviação, em particular, e do Turismo, em geral. Será também importante que os Estados não introduzam fatores de distorção da concorrência que se tornarão entraves a uma recuperação do setor.
Considera ser necessária uma avaliação cuidada sobre o futuro dos fluxos turísticos europeus e mundiais, devido ao atual contexto? Em que sentido?
Sempre tivemos em conta os fluxos turísticos e, nesta fase, em que o contexto atual não nos permite efetuar uma análise tão precisa, a sua avaliação torna-se ainda mais importante para que possamos ter resultados mais eficazes. A adaptação de frota às rotas num estado pandémico permite-nos ajustar a nossa oferta à procura, conseguindo assim um controle de custos necessário nesta fase, bem como, com o levantamento de restrições por parte dos vários países conseguimos dar continuidade a esta adaptação. A forma como os países se vão posicionando e combatendo de uma forma eficaz esta pandemia mostrará também como se vão comportando os fluxos turísticos. É primordial compreender se alguns tipos de tráfego continuarão a existir e que tipo de alterações permanentes à forma de trabalhar e viver esta pandemia trouxe por forma a nos ajustarmos o mais rápidamente possível a uma realidade que veio para ficar.
Num contexto geo-estratégico, e falando de turismo, com a atual pandemia, como se deve Portugal enquadrar/posicionar?
Portugal não perdeu os seus recursos naturais, nem tão pouco perdeu a forma extraordinária como recebe os turistas que chegam de toda a parte do mundo. O que Portugal oferece continua intacto e tem valor para quem procura o destino.
O grande desafio consiste em passar confiança a quem nos quer visitar. O posicionamento tem que seguir uma linha consistente e todos os intervenientes devem trabalhar em conjunto para continuar a demostrar que o destino pratica boas práticas de higienização e segurança.
Fomos os primeiros a passar esta confiança a todos os consumidores, soubemos antecipar-nos e comunicar de uma forma clara. Devemos e temos a obrigação de seguir este rumo para que a mensagem chegue e transmita a confiança que todos procuram.
Neste enquadramento, a participação ativa dos organismos públicos em sintonia com os privados irá certamente ajudar que o posicionamento do país se torne no caso de sucesso a combater a pandemia e a dar confiança a quem nos visita e quer visitar. Temos que continuar a apostar num produto que dá primazia à qualidade.
Parcerias internacionais por parte das empresas turísticas nacionais são um caminho a seguir?
As empresas turísticas já antes da pandemia procuravam as melhores parcerias internacionais para terem um posicionamento e reconhecimento global. É fundamental que este processo continue a ser desenvolvido e que se vá solidificando. As parcerias ajudam as empresas locais a promoverem o destino de uma forma mais eficaz e passam confiança a quem pretende conhecer o destino.
Nota: A Ambitur conta, desde março de 2020, com um conjunto de Conselheiros que partilham connosco as suas visões sobre questões da atualidade no setor do Turismo. Os nossos Conselheiros Ambitur são, neste momento: Jorge Rebelo de Almeida (CEO da Vila Galé), José Theotónio ( presidente da comissão executiva do Pestana Hotel Group), Manuel Proença (presidente do Grupo Hoti Hotéis), Miguel Quintas (CEO do Consolidador.com), Frédéric Frère (CEO da Travelstore), Vítor Filipe (presidente da TQ Travel Quality e ex-presidente da APAVT), Raul Martins (presidente da AHP e do conselho de administração do Grupo Altis), Francisco Teixeira (CEO da Melair Cruzeiros), Luís Alves de Sousa (sócio gerente do Hotel Britania e ex-presidente da AHP), Bernardo Trindade (administrador do PortoBay Hotels & Resorts e ex-secretário de Estado do Turismo) e José Lopes (diretor da easyJet em Portugal). Em breve irão juntar-se a este painel mais um conjunto seleto de Conselheiros.