Conselheiro Ambitur: “O efeito de falências em dominó, que se pode sentir a qualquer momento, paira no ar”

A Ambitur retoma o contacto com os Conselheiros Ambitur para partilhar com os nossos leitores os desafios que se aproximam. Miguel Quintas, CEO do Consolidador.com, deixa-nos a sua opinião sobre os seguintes temas.

De acordo com o seu conhecimento do mercado, quão complexa é hoje a realidade das empresas turísticas nacionais, seis meses após o confinamento e com o findar dos meses de verão?
Dificílima. Qualquer empresário precisa de certezas para gerir e a única garantia ao dia de hoje é que vamos entrar nos meses de quebra turística já neste período que se segue ao Verão, em que todas as empresas estão fortemente descapitalizadas. A partir deste ponto, tudo são opiniões com maior ou menor grau validade. Ou seja, não existe previsão de quando se vai erradicar o medo de viajar. Não existe previsão de quais as alterações legislativas a realizar. Não existe previsão se haverá acesso a fundos perdidos para as empresas necessitadas. Não existe previsão de quais os países que terão fronteiras abertas ou fechadas. Não existe previsão se vamos voltar a confinar parcialmente ou não. Não existe previsão se as equipas dentro das próprias empresas aguentam a tensão laboral de teletrabalho ou dos impactos colaterais do Layoff. Não existe previsão de absolutamente nada. E como consequência, findo o Verão, teremos inúmeros empresários a fazer contas para saber se realmente vale a pena continuar o seu negócio, ou se simplesmente atiram a toalha ao chão.

Ao nível da tesouraria e gestão, qual o impacto já quantificável provocado pela pandemia da Covid-19 e o que pode significar para o futuro das empresas?
O impacto é medonho, seguramente. No final do Verão, não há uma empresa do setor que esteja financeiramente melhor do que quando começou o início da época alta, à exceção talvez de alguma restauração (ainda que longe do que seria de esperar numa época normal). O efeito de falências em dominó que se pode sentir a qualquer momento, paira no ar. Na realidade, uma pequena empresa que abra falência pode ter um impacto dramático em todo o setor como consequências colaterais. Até ao momento os empresários e gestores têm conseguido segurar a maior parte dos “fios”. Mas por quanto tempo mais? Ninguém sabe responder.

O que se antecipa relativamente aos próximos meses no negócio?
Diria que, em primeiro lugar, uma redução imediata nos custos das empresas que estiveram a tentar “salvar o Verão”. Ou seja, redução de pessoal através da não renovação de contratos e/ou despedimentos. Em segundo lugar, fechos e falências. Muitos empresários estarão agora na fase de pensar se fecham o seu negócio até haver uma retoma suficientemente forte na procura que os faça apostar novamente na sua empresa. Adicionalmente e infelizmente, muitos haverão em que a declaração de falência possa ser a sua melhor solução. Finalmente em terceiro lugar, acredito que se assistirá a uma concentração no setor a fim de salvar negócios ou por motivo de investimentos futuros, para quem está suficientemente capitalizado.

O que é imprescindível que seja feito ao nível do Quadro Legislativo e Financiamento por parte do Governo?
O Governo deveria tomar imediatamente duas ações: Em primeiro lugar, o acesso condicionado a financiamento a fundo perdido – sendo que aquele condicionamento deverá estar alinhado com as empresas que já receberam apoios financeiros ao abrigo da Covid-19. Deverão ser as empresas mais saudáveis a terem acesso a esse sistema que é fácil de implementar em coordenação direta com a banca nacional.

Em segundo lugar, o acesso a ferramentas de “layoff” simplificado, com garantia futura de preservação de postos de trabalho, cujo sucesso deveria ser apoiado em prémios de acesso aos fundos perdidos.

Nota: A Ambitur conta, desde março de 2020, com um conjunto de Conselheiros que partilham connosco as suas visões sobre questões da atualidade no setor do Turismo. Os nossos Conselheiros Ambitur são, neste momento: Jorge Rebelo de Almeida (CEO da Vila Galé), José Theotónio ( presidente da comissão executiva do Pestana Hotel Group), Manuel Proença (presidente do Grupo Hoti Hotéis), Miguel Quintas (CEO do Consolidador.com), Frédéric Frère (CEO da Travelstore), Vítor Filipe (presidente da TQ Travel Quality e ex-presidente da APAVT), Raul Martins (presidente da AHP e do conselho de administração do Grupo Altis), Francisco Teixeira (CEO da Melair Cruzeiros), Luís Alves de Sousa (sócio gerente do Hotel Britania) e Bernardo Trindade (administrador do PortoBay Hotels & Resorts e ex-secretário de Estado do Turismo). Em breve irão juntar-se a este painel mais um conjunto seleto de Conselheiros.