Conselheiro Ambitur: “O enquadramento de Portugal vai passar muito pela intensidade de apoios que conseguimos apurar”
A Ambitur retoma o contacto com os Conselheiros Ambitur para partilhar com os nossos leitores os desafios que se aproximam. E Bernardo Trindade, administrador do PortoBay Hotels & Resorts, é um dos novos Conselheiros, que responde a algumas das questões que lhe colocámos.
De que forma o posicionamento das grandes empresas europeias/ mundiais de turismo pode obrigar a refletir e alterar as estratégias das empresas nacionais no atual contexto?
Na exata medida de que não somos auto-suficientes. Dependemos do exterior. Dependemos dos clientes estrangeiros. A forma como cada mercado emissor se organiza hoje face à pandemia convoca a um olhar por parte de cada destino. Vou dar o exemplo do transporte aéreo. Quando um operador turístico assume não querer correr o risco do transporte, é natural que essa necessidade tenha de ser suprida. Muitas vezes por empresas de transporte nacionais.
Se assistirmos a movimentos de consolidação junto da operação turística é natural que a nossa ação enquanto agentes do setor em Portugal tenha de ser alterada.
Finalmente, neste tempo de pandemia, se assistirmos a decisões de governos de outros países contra a liberdade de circulação, nomeadamente contra Portugal, devemos organizar-nos para, em vários tabuleiros, fazermos valer as nossas posições.
Considera ser necessária uma avaliação cuidada sobre o futuro dos fluxos turísticos europeus e mundiais, devido ao atual contexto? Em que sentido?
Se há coisa que esta crise nos trouxe foi a necessidade de sermos resilientes e flexíveis. Muito atentos ao que venha acontecer no mundo da aviação e das viagens. Não obstante a importância dos nossos mercados emissores, parece-me essencial a continuada diversificação de mercados. Protege-nos mais face à fragilidade de um qualquer mercado. Aí podemos beneficiar do muito que todo o pais turístico fez nos últimos anos.
Num contexto geo-estratégico, e falando de turismo, com a atual pandemia, como se deve Portugal enquadrar/posicionar?
Como um país que abordou de forma muito competente a pandemia. A todos os níveis. Nunca tivemos em Portugal o que aconteceu noutros países em matéria de cuidados intensivos, onde médicos tiveram de fazer opção por quem morre e por quem vive. Atenção falo em países como Espanha, Itália ou França. Claro que é um tema muito desagradável, mas não deixou de ser um facto. Observável.
Em termos sanitários estivemos bem. Em termos de cumprimentos de regras emanadas pela DGS, os hotéis e restaurantes estiveram bem. Os nossos empresários cumpriram. Estamos todos a passar uma fase muito difícil. Vamos continuar a precisar de ser ajudados. E o enquadramento de Portugal, no fundo definir quem fica, vai passar muito pela intensidade de apoios que conseguimos apurar.
Parcerias internacionais por parte das empresas turísticas nacionais é um caminho a seguir?
E não só. Parcerias nacionais mesmo. Diria mesmo que é natural que sucedam. Não como um sinal de fragilidade mas de oportunidade. De singrar neste novo quadro coletivo.
Nota: A Ambitur conta, desde março de 2020, com um conjunto de Conselheiros que partilham connosco as suas visões sobre questões da atualidade no setor do Turismo. Os nossos Conselheiros Ambitur são, neste momento: Jorge Rebelo de Almeida (CEO da Vila Galé), José Theotónio ( presidente da comissão executiva do Pestana Hotel Group), Manuel Proença (presidente do Grupo Hoti Hotéis), Miguel Quintas (CEO do Consolidador.com), Frédéric Frère (CEO da Travelstore), Vítor Filipe (presidente da TQ Travel Quality e ex-presidente da APAVT), Raul Martins (presidente da AHP e do conselho de administração do Grupo Altis), Francisco Teixeira (CEO da Melair Cruzeiros), Luís Alves de Sousa (sócio gerente do Hotel Britania) e Bernardo Trindade (administrador do PortoBay Hotels & Resorts e ex-secretário de Estado do Turismo). Em breve irão juntar-se a este painel mais um conjunto seleto de Conselheiros.