Conselheiro Ambitur: “Seguramente o mercado estará desequilibrado quanto à oferta e procura”

Miguel Quintas, CEO do Consolidador.com, junta-se ao painel de Conselheiros Ambitur para nos dar a sua visão sobre qual a evolução da retoma no nosso país e que impactos poderemos antecipar no setor da distribuição.

A evolução do atual contexto pandémico em Portugal, onde a vacinação está a ser implementada e já se verifica uma diminuição do número de infetados, poderá levar a uma previsão de retoma da atividade turística a partir de maio/junho deste ano? Será esta uma retoma homogénea na Europa?
Existem dois fatores muito importantes no sucesso da retoma turística em Portugal. Em primeiro lugar, a velocidade com que chegaremos à imunidade de grupo. Ao ritmo atual da vacinação, não seremos um país “Covid free” antes do final do Verão, pelo que, ou aceleramos este processo, ou perdemos este comboio por duas vias – A de que os estrangeiros não vêm para Portugal passar férias e; a de que os Portugueses não podem ir para fora passar férias. Ou seja, ficaremos confinados no nosso próprio destino.

O segundo aspeto tem a ver com as condições climatéricas, sobre as quais não temos controlo. Uma primavera fria e húmida traduz-se numa sustentabilidade e prolongamento de vida do vírus, pelo que os operadores e viajantes terão muita cautela. Os primeiros na gestão do risco e os segundos ao efetivarem as suas reservas de férias, quer por uma questão emocional, quer por uma questão de gestão do risco de saúde e financeira (para evitar cancelamentos e reembolsos).

Estes dois fatores combinados irão determinar quão eficiente irá ser o início do Verão e o próprio Verão 2021 em termos de turismo.

Que impactos se anteveem no setor da distribuição turística mundial e nacional? Que dúvidas e certezas existem no atual momento?
Seguramente o mercado estará desequilibrado quanto à oferta e procura. Ou seja, haverá muito mais oferta instalada para receber e deslocar turistas do que procura real. O turista terá ainda medo de viajar e estará, ao mesmo tempo, afetado pela sua saúde financeira ao final de um ano de crise profunda. Desta forma, os países que adotarem medidas mais eficazes no combate à Covid vencerão esta competição e ganharão o maior número de turistas. Aqueles serão os países cuja taxa de incidência de Covid seja inferior, ou que adotem medidas de higiene e segurança mais estritas (por exemplo, passaporte Covid, controlo de zonas infetadas, testes em massa, etc.) Os operadores escolherão para onde mandar os seus clientes. E os países terão que fazer um grande esforço sanitário e financeiro para atrair estes operadores que trazem os seus turistas.

Que alterações podem ser esperadas ao nível do consumidor?
Claramente um consumidor que irá comprar em cima da hora e com bastante preocupação sobre a questão sanitária, exceto se o destino for Portugal, onde haverá seguramente maior facilidade de circular e apetência para receber o turista Português. Iremos assistir a uma forte promoção do mercado interno para bem da nossa economia, obviamente. Ainda assim, quer para o turismo nacional, quer para o turismo internacional, os operadores, centrais de reservas, hotéis e restauração terão que estar prontos para ter uma oferta altamente flexível, quer nos destinos operados, quer na forma de pagamento, quer nos seguros e proteções sanitárias associadas. Ao mesmo tempo será obrigatório possuir uma estrutura de serviço altamente adaptada para variações de procura muito grandes. Falo de emprego, infraestruturas, oferta de serviços conexos, etc.

Nota: A Ambitur conta, desde março de 2020, com um conjunto de Conselheiros que partilham connosco as suas visões sobre questões da atualidade no setor do Turismo. Os nossos Conselheiros Ambitur são, neste momento: Jorge Rebelo de Almeida (CEO da Vila Galé), José Theotónio ( presidente da comissão executiva do Pestana Hotel Group), Manuel Proença (presidente do Grupo Hoti Hotéis), Miguel Quintas (CEO do Consolidador.com), Frédéric Frère (CEO da Travelstore), Vítor Filipe (presidente da TQ Travel Quality e ex-presidente da APAVT), Raul Martins (presidente da AHP e do conselho de administração do Grupo Altis), Francisco Teixeira (CEO da Melair Cruzeiros), Luís Alves de Sousa (sócio gerente do Hotel Britania e ex-presidente da AHP), Bernardo Trindade (administrador do PortoBay Hotels & Resorts e ex-secretário de Estado do Turismo), José Lopes (diretor da easyJet em Portugal), Eduardo Jesus (secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira), Francisco Pita (CCO ANA Aeroportos), José Luís Arnaut (presidente-adjunto da Associação Turismo de Lisboa), Cristina Siza Vieira (presidente executiva da AHP), Mafalda Bravo (Country Manager Portugal Ávoris) e Maria João Rocha de Matos (diretora geral FIL e CCL).