Conselheiro Ambitur: “Sem confiança, os níveis de tráfego não serão capazes de alimentar a viabilidade do setor”

Eduardo Jesus, secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira, é um novo Conselheiro Ambitur e responde às nossas questões sobre o que poderão os próximos meses representar para o turismo nacional.

O que os próximos meses poderão significar para o negócio turístico nacional e para as suas empresas?
Os próximos meses, naturalmente que significam muito para o negócio do turismo. Foi fortemente abalado pela pandemia e é o setor que mais está a sofrer com este constrangimento. Todos esperamos que se caminhe o mais rapidamente possível para a normalidade, e os meses que se seguem poderão significar a recuperação desta atividade.

Tudo está na dependência do controlo pandémico. Não está nas mãos nem da vontade nem das opções do setor, dos empresários e dos decisores públicos e privados, mas sim de uma questão sanitária. Nenhum de nós tem a capacidade de prever o que será o cenário mais previsível, se não existir estabilidade no controlo pandémico.

Neste contexto, há capacidade de se começar a planear 2021?
O planeamento tem de ser e está a ser feito, embora em cima de uma vulnerabilidade como nunca experimentámos. Tudo a ser pensado e feito admitindo cenários.

O melhor cenário é se a vacina existir. O segundo será se houver uma cura que conforte as pessoas. O terceiro melhor cenário é, se nenhuma destas duas situações se verificar, haver entendimento entre países acerca dos procedimentos que devem ser adotados com vista à recuperação da confiança dos viajantes.

E há um quarto cenário, que é o que vivemos, em que cada um decide aquilo que é melhor, mas que não permite a consistência, que se traduza em confiança para a realização da viagem.

Daí que, na sequência destas quatro possibilidades, a capacidade de planear é sempre em comparação entre elas, ou seja, relativizamos toda essa possibilidade.

Mas continuamos a planear. Já planeamos 2021 como o fazemos em relação a um conjunto de ações para vigorar durante todo esse ano.

Que cautelas se devem ter em conta na preparação das operações turísticas de 2021?
As cautelas que devem ser tidas em linha de conta assentam, acima de tudo, na confiança. Qualquer operação que se queira afirmar no mercado tem de pressupor, necessariamente, que o viajante se sinta confortável para realizar essa viagem. Sem esse sentimento de confiança, os níveis de tráfego não serão recuperados nem capazes de alimentar a viabilidade do setor.

Há aqui uma aposta muito clara, objetiva e muito firme, que tem de ser feita internacionalmente entre os países, preferencialmente, na Europa, sob a coordenação da Comissão Europeia, que permita alcançar aqueles níveis de confiança. É o primeiro aspeto colocado em causa para que se possa preparar qualquer operação turística.

De resto, essas opções, mesmo que tomadas neste momento, vão estar sempre na dependência da evolução epidemiológica de cada país, tanto se o olharmos como origem ou destino, porque uma operação fica inviável na presença de um surto pandémico num ou no outro espaço territorial. Qualquer uma das situações provocará sempre um abalo e aumentará o risco da sua concretização.

O estado financeiro das empresas será fundamental para o seu posicionamento futuro; será este um trunfo perante a concorrência?
As empresas, em regra geral, estão, todas condicionadas da mesma forma, porque, sem atividade, não é possível ganhar vantagem competitiva. Algumas, porque estão integradas em grupos, que não dependem exclusivamente deste setor, poderão aguentar-se melhor e ter outra capacidade de resiliência e resistência a este problema. Temos vários grupos e operadores internacionais cuja base da sua origem não é o setor turístico e talvez por aí, porque estão junto à distribuição e ao consumo, poderão, com menor dificuldade, fazer resistir estes negócios na área do turismo. O resto, na dependência exclusiva do turismo, não existe vantagem competitiva entre as empresas, porque todas elas estão a sofrer do mesmo problema que é a falta de mercado.

Enquanto não se sanarem os problemas que se verificam ao nível da procura, as empresas sofrem transversalmente desta perda de atividade.

Nota: A Ambitur conta, desde março de 2020, com um conjunto de Conselheiros que partilham connosco as suas visões sobre questões da atualidade no setor do Turismo. Os nossos Conselheiros Ambitur são, neste momento: Jorge Rebelo de Almeida (CEO da Vila Galé), José Theotónio ( presidente da comissão executiva do Pestana Hotel Group), Manuel Proença (presidente do Grupo Hoti Hotéis), Miguel Quintas (CEO do Consolidador.com), Frédéric Frère (CEO da Travelstore), Vítor Filipe (presidente da TQ Travel Quality e ex-presidente da APAVT), Raul Martins (presidente da AHP e do conselho de administração do Grupo Altis), Francisco Teixeira (CEO da Melair Cruzeiros), Luís Alves de Sousa (sócio gerente do Hotel Britania e ex-presidente da AHP), Bernardo Trindade (administrador do PortoBay Hotels & Resorts e ex-secretário de Estado do Turismo), José Lopes (diretor da easyJet em Portugal) e Eduardo Jesus (secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira). Em breve irão juntar-se a este painel mais um conjunto seleto de Conselheiros.