#ConselheiroAmbitur: “Só quem criar verdadeiramente valor vai sair por cima desta crise”

O setor do turismo está a retomar, gradualmente, alguma da sua atividade. Ambitur.pt quis saber, junto dos Conselheiros Ambitur, que alterações se podem prever no que diz respeito ao produto turístico e à distribuição, bem como quais as oportunidades com que o mercado se depara no atual contexto. Miguel Quintas, CEO do Consolidador.com, partilha connosco a sua visão.

Que mudanças pode trazer o atual contexto na distribuição/ comercialização do produto turístico em Portugal?
Ainda é cedo para poder passar opiniões com grandes certezas sobre o futuro da distribuição. Atualmente vivemos a fase da avaliação “semana-a-semana”, depois de termos passado a fase do “dia-a-dia”. As imprevisibilidades são ainda muito grandes porquanto desconhecemos o comportamento dos distintos governos e pessoas (europeus, em particular) quanto à abertura de fronteiras e desconfinamento de cidades e respetivos aeroportos. Adicionalmente também não sabemos como vai reagir a procura ao corte dramático no rendimento das pessoas, de uma forma geral. O que me arriscaria a projetar é que, até setembro, nada de muito importante deverá acontecer à exceção do ajuste da oferta à redução dramática da procura. A partir de então penso que será de esperar uma concentração do setor turístico a todos os níveis, a fim dos distintos “players” se fortalecerem face ao impacto negativo que as tesourarias deverão sofrer no final do verão e prepararem-se face ao inverno e segunda onda de Covid-19. Arriscaria numa previsão que, infelizmente, poderão existir algumas falências, em particular na atividade do “outgoing”. Penso, no entanto, que os canais atualmente estabelecidos deverão continuar a ser os mesmos na sua essência.

Há oportunidades para consolidações no mercado?
Claramente e em todos os segmentos do nosso setor. Haverá muitas empresas, mais fragilizadas, que acharão que a concentração e alianças serão o melhor caminho para combater os próximos anos. E haverá aquelas empresas mais saudáveis financeiramente que terão oportunidade de estabelecer o seu “território” para fronteiras mais alargadas, engolidas as mais fragilizadas.

Este é um momento que pode ser encarado para um maior profissionalismo na gestão das empresas?
Não tenho dúvidas que, como em tudo na vida, quem for mais previdente, quem tiver melhor preparado financeiramente e comercialmente, com uma visão estratégica e mais alargada, com maior preocupação quanto ao futuro, com o seu trabalho de casa feito nestes quase três meses de Covid, que vai beneficiar sobre todos aqueles que não o fazem ou fizeram. A isto chama-se profissionalismo na gestão, óbvio.

O que não ficará como dantes?
Irá claudicar quem demonstrou não estar à altura das responsabilidades e da capacidade de execução em momentos de grande dificuldade. Irá ganhar quem é realmente forte hoje, pois irá dominar melhor a sua parte na cadeia de valor (distribuição e concorrência). Só quem criar verdadeiramente valor vai sair por cima desta crise. Mas na essência acredito que tudo ficará quase igual.

Que mudanças ao nível internacional se apercebeu e considera que poderão ter impacto em Portugal, na distribuição/comercialização turística?
As grandes mudanças internacionais prendem-se apenas com o curto prazo. Os governos vão seguramente procurar dirigir os recursos financeiros dos seus estados para dentro do seu país, pelo que a indústria das viagens irá sofrer durante os próximos largos meses, em particular os países que recebem a maior parte dos turistas, como é o caso da bacia do mediterrâneo. Tudo indica que a partir deste ponto, todos querem retomar a “normalidade” tal como era “dantes.

Adicionalmente, acredito que o pós-covid também irá trazer algumas convulsões sociais e que poderão afetar a política dos países, mas a indústria do turismo é aquela que sempre sobrevive às maiores crises pois as pessoas querem e gostam de viajar. E quando os clientes querem, nada se sobrepõe à sua vontade soberana.