Consolidação: “A principal vantagem é o ganho de escala crítica que permite reforçar a rentabilidade do negócio”

Num setor onde a maioria do tecido empresarial é dominado por micro, pequenas e médias empresas, a consolidação, através de fusões ou aquisições, ou parcerias são cada vez mais uma opção. Falámos com alguns Conselheiros Ambitur e procurámos saber se o setor está a caminhar para esta consolidação, que vantagens e desvantagens este processo pode trazer às empresas e que dificuldades terão de enfrentar pelo caminho. Veja o que nos diz Frédéric Frère, CEO da Travelstore.

Qual a necessidade de consolidação do negócio turístico em Portugal?

Como todos sabemos, Portugal é um pequeno mercado onde dificilmente se consegue alcançar a escala suficiente para competir contra os grandes atores mundiais da indústria cuja dimensão lhes permite abordar o mercado com vantagens competitivas que não são acessíveis a pequenas empresas. Neste contexto, ou uma empresa dispõe de uma proposta de valor única e tão diferenciada que rapidamente lhe oferece condições para vingar no mercado internacional ou, de facto está destinada, a prazo, a procurar juntar esforços com outras empresas, seja pela via da venda, da compra ou de fusão.

Que vantagens e desvantagens aponta para uma consolidação empresarial?

A principal vantagem é, sem dúvida, a do ganho de escala crítica que permite reforçar a rentabilidade do negócio tornando-o mais competitivo. Uma empresa de maior dimensão dilui a estrutura de custos sem a qual dificilmente consegue continuar a crescer ou libertando liquidez necessária à realização de investimentos estruturantes para o seu sucesso. Uma das desvantagens mais comuns é que nem sempre existe compatibilidade cultural entre as organizações que se juntam. Ora sabemos que isso pode ser um fator que leva ao insucesso porque a coesão das equipas em torno de objetivos ambiciosos é absolutamente crucial. É por isso que, tal como num casamento entre pessoas, quando duas empresas consideram juntar-se, seja qual for o formato económico adotado, é fundamental que se avalie bem o critério cultural. É claro que quando uma empresa compra outra, também lhe é fácil adaptar a empresa adquirida à sua cultura realizando as mudanças de pessoas adequadas.

O que tem dificultado este caminho, quais os principais desafios?

Em Portugal, o tecido empresarial ainda é muito composto de empresas de estrutura de tipo familiar em que, seja os fundadores do negócio ou os seus descendentes, têm grande dificuldade em abdicar da sua independência de decisão, preferindo apostar na sobrevivência do negócio mesmo mantendo uma dimensão mais pequena do que diluir ou alienar as suas participações a favor de crescimento mais rápido e mais sólido da empresa. Julgo que haverá também aspetos relacionados com o próprio rendimento salarial que os sócios das empresas retiram do negócio que os iniba em considerar a consolidação com empresas terceiras.

As parcerias são uma opção?

Sem dúvida porque os ganhos de eficiência que se obtêm por via da escala não resultam exclusivamente de fusões e aquisições. Duas ou mais empresas podem perfeitamente partilhar recursos mantendo a sua autonomia de capital. O formato das parcerias obriga a regras muito claras entre as partes porque é sempre expectável que surjam conflitos de interesse que dificultem o caminhar no mesmo sentido. Mas não deixam de ser uma alternativa interessante para empresas cuja dimensão é insuficiente para se manterem sustentáveis a prazo.

Este será o grande salto para uma maior competitividade? Em que áreas?

Os princípios referidos acima são válidos para todas as áreas de negócio nas quais a dimensão é fator crítico de sucesso. Mesmo a nível das maiores empresas do país, já se nota a tendência para a consolidação sem as quais estas empresas não conseguem competir no mercado global. Um exemplo claro deste fenómeno é o caso da TAP que, em breve, deverá ser adquirida por outra companhia aérea internacional. Na hotelaria temos assistido ao surgimento de inúmeros hotéis de pequena dimensão mas estou convencido de que, a prazo, os promotores destas pequenas unidades irão perceber que o valor económico libertado é insuficiente para realizar os investimentos obrigatórios para se renovarem, sobretudo quando Portugal não estiver tanto na moda como o é – felizmente – atualmente e que terão que baixar os preços para atrair clientes. No setor da distribuição de viagens, este movimento de consolidação também já se tem verificado com algumas empresas e julgo que iremos assistir a mais consolidações no futuro. A crise covid paradoxalmente acabou por travar esse movimento porque são poucos os que gostam de alienar um ativo quando o valor do mesmo evaporou devido a uma crise que não é estrutural ao negócio; mas agora que as empresas voltaram a crescer e que os seus valores de mercado foram restituídos, é natural que se assista a algumas transações.

No seu entender, estamos mais perto de uma aceleração a este nível?

Pelos motivos que refiro acima, eu diria que sim. Estamos num contexto favorável para que alguns queiram vender convictos de poder retirar um valor justo pelo negócio que construíram e outros queiram comprar para acelerar ganho de escala com sinergias que tornam o negócio mais rentável.