Construção da barragem do Tua com impacto no turismo

A conferência “Salvar o Tua”, que decorreu, ontem, na Fábrica do Braço de Prata, reuniu associações ambientais, advogados, produtores de vinho do Douro, políticos e várias personalidades. A presença de todos teve um único propósito: impedir a construção da Barragem no Vale do Tua, parte integrante do Alto Douro Vinhateiro, património mundial da humanidade, classificado pela UNESCO desde 2011.&Depois de duas providências cautelares indeferidas pelo tribunal, e apesar das obras da barragem já terem tido início, a Plataforma “Salvar o Tua, Proteger o Douro”, não tenciona desistir, uma vez que a dimensão negativa do impacto ambiental, económico e social é “clara” e está à “vista de todos”.

 

Segundo João Joanaz de Melo, professor universitário e activista ambiental, esta “construção é totalmente inútil para o sistema energético do país”, como defendem o Governo e a EDP, responsável pela construção da barragem. &Se a barragem avançar, o vale do Tua está condenado ao despovoamento e à pobreza: nenhum turista virá aqui para ver mais uma albufeira de água poluída, nenhum investidor irá apostar numa região abandonada e descaracterizada” afirma.

 

Para João Roquette, CEO do Esporão e da Quinta dos Murças, membro do núcleo central da Plataforma, “a actividade turística, que é uma das grandes oportunidades que existe naquela região, é também a principal ferramenta que sinto que está à minha disposição naquela região, e quando penso neste modelo de desenvolvimento assente na agricultura e na atracção de pessoas para aquela região, penso depois se a exploração hidroeléctrica massiva, como está a ser feita de uma forma desgarrada naquela região, é compatível com estas duas situações. O que me parece é que claramente não é”. O responsável explicou ainda que uma das razões que o fez aliar-se a esta causa é o facto de “através da nossa marca podermos chamar a atenção” para a mesma.

 

Uma opinião também partilhada por Henrique Montelobo, ex-Director Geral do Turismo, para quem no turismo o problema se prende com a “vantagem competitiva”. “É evidente que as características do Tua e do Douro não são as características que tem o Algarve, as Caraíbas ou o Pacífico, são outras completamente diferentes, e portanto, qualquer política de desenvolvimento turístico tem que se basear na capitalização daquilo que são os recursos naturais para arranjar vantagem competitiva e quanto mais diferenciados e quanto mais difíceis de imitar foram esses recursos, mais sustentável é essa vantagem competitiva. É muito fácil criar as condições que existem na praia y,x ou z, mas provavelmente é difícil criar as condições do Vale do Douro para a fruição e para as experiências dos turistas”.&&A esta luta têm-se vindo a associar cada vez mais anónimos e personalidades.

 

No evento de ontem foi oficialmente lançado o vídeo da música que serve de hino à campanha, com composição de Márcia e Luísa Sobral e interpretada por Amélia Muge, André Tentugal (We trust), Catarina Salinas (Best Youth), Frankie Chavez, Luisa Sobral, Mafalda Veiga, Márcia, Marta Ren, Rui Reininho, Samuel Úria, Selma Uamusse, Susana Travassos e Tiago Bettencourt.