A formação tem vindo a assumir uma importância cada vez maior para o setor da Hotelaria em Portugal que pretende captar os melhores profissionais para oferecer um produto de excelência. Mas será que o setor continua a ser atrativo para os melhores gestores hoteleiros? Deixamos aqui a 3ª e última parte deste trabalho, publicado na íntegra na edição 340 da Ambitur, no qual falámos com alguns consultores especializados nesta área que apontam o dedo a um modelo ainda demasiado tradicional, distante dos setores de serviços qualificados e da nova economia. O que, por sua vez, poderá não atrair as novas gerações formadas nas melhores escolas de gestão.

Ainda que 2022 esteja a ser um ano de franca recuperação no setor turístico e hoteleiro, a incerteza quanto ao que nos espera no próximo ano é grande. Isso mesmo assegura a Head of Hotel Advisory da JLL. Karina Simões indica que este ano se verificou uma superação dos KPI’s face a 2019, num cenário positivo que resultou de algum espírito de “revenge consumption” por parte dos consumidores, que se viram privados de desfrutar de férias durante um longo período e puderam engrossar as suas poupanças. A dúvida é se, no próximo ano, os consumidores assumirão um comportamento semelhante. Questões associadas ao aumento da inflação, subida dos custos do alojamento hoteleiro, da aviação, entre outros, poderão levar a uma desaceleração do crescimento, nota a consultora, que aconselha pois “alguma cautela” nas previsões e orçamentos para 2023. Karina Simões reconhece ainda que estas projeções poderão “comprometer o crescimento expectável/exigido, caso projetem os próximos anos baseados em crescimentos exponenciais que podem não ser sustentados”.

Imprevisibilidade é também o termo escolhido por Rui Pedro Almeida para descrever 2023, para o qual prevê alguma retração do turismo internacional. O CEO da Moneris esclarece que este setor é sensível à evolução do poder de compra pois, em cenário de crise, recessão ou abrandamento económico, “a competitividade pelo fator preço torna-se mais exigente, sendo no turismo de luxo que, tradicionalmente, há menor sensibilidade ao cenário macroeconómico”. Aconselha pois um “otimismo moderado” ou uma “expectativa conservadora” na evolução dos indicadores. Embora não conte com uma retração expressiva, fala de um “refrear da tendência acentuada que se observou em 2022”. E, por isso mesmo, gostaria que as organizações optassem por “uma gestão assente numa enorme adaptabilidade, que lhes permita acomodar a oferta em função da procura que se vai construindo ao longo do ano”. Para o consultor, as empresas do setor precisam de estar “preparadas para enfrentar momentos de intranquilidade nos mercados” pois “a ausência de uma gestão por antecipação poderá comprometer o desenvolvimento das suas atividades”.

Já para Teresa Moreira, “manter o otimismo e a postura de valorização do nosso destino e dos nossos produtos será a melhor estratégia” dos gestores. A manager da Neoturis, explica que, num ano de incerteza como 2022, os hoteleiros foram resilientes e corajosos, subindo os preços; e o mercado reconheceu o seu valor e correspondeu. Sendo o crescimento o elemento que deve reger o futuro dos negócios, a consultora defende que os orçamentos para 2023 poderão até não propor aumento de receitas mas “terão de apresentar melhoria dos resultados através de uma mais eficiente gestão dos custos e dos seus recursos”. A contribuir para esta eficiência, aponta o investimento em tecnologia e na atualização das competências das equipas, através da formação ou recrutamento de novos perfis. “As equipas precisam estar preparadas para novas práticas de trabalho e serem as impulsionadoras da sua implementação e evolução”, refere Teresa Moreira. A Neoturis acredita pois que é preciso criar flexibilidade nas organizações para responder a potenciais flutuações do mercado. Internamente, a consultora diz que deve haver um foco no desenvolvimento de novas competências nas equipas, criar polivalência e ponderar novos formatos de contratação. Já externamente, a responsável defende que sejam exploradas parcerias de negócio para externalizar o risco.

Na BlueShift, prevê-se que as empresas turísticas sejam vítimas de um efeito tipo-tenaz. Se, por um lado, se espera uma retração da procura, por outro lado, os custos também vão ser impactados pela inflação. E as margens “fortemente pressionadas”, alerta o senior partner Filipe Santiago, que admite que também os planos de investimento em renovações ou novas unidades possam vir a ser condicionados pelo aumento dos custos e das taxas de juro. O especialista lembra que os últimos nos demonstraram que, nesta fase em que vivemos, “mais do que planear e ter estratégias fechadas, é necessário ter uma enorme agilidade e pragmatismo”. Os gestores devem pois ser capazes de reavaliar estratégias e adequá-las à realidade. Pelo que, neste momento, a BlueShift, é apologista de que, mais do que um orçamento bem feito, “as empresas precisam de estar preparadas, do ponto de vista da sua cultura, do seu governance e da organização das suas equipas, para serem muito perspicazes a ler as mudanças no contexto em que atuam e ágeis a atuarem sobre essa realidade”.
Por Inês Gromicho
Leia também…