Covid-19 abriu novas janelas de oportunidade para as regiões?

Perceber quais foram os desafios e as oportunidades com que as regiões se depararam durante a pandemia de Covid-19 e como pretendem emergir para uma “nova” realidade foi o objetivo da mesa redonda organizada pelo IPDT, no âmbito do lançamento da 15ª edição da revista Turismo’21.

Rosa Costa, da direção regional de Turismo dos Açores, admite que, a curto prazo, o desafio que se impõe é a segurança sanitária, e que a região está neste momento a trabalhar para o relançamento do selo Clean & Safe em conjunto com os empresários. Mas o grande desafio são as acessibilidades.

Para a responsável, as tendências mundiais já vinham a modificar-se mesmo antes da pandemia, com hábitos mais saudáveis e sustentáveis, e com os turistas a procurar destinos que se revissem nessa forma de estar. Aqui, garante, os Açores saem a ganhar, sendo um destino de natureza, que oferece atividades ao ar livre em terra e mar, experiências diferenciadas, no fundo nove destinos num arquipélago. Este posicionamento veio colocar os Açores, refere, na linha da frente da procura por destinos de natureza e do turismo sustentável. Por tudo isto, Rosa Costa deixa transparecer um certo otimismo em relação à retoma turística, apontando para que a partir de junho ela possa arrancar. “Estamos melhor preparados, com um bom posicionamento em relação a outros destinos de massas”, frisa.

“Saímos reforçados deste processo pandémico”
Já a Madeira assegura que desde 1 de junho de 2020 que não está encerrada ao turismo e que apresenta ligações externas, nomeadamente com Alemanha, França ou Luxemburgo, entre outras, que permitiram manter o setor com alguma atividade. Isso mesmo garante Eduardo Jesus, secretário regional de Turismo e Cultura da Madeira, que lembra que tal “deixou-nos trabalhar e transformar a pandemia numa oportunidade”.

Da parte do setor privado, o governante aponta que houve desde logo uma resposta imediata, com a manutenção e requalificação da oferta, bem como a construção de novas unidades de alojamento. “Houve um investimento no terreno”, o que comprova a confiança no destino, afiança.

E da parte das políticas públicas, o objetivo passou sempre pela recuperação da confiança, tendo, por exemplo, criado um Manual de Boas Práticas, certificando todo o sistema turística através de uma norma internacional, apostando numa operação de triagem nos aeroportos, ou na oferta de PCR a todos os que visitassem a ilha a partir do território continental. Estas medidas deram frutos e, em 2020, em agosto, o arquipélago recebeu mais turistas vindos de Portugal Continental do que em qualquer outro mês de agosto, garante o governante. Por outro lado, mais recentemente, a Madeira implementou um corredor verde e decidiu oferecer aos visitantes um PCR para voltarem às suas origens, desde que não tivessem usado o PCR à chegada. Por fim, diz Eduardo Jesus, “já começámos a vacinar o setor do turismo há uma semana”, um processo que deverá estar concluído até ao final do mês de maio.

Pelo que o orador não tem dúvidas: “os ativos do destino estão preservados e saímos reforçados deste processo pandémico”.

“Uma marca de destino única”
Luís Pedro Martins, que acumula desde outubro de 2020 os cargos de presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal e da Associação de Turismo do Porto e Norte, garante que esta união veio testar um novo modelo de governança dos destinos regionais, apresentando-se como um “modelo mais funcional”, de otimização de recursos, e permitindo um melhor desempenho a nível da sustentabilidade e “caminhar para uma marca de destino única”.

Nestes meses pandémicos houve assim um maior alinhamento operacional a nível do marketing, explica, bem como das equipas de acolhimento. E pôde haver um cruzamento da estruturação do produto com apelo à reserva, adianta. Pelo que não tem dúvidas de que foi importante fazer esta fusão, que permitirá evoluir para a comercialização de outros produtos e serviços: “estamos preparados para responder 24 horas por dia, 365 dias por ano”, garante.

“Covid abriu janelas de oportunidade”
Quem também não tem dúvidas de que a Covid-19 “abriu janelas de oportunidade” é Pedro Machado, presidente da Turismo Centro de Portugal. O orador explicou que estes novos tempos trouxeram três eixos fundamentais à região. Por um lado, uma nova abordagem para os territórios, com a aceleração da reestruturação de novos produtos turísticos, como o ecoturismo, o turismo industrial ou os nómadas digitais, exemplifica. Estes territórios passaram a ter uma atratividade de que não dispunham antes da pandemia, garante.

Um segundo eixo é a coesão territorial, com um reforço da lógica dos destinos regionais e uma articulação de mais marcas com a imagem de Portugal. “Trata-se de uma coesão que é nacional mas também regional”, explica o responsável, pois as regiões têm produtos que se complementam. Pedro Machado recorda que, no âmbito das tendências para 2021, se enquadra, tal como aconteceu em 2020, uma maior atratividade por territórios de menor
densidade. Por fim, o terceiro eixo é o agendamento do crescimento sustentável.

“Estamos a procurar reforçar estes três eixos, que são tendências e que vão ser decisivos nas preferências dos consumidores”, frisa o orador, que avança que a aposta vai passar, este ano, e uma vez mais, pelo mercado interno e pelo mercado interno alargado.

Algarve: perspetivas “mais iluminadas” para os próximos meses
Também no Algarve o mercado interno teve um “efeito tampão à grande quebra dos mercados internacionais”, esclarece João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve, que diz que, em 2020, houve mais dormidas do mercado nacional do que no ano recorde de 2019. Para os próximos meses, o responsável admite ter “perspetivas mais iluminadas”, até pela abertura das fronteiras com Espanha que, este ano, se deu mais cedo do que em 2020. Por outro lado, o mercado irlandês, o ano passado, esteve praticamente 10 meses fechado, sem qualquer corredor aéreo, sendo este um dos principais cinco emissores do Algarve. E agora, admite o orador, a expectativa é de que Portugal integre a categoria “verde” do semáforo do Reino Unido. “O que será incomparavelmente melhor do que em 2020”, acredita, dando forças para “um arranque de verão importante”.

A aposta da região passa por investir “naquilo que nos pode trazer rapidamente o cliente e a concretização da reserva do voo”, explica João Fernandes.

Açores: um destino seguro e sustentável
Nos Açores, foi celebrado um protocolo com as empresas que potencia a distribuição de valor pelas empresas através de um programa – voucher que incentiva que os viajantes façam o teste PCR na origem e, à chegada, possam usar esse voucher nos negócios locais.

Rosa Costa garante que as reservas estão já “muito acima do que se previa”. A nível de campanhas, a aposta passa pelos meios digitais, com a promoção de um destino seguro e sustentável, e “esperamos que a retoma se faça rapidamente”, diz a responsável da direção regional de Turismo dos Açores.

A oradora admite que, em 2020, o mercado nacional foi “uma surpresa boa”, assumindo-se como o principal emissor, e que este ano também assim será. Até porque o próprio Governo regional implementou uma iniciativa para impulsionar a deslocação dos residentes entre ilhas, com tarifas a 60 euros. Este ano a campanha prossegue e “as reservas nas ilhas do grupo central estão com níveis muito interessantes, parte delas do mercado nacional e doméstico”, esclarece Rosa Costa.

Quanto ao mercado internacional, “estamos expectáveis”, diz. Os EUA, o segundo principal mercado estrangeiro para o arquipélago, “poderá ajudar-nos este verão já na retoma”, acredita. Mas “vamos focar-nos nos mercados prioritários, muito no mercado nacional”.

Madeira: Nova marca reafirma posicionamento
A Madeira aproveitou este momento para avançar com uma nova imagem e marca, apresentada já em abril, com o objetivo de reforçar a capacidade inclusiva de receber as pessoas, explica Eduardo Jesus. O secretário regional de Turismo e Cultura da Madeira garante que “afirmámos o nosso posicionamento e reforçámos a nossa segmentação,
trabalhando muito com o setor”. Sempre com a meta de dispor de “uma nova mensagem neste momento de disputa dos destinos pela captação dos mercados”.

Porto e Norte: Holofotes no interior do país
A região do Porto e Norte, que liderou o ranking de número de hóspedes no verão de 2020, admite que a pandemia da Covid-19 veio colocar os holofotes nos territórios do interior do país, menos densificados. E o norte beneficiou pois, já antes da pandemia, estava a encetar um trabalho de tentativa de maior distribuição de turistas pela região. Isso mesmo pôde ver-se no verão de 2020, com as taxas de ocupação em regiões como o Minho ou o Douro,
sempre acima dos 95%, enquanto que nas cidades como Lisboa e Porto se situavam nos 15%.

Este ano, Luís Pedro Martins sabe que não será muito diferente. A diferenciação pode ser feita no que diz respeito ao mercado de proximidade, nomeadamente espanhol e também francês, diz o presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, que dá como exemplo o número de reservas diárias da Transavia, entre 15 a 20 mil, tendo como três principais destinos de procura Portugal, Grécia e Baleares.

“Estou muito otimista com a rapidez com que Portugal vai recuperar”, frisa o orador. E para manter esse otimismo, a entidade prepara-se para lançar, este mês de maio, o próximo filme para a campanha de turismo interno, “Despertar”.

Centro de Portugal: Produtos que diferenciam
No Centro de Portugal, Pedro Machado garante que há produtos que diferenciam a região, nomeadamente as Aldeias Históricas ou a rede de Aldeias do Xisto, fenómenos de sucesso turístico, bem como as Aldeias de Montanha ou o Termalismo, Saúde e Bem-Estar.. E adianta que aqueles que visitam o destino tiveram a perceção do que este tem para oferecer, aumentando a sua permanência. “Tem sido feito um trabalho crescente na criação de produtos turísticos compósitos”, evidencia o presidente da Turismo Centro de Portugal.