CTP: 2020 vai ser do turismo nacional mas há esperança de mais “qualquer coisa”

O presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), Francisco Calheiros, considera que 2020 vai ser o ano do turismo nacional devido à Covid-19, mas mantém a esperança que a vinda de alguns estrangeiros no verão possa vir a concretizar-se. Apesar de considerar que é prematuro fazer quaisquer previsões no momento atual, o responsável fala em esperança, que vai depender da abertura dos aeroportos e companhias aéreas.

“Como é que vai ser o verão? Como é que vamos lidar com isto? Tudo vai depender de quando é que abrem as companhias aéreas, de quando é que abrem os aeroportos, e quando é que abrem, mas nos dois sentidos”, começou por responder Francisco Calheiros à Lusa. “Tem que ser um dia de cada vez. É cedo. Ainda temos o mês de maio todo, o mês de junho só costuma ser relevante em termos de férias de verão na segunda quinzena, e vamos acreditar que isto vai correr bem, e que — independentemente de na nossa opinião o ano de 2020 ir ser o ano do turismo nacional — ainda pode ser que tenhamos qualquer coisa [dormidas e hóspedes de estrangeiros] durante este verão”, afirmou.

Esperança que, reforça, só será concretizada se as viagens forem permitidas de dois lados. Por exemplo, Portugal pode ter a TAP a voar, os aeroportos nacionais em atividade, “mas se Inglaterra estiver fechada, não vai adiantar nada”, os turistas britânicos não chegarão a Portugal.

Por isso, “mercado interno sim, mas esperança que ainda seja mais qualquer coisa. Faltam mais de dois meses para julho”, disse, mas reforçando que “é só esperança”, que ninguém se pode pôr nesta altura “a adivinhar”, até porque a situação ainda exige “muita cautela” e se há muita gente junta “é num avião e num aeroporto”, acrescentou quando confrontado com o pedido que chegou de Bruxelas.

“Não tenho dúvidas de que vamos ser o destino preferencial” na retoma
“No que diz respeito ao turismo, nós estamos a ter uma imagem lá fora muitíssimo importante. Há uma curiosidade sobre Portugal – já o havia como destino turístico – e agora, para além de seguros, somos um destino altamente responsável do ponto de vista sanitário” na luta contra a pandemia da Covid-19, afirmou Francisco Calheiros.

Questionado se baseia essa opinião sobre a curiosidade no que a imprensa estrangeira tem escrito sobre a forma como o país tem decidido e levado a cabo as medidas para fazer face à Covid-19, Francisco Calheiros anuiu, exemplificando que “nunca” deu “tantas entrevista como agora para jornais estrangeiros”, nomeadamente para o Le Monde, o Der Spiegel ou o Financial Times.

E é por isso que diz que a CTP está de acordo com as medidas anunciadas pelo Governo no plano de transição de Portugal do estado de emergência para o estado de calamidade, considerando que se enquadram no “chamado risco controlado”.

“Temos que dar passos sólidos e não podemos perder esta fama – correta – que temos, de estarmos a lidar muito bem” com a situação, disse, acrescentando que para uma retoma “isto é importantíssimo”. “Quando vier a retoma, não tenho dúvida nenhuma, de que vamos ser o destino preferencial, pelo que acabei de dizer. Acho que não podemos minimamente perder este capital que granjeámos neste sentido”, afirmou.

No entanto, até lá, o presidente da CTP lembra que as empresas de turismo, “muitíssimo atacadas”, estão “a viver um dia de cada vez”, já que o setor tem tido “empresas fechadas por ordem do Governo, como a restauração, empresas fechadas porque não têm clientes, como os hotéis, até empresas que trabalham muito, para não ganharem nada, como as agências de viagens para repatriarem todos os portugueses que estavam lá fora”. “O que é que temos feito? Tentar sobreviver, sempre com foco a médio prazo”, disse.

Neste âmbito, Francisco Calheiros lembra as “três notas” que a CTP fez chegar ao Governo na semana passada, para quais pede “o maior cuidado”: a primeira tem a ver com as medidas de apoio à retoma, que diz que do pacote de 6,2 mil milhões de euros anunciados “ainda não chegou um euro às empresas”, a segunda tem a ver com o lay-off, exemplificando que a expectativa dos empresários era que os pedidos que entrassem em abril veriam os pagamentos nesse mês, mas que não é assim.

“Por exemplo, entretanto, foi esclarecido que só os pedidos que entraram na primeira semana de abril iam ser pagos. Houve muitos pedidos que entraram na primeira semana de abril, mas que como foram feitos pedidos de esclarecimentos e estes já entraram na segunda semana de abril, não vão entrar nos pagamentos da primeira semana de abril”, explicou.

E a terceira nota tem a ver com questões “inacreditáveis”, que começaram primeiramente nos restaurantes e que estão agora a ir para a hotelaria, que têm a ver com “as inspeções que a ACT [Autoridade para as Condições do Trabalho” está a fazer às empresas”.

“A maior parte do nosso tecido empresarial são pequenas empresas. Um pequeno restaurante que está fechado, e bem, por ordem do Governo, normalmente tem o escritório numa parte do seu restaurante, vai lá a ACT e pede para enviar 20 documentos por estar em lay-off. Estes pedidos são inacreditáveis e a senhora ministra [do Trabalho] já disse que os autos levantados eram praticamente nada. Portanto, era altura de parar com isto, não faz qualquer sentido. Estas inspeções num momento em que as empresas estão paradas, fechadas, não fazem qualquer sentido. Estamos sempre a tempo de levantar estes autos se for caso disso. Nesta altura, deixe-se as empresas sobreviverem”, concluiu Francisco Calheiros.