CTP: A verdadeira ameaça está na “incapacidade de antecipar, planear e intervir” 

No âmbito das comemorações do “Dia Mundial do Turismo”, a  Confederação do Turismo de Portugal (CTP) e o Governo dos Açores promoveram a conferência “Turismo Sustentável: um legado para o futuro”. O evento decorreu na ilha de São Miguel, nos Açores. 

Na sessão de abertura, o vice-presidente da CTP, Carlos Moura, leu o discurso de Francisco Calheiros, presidente da CTP que, por motivos de força maior, não conseguiu estar presente. O responsável começou por elogiar os Açores, chegando a classificar o arquipélago como “o melhor cenário” para se falar em sustentabilidade pois, a confirmarem-se as expectativas, o arquipélago  será o “primeiro do mundo” a obter a certificação do destino sustentável atribuído pelo Global Sustainable Tourism Council”. “É um exemplo de turismo de qualidade, atratividade e sustentabilidade”, declara, louvando que, por todo o território português, sejam já “várias as cidades e regiões” a desenvolver modelos de sustentabilidade “bem-sucedidos” para a atividade turística, tendo já sido distinguidas internacionalmente. “São um orgulho e um reconhecimento do nosso esforço”, refere ainda. Mas o desafio da sustentabilidade “é algo muito maior”, assegura Francisco Calheiros, citado por Carlos Moura, salientando que o turismo se tornou uma das “atividades económicas mais importantes do planeta e um importantíssimo motor de desenvolvimento para as sociedades atuais”. Prova disso é o número de turistas internacionais em todo o mundo que, segundo a OMT, atingiu em 2018 “1,4 mil milhões, mais 6% do que em 2017”. Mais de metade deve-se a países da Europa do Sul e Mediterrâneo, incluindo Portugal que obteve um recorde absoluto: 15 milhões de turistas estrangeiros em 2018” que, se se juntarem os turistas residentes, o número “ultrapassa, pela primeira vez, a marca de 21 milhões de turistas”.

“É preciso abandonar a ideia de que temos turistas a mais”

A tendência diz que o crescimento “vai continuar” mas  o presidente da CTP alertou, no seu discurso, para a necessidade de “uma gestão cada vez mais criteriosa” do território. “É preciso abandonar a ideia de que temos turistas a mais” ou que os turistas são “sinónimo de ameaça à sustentabilidade dos destinos”. Francisco Calheiros, na nota lida pelo vice-presidente da CTP, foi mais longe e afirmou que a verdadeira ameaça está na “incapacidade de antecipar, planear e intervir”, por exemplo, na “qualificação dos territórios”, na “mobilidade”, nas “infraestruturas aeroportuárias”, nas “forças de segurança pública”, na “melhor reutilização da água”, na “economia circular”, nas “estratégias de sustentabilidade ambiental”, na “qualidade de vida dos residentes” e na “economia digital”.

Francisco Calheiros abordou ainda o “novo ciclo político” prestes a começar. A CTP fez chegar às principais forças políticas “um conjunto de propostas” que visam “impulsionar a atividade turística no nosso país”. Entre outras propostas, o presidente da CTP referiu a necessidade de “assegurar uma correta articulação entre os fluxos turísticos” e a “sua distribuição pelo território português. Orgulhamo-nos de receber turistas em todo o país, em qualquer altura do ano”, afirma o responsável, acrescentando que o turista que “nos visita quer viver experiências autênticas”. Mas só uma “política séria e eficaz” de ordenamento e planeamento do território, que sirva, em primeiro lugar, a população, é que “as pode proporcionar”, sustenta.

“E porque é de pessoas que falamos”, deixou outros dois desafios no seu discurso: a “qualificação e formação profissional” e “demografia”. A transição para a digitalização e automatização “não será fácil” e muitos dos atuais postos de trabalho “tornar-se-ão obsoletos”, alerta. Mais uma vez, o presidente da CTP mencionou a necessidade de uma “política séria de reconversão para novas competências” com uma formação alinhada com “novas profissões”. 

Também a “escassez de mão-de-obra” qualificada é uma realidade. Neste sentido, a CTP propõe que sejam “estudados e criados canais de circulação de trabalhadores com outros países”, que se invista na “modernização e inovação do sistema educativo para fazer face às necessidades do mercado”, a aposta na “melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores” no Turismo, no que se refere à formação, retribuição e benefícios sociais, e, por fim, que a “ideologia ceda ao pragmatismo no que à especificidade do Turismo diz respeito”. Nesta ordem de ideias, Francisco Calheiros  sustenta que a atividade económica do Turismo “tem de ter um quadro jurídico laboral que tenha em conta as suas características intrínsecas”.

Em jeito de conclusão, Carlos Moura leu as palavras de Francisco Calheiros que alertou para aquele que considera como um problema demográfico: “Portugal tem um grave problema para resolver” nesse sentido. Para o presidente da CTP, é preciso “travar o envelhecimento populacional” e assegurar a “sustentabilidade demográfica”. Continua-se “sem conhecer soluções” e “medidas concretas que ajudem a combater”, afirma, reforçando a ideia de que o país caminha “perigosamente” para uma economia pouco sustentável. Neste sentido, a CTP está “disponível para colaborar na construção de uma estratégia de desenvolvimento”, acrescentando que “temos propostas e ideias para apresentar”.  Nas palavras do presidente, “temos a sustentabilidade de um país para assegurar” e o turismo “não vive sem pessoas”.