Depois da certificação do céu, Aldeias do Xisto preparam-se para acolher os astroturistas na terra

O Dark Sky Aldeias do Xisto é, desde julho de 2019, Destino Turístico Starlight. Esta certificação internacional, atribuída pela Fundação Starlight, reconhece as condições de excelência existentes nas Aldeias do Xisto para a observação do céu escuro e garante ao território um estatuto que outros não têm. É preciso, agora, apostar no “desenvolvimento do destino, da capacidade dos operadores, de uma comunicação especializada e de uma capacidade de formar guias para acolher os que se motivam por este produto”, afirmou o diretor executivo da ADXTUR – Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto, Rui Simão.

Um trabalho que requer parcerias sólidas e empenhadas e que justificou a sessão de trabalho que, no dia 3 de fevereiro, juntou parceiros públicos e privados na Pampilhosa da Serra. A reunião desafiou todos os presentes a pensar no papel que cada um pode desempenhar para este “ser efetivamente um destino Dark Sky”, como sublinhou o vice-presidente da Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra, Jorge Custódio.

A articulação de marcas e parceiros, a implementação de um observatório e respetivo projeto de design lumínico, a formação técnica de parceiros, o acolhimento técnico e científico, a ativação e animação deste novo destino, o marketing nacional e internacional e a avaliação de impacto, são os eixos estratégicos do projeto Dark Sky Aldeias do Xisto, cujo contrato foi formalizado em janeiro com o Turismo de Portugal, no âmbito do programa Valorizar.

Recorde-se que este projeto é liderado pela ADXTUR, em parceria com a Associação Dark Sky Alqueva e tem como co-promotor a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra. Completam a rede de parceiros iniciais o Instituto de Telecomunicações da Universidade de Aveiro e a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

Formação de guias e adaptação da oferta

“Temos o céu, temos a certificação, temos de criar atividades.” Foi assim que Apolónia Rodrigues, presidente da Associação Dark Sky, resumiu o trabalho que o Dark Sky Aldeias do Xisto tem pela frente. Em teoria, as condições estão criadas, mas é necessário “pegar na oferta existente e adaptá-la à noite”. Uma ideia que, parecendo simples, é um dos principais desafios do projeto, exigindo, por exemplo, maior flexibilidade nos horários de check out, ou das refeições. “Temos de captar as pessoas pelo que temos em terra, protegendo o céu”, complementou o astrofotógrafo Miguel Claro, chamando a atenção para a dimensão ambiental do projeto, designadamente o combate à poluição luminosa.

“Este é um turismo muito sensorial” e, por isso, explicou ainda a responsável do Dark Sky Alqueva, é preciso ter em conta fatores que podem afetar negativamente a experiência. “É preciso conhecer as especificidades do produto”, pelo que, além da criação de infraestruturas físicas, como o Observatório Dark Sky Aldeias do Xisto, a aposta na formação de guias do céu é indispensável.

Os parceiros privados presentes revelaram uma noção de oportunidade, prontidão e disponibilidade imediatas, colocando questões relacionadas com a operação turística e com foco no negócio, com por exemplo: “Quais os produtos a desenvolver e os custos associados?”, “Qual o perfil do astroturista?”, “Qual o tempo médio de visita?”, “Qual o universo potencial deste mercado?”. Questões cujas respostas ajudarão a definir o caminho.

Perfil do astroturista

Apolónia Rodrigues traçou o perfil deste turista: procura um céu escuro, um trabalho de proteção do ambiente, um território com identidade, genuíno, com bom acolhimento, tem grande poder de compra e pode não ter ligação a esta área de conhecimento. No Alqueva, o público americano é “cada vez mais importante”, sendo que a procura por parte do público chinês está a crescer. A responsável adianta, contudo, que a aposta passa por vários mercados, de modo a manter “o produto em funcionamento” e torná-lo menos vulnerável a susceptibilidades ou imprevistos. “É um caminho que não vai acabar”, concluiu Rui Simão.