“Destinos de cidade serão os mais impactados” na crise pandémica

Há quem defenda a teoria de um “novo” mundo ou de uma “nova” realidade no pós-Covid-19. Mas há quem acredite que tudo voltará ao que era. Filipe Santiago, managing partner consulting da BlueShift, foi um dos convidados da Ambitur para falar, esta quarta-feira, no webinar “Lisboa no Horizonte” sobre os desafios futuros que se colocam na procura dos turistas de cidade.

Para o gestor, o atual contexto tem de ser dividido cronologicamente. Assim, estamos na chamada “fase pandémica”, que se “prolongará até ao surgimento de uma vacina ou tratamento”. Esta fase é marcada pela “implementação de medidas mitigadoras” que se traduzem na suspensão de várias atividades mas também onde “estamos à espera de sinais que nos apontem no sentido de alguma normalidade” e o consumidor, “desejoso de viajar”, vive uma fase de “esquizofrenia”, até porque há “riscos inerentes” à viagem. Além dos “riscos de saúde” e de contágio do vírus, Filipe Santiago atenta noutros como o “risco da frustração”: “ Levo a minha família a passar férias e a experiência é horrível com hotéis que parecem clínicas e onde está tudo fechado”. A tudo isto, junta-se o “risco financeiro”, seja por perdas ligadas à viagem (perda de reserva “por motivos de mudança de medidas”, por exemplo), seja por questões de “desemprego” ou “receio face à situação financeira futura”.

Filipe Santiago considera que, na “fase pandémica”, os destinos de cidade sofrerão um impacto maior do que os de resort: “O mercado nacional é mais pequeno num destino como Lisboa do que num típico destino de férias e de famílias”, sustenta, acrescentando que do ponto de vista de experiências, a penalização ainda é maior quando se trata de destinos urbanos. O managing partner consulting da BlueShift considera que estes estão em desvantagem pois não têm certas valências: “No resort, eu tenho a componente de praia e outras condições para tirar mais partido da experiência do que num ambiente de cidade”, refere.

Fazendo jus ao ditado “depois da tempestade, vem a bonança”, também haverá esse período neste contexto: depois da “fase pandémica”, surgirá um período de ajustamento de crise económica e, depois, a recuperação. Estes últimos períodos serão marcados por uma “recessão forte” e uma possível “crise de dívida” com impactos significativos nos agentes económicos do setor e nos “bolsos” dos consumidores. “Cria-se um ciclo de crise económica” que se traduz num “período difícil de ajustamento”. Ao nível da estrutura industrial, o responsável afirma que será também um período de ajustamento marcado por encerramentos, “trocas de mãos, consolidação, profissionalização e entrada de investidores em Portugal”, trazendo, assim, consolidação e skills em termos de gestão. No longo prazo, a “indústria sairá mais fortalecida e mais competitiva”, afirma o responsável.

Relativamente às mudanças do turismo empresarial, Filipe Santiago acredita que o “único efeito duradouro” após a crise prender-se-á com o subsetor de eventos (MICE e corporate). “O ser humano tem uma capacidade de adaptação extraordinária”, diz, acreditando que “algumas viagens de corporate ou reuniões poderão deixar de existir quando se considerar que a presença física não seja precisa”. Nestas matérias, o responsável acredita que poderá ser uma ameaça para Lisboa: “É um destino forte em MICE e ainda com muito potencial a desenvolver”.

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