Distribuição (II): Os gestores do futuro

O setor das viagens em Portugal enfrenta os mesmos desafios que se colocam atualmente a outros setores da indústria do turismo e Ambitur falou com alguns gestores para perceber que desafios enfrentam e que soluções propõem para ser bem-sucedidos. É inegável que o acesso a recursos humanos qualificados e motivados é um dos principais desafios que o setor tem pela frente. Mas todos apontam que as empresas e os profissionais responsáveis pela sua gestão têm necessariamente de evidenciar competências como a agilidade e a capacidade de adaptação, assumindo-se cada vez mais como “especialistas”. Leia aqui a segunda parte deste trabalho, depois de já termos abordado a temática numa primeira parte da reportagem.

David Vidal

David Vidal, diretor comercial para Espanha e Portugal da Amadeus, defende que para terem sucesso, os gestores deste setor turístico “devem estar à vontade com os dados”, compreendendo como analisar os indicadores de liderança e de atraso, e transformar os dados em perceções acionáveis.

Miguel Quintas

Já o CEO da Consolidador.com, Miguel Quintas, começa por dizer que “o gestor do século XX morreu há muito tempo” para acrescentar logo de seguida que “o gestor dos primeiros 20 anos deste século ou consegue adaptar-se rapidamente ou vaticino-lhe o mesmo destino”. Para Miguel Quintas, o gestor moderno tem que ser “altamente flexível e adaptável, emocionalmente inteligente, saber comunicar muito bem, estar sempre informado, ler muito, aprender muito, aprender com os que fazem melhor, ser humilde o suficiente para realizar tudo isso”. E, claro, tem necessariamente que dominar as tecnologias atuais e conhecer as futuras. Por outro lado, diz, tem que saber trabalhar em equipa, compreendendo que “uma equipa é a soma dos interesses individuais”, conseguindo ser “a ponte de ligação” entre todos os anseios e sonhos dos membros dessa equipa e a visão estratégica da empresa, envolvendo a sua equipa e dando-lhe liberdade. Em termos de atributos, o responsável da Consolidador.com aponta ainda a capacidade de resiliência como fator essencial.

Frédéric Frère

Frédéric Frère defende que as empresas da distribuição turística precisam, cada vez mais, de gestores “especialistas”, com competências reforçadas nas diferentes áreas de negócio, ou seja, especialistas no marketing, na gestão e recursos humanos, na contratação e relação com fornecedores, no planeamento e controlo de gestão, entre outras áreas. Outra competência crítica apontada pelo CEO da Travelstore é a tecnologia, mas reconhece que esta possa estar subcontratada pois muitas empresas não terão a dimensão suficiente para sustentar gestores especializados nesta área. O responsável indica ainda que os melhores gestores devem ter “capacidade de identificar formas de entregar diferenciação competitiva nos seus respetivos mercados e, de seguida, reunir as capacidades críticas para executar a mesma”.

Para o empresário, a indústria do turismo tem muito a seu favor para atrair gestores de qualidade, permitindo a sua evolução profissional com estratégias de remuneração adequadas. E lembra que “atrair talento está ao alcance de todos e não é necessariamente uma questão de poder económico da empresa”. Fréderic Frère acredita que o que faz a diferença na atração de gestores de qualidade é a qualidade daqueles que os procuram. “Uma empresa até pode ter uma proposta de valor robusta para entregar ao mercado mas, se os seus líderes não conseguirem adotar posturas de quem sabe que tem à sua volta seres humanos e não máquinas, então não conseguirá atrair o melhor talento”, resume.

Tiago Encarnação

Também o administrador da Lusanova está otimista de que a atração pelo turismo, embora tenha diminuído, voltará a níveis iguais ou superiores a 2019. Tiago Encarnação diz ainda que as empresas turísticas deverão focar-se, além das hard skills, que mais facilmente poderão trazer o lucro rápido, em gestores com habilidades como o confronto eficaz, a empatia e paciência, capazes de conduzir ao sucesso. “O turismo sempre foi uma atividade de pessoas para pessoas, em que o contacto é fundamental e, dessa forma, as capacidades humanas tornam-se claramente um fator primordial para o sucesso desta atividade”, sublinha.

Por Inês Gromicho

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