Do consumo da experiência à vivência turística

Por Catarina Nadais, coordenadora da Licenciatura em Turismo do ISAG EBS

Catarina Nadais

Desde que deixou de ter como principal orientação a necessidade, o consumo passou a ser dirigido por uma vontade hedonista. A sociedade hipermoderna, conhecida por sociedade líquida, do espetáculo, do risco e do divertimento é caracterizada pela velocidade, simulação e imprevisibilidade. Ao mesmo tempo que apresenta produtos com ciclos de vida cada vez mais curtos, também a procura é flutuante, os consumidores são mais exigentes e alteram as suas preferências e necessidades com a mesma velocidade que o mercado lhes dá resposta. Esta constante mudança exige uma análise cuidada e atenta às dinâmicas de comportamento do consumidor, a partir das quais se identificam e definem tendências, nomeadamente num cada vez mais rápido e comum ciclo de consumo desejo-aquisição-posse-descarte.

Os produtos de lazer são consumidos como meios para aceder a atividades e momentos que de alguma forma se diferenciem de atividades rotineiras. A aquisição e experiência deste tipo de produtos é uma procura de significados e de prazer pelo consumidor, na medida em que resultam da sua escolha individual e lhe concedem uma sensação de liberdade e compensação.

Neste domínio, a chamada economia de experiências promove atividades que representem oportunidades para aceder a emoções e sensações intensas no destino, tendo como base a autenticidade, momentos únicos e memoráveis, tendo por base o assegurar de um aumento de valor associado ao consumo. Assim, é oferecida ao cliente uma experiência que dê resposta à necessidade de aceder ao êxtase, tão ausente do ambiente rotineiro. Na verdade, talvez o que todos procuram seja a vivência, e não a acumulação de experiências e de valor. A vivência, mais do que a valia económica, é o conhecimento do sujeito e do meio, o que permite uma verdadeira conexão entre os dois, de forma sensorial, emocional, cenestésica e visceral e que, por isso, é memorável e duradoura. Provavelmente, só uma conexão a este nível permita verdadeiramente uma sustentabilidade da atividade turística.