“É indispensável rever os Planos Diretores Municipais”

Quatro são os problemas de fundo do Algarve para os quais não há qualquer plano de resolução. Para Mário Ferreira, administrador dos Nau Hotels and Resorts, estas questões estruturais condicionam já hoje o desenvolvimento económico e turístico da região, mas no futuro irão condicionar mais. O responsável fez parte da abertura do XIV Congresso Nacional da ADHP (Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal), que decorre em Albufeira, e que tem como tema “O turismo de pessoas para pessoas”.

Para Mário Ferreira, “tudo parece estar bem neste setor, tendo em conta os indicadores que apresenta, mas é nestas alturas que políticos, empresários e dirigentes, devem redobrar a atenção e cautelas, refletir, estudar e planear o futuro, e investir onde faz falta para que o setor mantenha pelo menos o vigor que vem demonstrando e possa continuar a crescer e a evoluir”. De acordo com o responsável, entre muitos aspetos que devem merecer reflexão, estudo planeamento e ação, são quatro os que o preocupam especificamente, que não são problemas diretos do turismo mas que o poderão afetar decisivamente se não forem resolvidos.

Um deles é a segurança, “onde é necessário que os que nos visitam sintam a prevenção”. Outro, relativo ao Sistema de Saúde, “leva a que o Hospital do Algarve esteja planeado para a população nacional residente, mas há uma vasta população residente estrangeira e turistas aos milhões. Há um só Centro Hospitalar em Faro cheio de deficiências e uma insuficiência gritante face à dimensão do território para a população residente e flutuante”, considera Mário Ferreira.

Outro problema que preocupa o administrador é o da água. “Vivemos recentemente meses abruptos de falta de água. São as alterações climáticas, aumento de residentes, aumento de turistas, aumento de explorações agrícolas, de campos de golfe, tudo a consumir água. É urgente investir no sistema de captação e armazenamento de água, assim como num plano para a reutilização de águas residuais e, quem sabe, até pensar no futuro em certas regiões do país num plano de dessalinização”, indica.

Para último, Mário Ferreira deixou o problema dos recursos humanos: “A falta de recursos humanos é outro dos problemas, quando faltam 30 a 40 mil trabalhadores, já hoje, e só no Algarve. Serão mais no futuro. Neste momento a crescer à questão dos salários, não há onde alojar as pessoas e os transportes públicos são deficientes. No caso do Algarve faltam casas”.

Para o orador “é necessário investimento imobiliário, não turístico. Para tal é indispensável rever os PDMs Municipais, que nunca foram revistos na sua globalidade, não numa ótica de imobiliária turística especulativa, mas numa de atração demográfica que incite investidores privados ou públicos a realizarem projetos habitacionais que tragam e fixem novas populações. Existem milhares de metros quadrados em zonas REN, em zonas agrícolas condicionadas, rede Natura, muitas vezes rodeadas de casas, próximas dos meios urbanos que se expandiram, onde não se pode construir porque os PDMs não deixam”.

Resumindo e concluindo, Mário Ferreira indica que “se há planos para outros fatores que preocupam o desenvolvimento do turismo, para estes não há, e isso deve ser uma preocupação”.