Empresários debatem gestão de custos na Hotelaria na VI Convenção da HotelShop+SocialShop

O tema “Gerir Custos em Hotelaria” abriu a mesa redonda da VI Convenção da HotelShop+SocialShop que decorreu esta terça-feira no Altis Grand, em Lisboa.

Há diferenças entre “gestão de custos” e “gestão de compras”. Sobre esta última, Diogo Laranjo, dos Hotéis Heritage, começa por definir o termo como “um ato normal do dia-a-dia” que se faz a nível pessoal ou profissional. Já a “gestão de custos” requer uma “atenção muito grande na atividade” , isto é, “tentar comprar o melhor ao custo mais adequado”, o que “nem sempre significa ser o mais baixo”, refere.

Dentro dos “custos”, Paulo Duarte, da Memmo Hotels, opta por destacar “as pessoas” como sendo o “custo mais importante”. Para o responsável, os hotéis enfrentam uma grande dificuldade em “captar e reter talento”, apontando que há “poucos recursos qualificados” e uma “enorme rotatividade de pessoas”. Neste cenário, o empresário acredita que o foco “não deveria ser em saber como reduzir os custos” mas “sim aumentar”, acrescentando que “as contas são muito diferentes de há uns anos”, nomeadamente nos “níveis salariais” em Portugal.

Para Pedro Fernandez, do Pestana Hotels & Resorts, “custos” é algo que “fazemos no dia-a-dia”, crendo que a questão essencial anda à volta de outro tema: “Salário é uma coisa; produtividade é outra”, sublinha. Embora a questão salarial “devesse ser mais alta”, o responsável aponta a “questão da produtividade que é tirada desse rendimento”, ou seja, “se houver mais produtividade, o salário tende a ser mais alto”.

Da mesma opinião, Diogo Laranjo destaca que os recursos humanos são um “problema transversal”, acrescentando que “existe pouca motivação para trabalhar”. A questão salarial assume um peso significativo, mas há outras condicionantes: “Quem escolhe trabalhar na indústria hoteleira sabe que vai trabalhar aos fins-de-semana ou em turnos”, refere, acrescentando que os “períodos de férias coincidem com alturas que não são as mais apetecíveis”. Na visão do responsável, “há uma série de problemas que afastam as pessoas de trabalhar nesta indústria”. Já sobre a“falta de produtividade”, Diogo Laranjo afirma que não é aplicável apenas à indústria hoteleira mas sim ao país. “Há coisas que estão enraizadas em Portugal”, afirma, exemplificando com a “falta de pontualidade. É normal chegar-se atrasado”.

“A produtividade é o retorno que um hoteleiro tira do salário que paga à pessoa”, afirma Paulo Duarte, partilhando da opinião de que Portugal “tem um problema de produtividade” em relação a outros países na Europa. A “incompetência geral que existe na gestão” é, para o responsável, um fator da “falta de produtividade”, destacando a “falta de visão” destes profissionais.

Com uma “visão futurista”, Pedro Fernandez destaca que hoje em dia a contratação de jovens é diferente, cabendo ao hoteleiro adaptar-se às novas realidades. “A minha geração dava importância ao refeitório” mas “a geração atual dá mais valor ao Wi-Fi”, pelo que é “fundamental” ao grupo ou ao hotel estar “preparado” para atender a esses pedidos. “Há uma série de questões” que se devem ter em conta no momento do recrutamento como, por exemplo, “pensar no alojamento das pessoas” e na “qualidade do mesmo”, afirma o responsável. “Hoje, um jovem quer ter uma experiência, não quer trabalhar”, pelo que “cabe a nós entender isso”, criando um “ambiente propício” para tal.

Outsourcing é a solução?

Diogo Laranjo considera que o outsourcing é algo que “veio para ficar”. Nos Hotéis Heritage Lisboa, o responsável refere que recruta diretamente mas também recorre a este tipo de política, existindo na rede uma “forte componente de pessoas que já lá trabalham há muitos anos”, sendo uma realidade “difícil” de encontrar na cadeia, acontecendo “raramente”. 

Já para Paulo Duarte, o serviço de outsourcing “pode colocar em risco a qualidade de serviço”, acreditando que “conseguimos garantir uma qualidade superior” através de “recursos próprios” sem recorrer a este tipo de políticas. No entanto, indica que hoje em dia é algo “inevitável” em alguns departamentos hoteleiros, sustentando que a lógica do Memmo Hotels passa pela contratação. O responsável nota que as novas gerações “valorizam muito o tempo”, acreditando que as profissões do futuro  deverão “trabalhar menos horas mas com mais produtividade”. Neste cenário, Paulo Duarte destaca que estas gerações estão em vantagem, tendo o “maior nível de educação da nossa história” e, assim, contribuem “para o desenvolvimento do país”. Com isto, o responsável considera que os “hotéis estão muito fechados no seu mundo”, devendo “abrir as portas” a outras áreas para adquirir outro “know-how” que pode ser fulcral neste “caminho dos recursos humanos”, considera.