Entrevista DST Macau: “Portugal está a abrir-nos portas na Europa”

A Ambitur esteve à conversa com Maria Helena de Senna Fernandes, diretora da Direção dos Serviços de Turismo de Macau. A ideia foi perceber quais as atribuições desta entidade num território marcado por uma forte influência histórica portuguesa e quais as ambições para reforçar a promoção de Macau em Portugal.

O que é a Direção dos Serviços de Turismo (DST) de Macau? Ou seja, quais as suas competências e âmbito de atuação?

A Direção dos Serviços de Turismo de Macau tem várias competências em Macau. Por um lado, é a entidade que emite licenças para agências de viagens, hotéis ou guias turísticos. Também emitimos licenças para outras atividades como restaurantes, bares, karaokes, saunas, massagens, health clubs, entre outros. Temos um grande leque de atividades sob a nossa responsabilidade, sendo esta uma parte importante da nossa atividade. Com o licenciamento também vem a fiscalização e inspeção.

Por outro lado, temos uma outra grande função que é promoção para atrair turistas para Macau. Também atuamos na organização de grandes eventos e somos responsáveis por estudos e pesquisas. Focamos a nossa atenção ainda em organizações internacionais, promovendo uma boa relação com a imprensa local e internacional, pois por aí há muito trabalho a fazer para que Macau fique mais conhecido internacionalmente.

Quais as vossas linhas gerais ao nível da promoção de Macau?

Neste momento fazemos promoção junto dos mercados principais mas, ao mesmo tempo, o Governo quer que, daqui para a frente, nos concentremos mais nos mercados internacionais.

Queremos que Macau continue a ser um local onde as diferentes culturas possam estar em harmonia. Esta é uma vertente em que também participamos.

Da nossa parte, ao nível da nossa função de promoção, promovemos o destino ao mesmo tempo que promovemos os eventos, não só aqueles organizados pela DST, mas também os que são organizados pelos vários departamentos governamentais e pelo setor privado. Somos um grande promotor de Macau utilizando os vários elementos que temos ao nosso dispor para atrair as pessoas.

Estão a desenvolver algo ao nível dos produtos turísticos?

Macau tem vários grandes eventos durante o ano. A começar a época da primavera, temos a anteceder o novo ano chinês a Parada de Celebração do Ano do Dragão em diferentes locais de Macau. Esta é uma altura de grandes espetáculos de fogos-de-artifício, a que se junta o desfile do dragão, que são os eventos que marcam o novo ano chinês.

Depois temos a nossa feira de turismo, a MIT – Macau Internacional Travel Industry Expo, que começou como um evento do setor privado, mas acabou por ser um evento em conjunto com o Governo. A feira está cada vez maior, ocupando hoje três halls. Assiste-se a uma crescente procura por parte de participantes não só dos mercados mais tradicionais da Ásia, como também da América Latina e alguns países árabes. Cada vez mais a feira em si está a servir não só para promover Macau, mas para ajudar outros países ou destinos a promoverem os seus produtos para o mercado chinês. Queremos ser esta plataforma.

Temos também, todos os anos, em setembro, o nosso Concurso Internacional de Fogo-de-artifício, onde participam 10 países. Este é um evento que já tem a sua audiência na Ásia. De referir que China, Portugal, Japão e Tailândia têm aqui uma participação tradicional.

No fim-do-ano temos sempre o Iluminar Macau, um festival de luz com uma duração de dois a três meses, dependendo do ano novo chinês. Esta é uma maneira de incentivar as pessoas a saírem de casa no inverno e irem para os diferentes bairros de Macau. É uma outra forma de chamar a atenção do público, sejam os nossos cidadãos ou residentes, mas também os nossos visitantes ou turistas, a irem além dos locais mais visitados ou populares.

Que tipo de envolvimento há, da vossa parte, nos grandes eventos que se organizam em Macau, seja culturais, desportivos, entre outros. São somente parceiros ao nível da sua comunicação e promoção?

Somos organizadores. Há outros eventos em Macau, como o Festival de Artes e de Música, promovido pelo Instituto Cultural de Macau, que este ano também avançou com um Festival de Artes para crianças, com uma colaboração com o Centro Pompidou, em França. Daqui para a frente há a possibilidade de aparecerem mais eventos culturais em Macau.

Na vertente desportiva também temos vários eventos, desde o Grande Prémio, maratona, corrida dos barcos-dragão, entre outros. Para o ano, vamos ser parte organizadora dos jogos nacionais da China, sendo que acolheremos parte do evento com provas de basquetebol, pingue-pongue e outros. Vai ser uma organização conjunta entre Macau, Hong Kong e Guangdong. Vamos atrair muitos chineses, mas contamos atrair com este evento pessoas para além da China. Será em novembro do próximo ano, em princípio na mesma ocasião do Grande Prémio de Macau.

Que tipo de apoio estão preparados para fornecer às empresas que pretendem de uma forma ativa vender/comercializar Macau ou a China à partida de Macau?

Estamos muito virados para os mercados internacionais, por isso, ultimamente, estamos a fazer bastantes seminários e também roadshows, sobretudo em grandes centros de negócio em grande parte do mundo, sobretudo na Ásia e Dubai. Para o próximo ano estamos a ponderar participar na Fitur, em Madrid, este ano estivemos na BTL, em Lisboa. Há muito que queremos fazer junto dos mercados internacionais.

Relativamente aos hotéis e agentes de viagens de Macau, quando participamos em eventos internacionais abrimos sempre a possibilidade para que se juntem a nós, assumindo só o custo da sua viagem, tudo o resto é suportado pelo Governo, até o aluguer do stand. Em novembro já temos a nossa programação a ser ultimada e faremos um briefing para todos os nossos parceiros. Depois permitimos que eles, através de registo online, participem nas diferentes atividades promocionais do nosso plano. Só depois então, tendo em conta a participação registada, avançamos para a contratação dos eventos.

Além da Fitur, vão participar na BTL?

Se a APAVT não estiver na BTL, o que parece ser a realidade, ponderamos fazer outra iniciativa com eles. Estamos abertos a tudo. Sempre tivemos atividades em Portugal. Portugal sempre será importante para nós. Macau como uma plataforma de serviços entre a China e os países de língua portuguesa significa que continuamos a ter bons laços. Portugal é um ponto fulcral para nós.

Iremos continuar a fazer o nosso trabalho junto do mercado português. Para o ano, receberemos o Congresso da APAVT em Macau, que será uma boa oportunidade para mostrar o que temos de novo desde o último Congresso da associação na nossa região. Há um novo Centro de Convenções, novos hotéis, novas atrações, por isso muito para mostrar.

Macau hoje é uma plataforma de ligação entre a China e os países de língua portuguesa. Portugal é o país com o qual temos uma relação mais trabalhada.

É também através do nosso parceiro APAVT, por exemplo, que receberemos a conferência da ECTAA no próximo ano em Macau, embora não seja um evento de grande dimensão. Ou seja, por esta via, Portugal está a abrir-nos portas na Europa.

Como devem as empresas portuguesas ou europeias olhar para o negócio turístico em Macau?

Para a Europa temos que combinar o produto de Macau com os nossos vizinhos. Se olharmos do ponto de vista da Europa para Macau a via preferencial será Hong Kong, teremos nesse contexto de trabalhar essa ligação, que é uma boa entrada para Macau. Agora, com a ponte que liga diretamente Hong Kong a Macau, temos muito mais vantagens e possibilidades de fazer produtos interessantes para a nossa região. Com a ponte temos inclusive uma linha de autocarro direta de Macau para o aeroporto internacional de Hong Kong.

Este ano já lançámos uma campanha em que oferecemos o ticket do aeroporto para Macau aos turistas internacionais. Para aqueles que estão em Hong Kong há sete dias oferecemos um viagem de barco para Macau.

Para o ano o Congresso da APAVT vai ser em Macau, e vamos tentar aproveitar esta oportunidade não só para mostrar Macau, mas também os territórios vizinhos, porque quem vem de tão longe não quer só vender Macau, mas sim um produto integrado,o que chamamos a Grande Baía do Delta – Hong Kong, Macau, Shenzhen, Guangzhou ou outras áreas. A China está a abrir vistos unilateralmente para muitos países, por isso esta também é uma boa oportunidade de aproveitar.

Caso empresas portuguesas (ou europeias) pretendam aprofundar o seu negócio turístico em Macau, a que canais (organismos) devem preferencialmente recorrer?

Podem falar diretamente connosco. Temos esse papel e diretamente a responsabilidade de trabalhar com diferentes parceiros que queiram trabalhar ou trazer negócios para Macau. Por exemplo, para grandes conferências temos um outro parceiro muito importante que é o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento. A nossa intervenção direta incide na captação de turistas de lazer, de incentivos.

Como se pode definir hoje Macau para os seus visitantes e turistas portugueses/europeus?

Macau tem sempre dois importantes cartazes: o primeiro é ser Património Mundial da UNESCO, desde 2005, com raízes chinesas e portuguesas. Esta é a identidade da região, uma coexistência orgulhosa entre Portugal e China de muitos séculos. Temos outro cartaz que é o do Património da Gastronomia.

Para o nosso Governo, é necessário que o turismo não sirva só os turistas. O ano passado, o Governo lançou em novembro um novo planeamento a cinco anos e um dos primeiros objetivos é a diversificação da economia de Macau. A designação 1+4 remete-nos no 1 para o turismo integrado, sendo que é este que tem de ajudar novas indústrias a crescer, no 4 temos a tecnologia, serviços financeiros, saúde e bem-estar e, a última, comércio, convenções, cultura e desporto, uma grande área. Por isso, o nosso papel daqui para a frente não é só atrair turistas, mas também ajudar as outras indústrias a crescerem e a desenvolverem-se nos próximos anos.

Qual a evolução da oferta turística do vosso território nos últimos anos e onde se tornou mais valorizada?

Temos novos hotéis, temos um novo Centro de Convenções, há mais a acontecer em Macau, sobretudo espetáculos. Há muitas oportunidades de atrair concertos de grande e pequena dimensão, clássicos ou contemporâneos. Até ao final do ano, o Governo lançará um novo espaço ao ar livre para concertos de 50 mil pessoas. As infraestruturas estão em curso e visam eventos de mega dimensão. Poderemos ter o primeiro concerto ali ainda este ano.

O que enfatizaria em Macau para os seus visitantes?

A identidade singular de Macau. Não é propriamente a Ásia, não é propriamente a Europa, é uma combinação destas duas dimensões. Eu costumo dizer somos uma combinação do sul da China com o sul da Europa.

Ao nível hoteleiro, como tem o território evoluído nos últimos anos. Conta hoje com mais investimentos e marcas internacionais?

Neste momento temos licenciados 48 mil quartos. Há hotéis em licenciamento, alguns por construir. Em dois a três anos, poderemos ultrapassar os 50 mil quartos. Banyan Tree, Marriott, W Hotels, o Sheraton vai ter um rebranding, Andaz Macau, Raffles Hotels. Brands locais e internacionais numa oferta diversificada.

Quais os vossos objetivos para o mercado português?

É um mercado ainda pequeno, mas está em crescimento, temos que continuar a trabalhar nos mercados europeus. Temos a ideia de que há interesse em visitar Macau, mas a viagem é longa e ainda não recuperámos a totalidade da oferta dos voos que tínhamos. Vamos continuar a lutar.
Antes da pandemia tínhamos 15 mil turistas portugueses, este ano estamos abaixo dos 10 mil. Até agosto deste ano temos quase seis mil, o que representa um aumento de 80%, homologamente.
Ao nível internacional, este ano, queremos mais de dois milhões de visitantes, antes da pandemia tínhamos três milhões.

Ligações aéreas mais diretas poderiam impulsionar todo o trabalho que estão a fazer entre os dois países?

Não temos mais notícias sobre esse tema da Air Macau. Vamos continuar a esperar e, ao mesmo tempo, a trabalhar com companhias aéreas que voam para Macau, assim como com aquelas que voam para Hong Kong. Fazemos promoção junto delas e estamos sempre abertos a qualquer outra colaboração.

O organismo público Turismo de Portugal poderia ser um parceiro pertinente na consolidação destes dois territórios de língua portuguesa?

Oferecemos o stand ao Turismo de Portugal, dentro da nossa feira, e daqui para a frente vamos trabalhar em conjunto.

 

Quem é… Maria Helena de Senna Fernandes?
Qual o seu percurso profissional?
Eu sou formada em Marketing e Business, na Faculdade da Cidade de Macau que, na altura, era Faculdade Ásia Oriental. O meu primeiro trabalho foi num banco local em Macau, depois ingressei no turismo, há muitos anos, sempre no Governo.
O que nunca deve esquecer um bom gestor?
Tem que estar presente a ideia que há sempre coisas para melhorar.
Por Redação Ambitur.