“Os tempos são de mudança e de adaptação” (I)

Fundamental para a balança de transacções, o turismo é, para Francisco Calheiros, “o grande exportador da nossa economia”, pelo que promete que não sai da CTP sem lhe darem a “devida atenção”. O presidente da Confederação do Turismo Português dá conta, em entrevista, que uma das principais preocupações do sector são os problemas que afectam os Casinos nacionais. A CTP fez chegar ao Ministro da Economia a sua preocupação sobre esta matéria e ofereceu-se para mediar esta questão. Sobre a TAP, Francisco Calheiros é peremptório: “Temos a nossa principal companhia aérea com lugares a menos e clientes a mais; a empresa necessita de mais equipamento e paz social”.

 

É visível uma estratégia de desenvolvimento turístico em Portugal?

Temos que ir um pouco atrás nessa análise. Estamos num momento de alterações profundas, e muitas delas demoram, não meses, mas anos. Na minha tomada de posse, pedi aos governantes que não mexessem nem falassem no turismo porque havia um caminho traçado e isso não aconteceu. De facto há uma consciência que o turismo é um desígnio nacional e de importância vital para o país, mas o que se passa é que não tem havido tempo, nem disponibilidade para tratar o turismo da maneira que merece e pode ser desenvolvido. Este foi também um dos pressupostos que me levaram a ir para a Confederação do Turismo. Pretendemos colocar o turismo no mapa, apesar de não estarmos na melhor altura para o fazer. Estamos a atravessar um tsunami e o que se pode fazer nestas alturas? Temos que nos proteger e esperar que o pior passe. Se é este o timing para definir grandes estratégias para o desenvolvimento do turismo nacional? Não sei, mas sei que podemos aproveitar o momento para nos tornarmos mais objectivos. Por outro lado, não gosto de entrar na política do “bota abaixo” e estou com o mesmo espírito na Confederação do que aquele que tenho tido nas empresas por onde tenho passado: para discutir o que está bem feito, não estou cá! Estamos aqui para ajudar a melhorar o que está menos conseguido. Não vou falar num sem número de medidas que o Governo tem tomado que congratulamos, ao nível do Compete, Jessica, Ordenamento do Território, Legislação Laboral, financiamento, entre outras. A Secretaria de Estado do Turismo tem promovido vários encontros, road shows, entre outros. Agora pretendemos corrigir o que está menos bem. Temos algumas situações complicadas em que continuamos a intervir, apelar a mais promoção, vincar posições contra os pagamentos na ex-Scut e contra o aumento do IVA na restauração e no golfe, por exemplo.

Qual a vossa posição relativamente ao Plano Estratégico Nacional do Turismo, cuja revisão está em consulta pública?

Estamos neste momento numa fase de recolha de opiniões dos nossos associados, para enviarmos a nossa posição à Secretaria de Estado do Turismo. Esta é uma iniciativa boa, assim estejamos à altura, para que o PENT seja o mais profícuo possível e de acordo com o que os empresários necessitam. Temos as nossas ideias relativamente ao PENT, mas desde logo há questões que saltam à vista. Por exemplo, o PENT enferma de uma previsão de crescimento de número de turistas que ninguém acredita, sendo que as previsões valem o que valem. Prevê-se aumentos assinaláveis ao ano, de 3%. Existe uma cautela extremamente acentuada nos empresários do turismo quanto as estas previsões. Não convém esquecer que este ano se mantêm as expectativas em baixa face ao nosso principal mercado, que é o português, e também face ao segundo que é o espanhol. O que se fez em 2012, por parte dos empresários turísticos nacionais foi “inventar” turistas de outros mercados. Foi um esforço enorme no sentido de colmatar a lacuna dos dois nossos principais mercados.

Já chamou a atenção para a falta de estatísticas credíveis, no turismo nacional, este PENT é desenhado sobre as que existem…

Falar das estatísticas no nosso país é colocar o dedo na ferida. O problema é que no momento actual há muitas prioridades. Mas a ideia é criar-se um Observatório do Turismo. Temos que tentar combater todos os dias a reactividade. Temos de ser pró-activos, mas não é fácil quando temos tantos temas em cima da mesa como a promoção, os preços da hotelaria que têm que subir, custos de contexto a aparecerem todos os dias às empresas, a privatização da Ana, a privatização da TAP, que não aconteceu.

A não privatização da TAP criou um problema, no seu entender?

Somos um país que depende em mais de 80% do transporte aéreo. É evidente que a TAP é um elemento estrutural para o turismo português e é vital sabermos o que se vai passar com a TAP. A TAP é uma empresa que neste momento precisa de investimento, porque precisa de mais capacidade e equipamento para poder fazer mais voos. Ou seja, o vital na privatização da TAP é que o comprador tenha capacidade de investimento na TAP, para que esta possa alargar o seu equipamento e termos mais ligações, por exemplo, para Moçambique, Moscovo, Miami, entre outros, onde há espaço para maior oferta. Isto terá de ser reactivo, porque ninguém tratou desta questão atempadamente. Se fosse Governo lançava um segundo processo de privatização da TAP, sem qualquer dúvida. Temos a nossa principal companhia aérea com lugares a menos e clientes a mais, a empresa necessita de mais equipamento e paz social.

Publicada na edição nº 256 da Ambitur, apresentamos aqui a primeira parte da entrevista.

(A entrevista foi realizada em meados de Janeiro, antes da substituição do executivo na Secretaria de Estado do Turismo.)