“O Grupo Azinor tornou-se o projecto da minha vida” (II)

Foi na esplanada do imponente Myriad by SANA Hotels, com vista para o rio Tejo, que Carlos Silva Neves, administrador do Grupo Azinor e da SANA Hotels, recebeu a Ambitur para uma conversa que nos levou ao início de uma cadeia 100% portuguesa que tem vindo a investir no país com unidades que marcam. Formado em Direito, o nosso entrevistado não nega a paixão que nutre hoje pela hotelaria, e em concreto, pelo que a SANA Hotels tem vindo a fazer no panorama turístico nacional e internacional.

Como veio parar ao turismo?

Sou licenciado em Direito, exerci advocacia durante oito anos, entre outras áreas estava muito ligado à área do franchising, trouxe a Remax para Portugal, criei toda a parte jurídica da Loja das Sopas, era o responsável jurídico por todos os conceitos ao nível do franchising que na altura apareciam em Portugal. Também era advogado do grupo Azinor e da SANA Hotels. A dada altura, em 2006, devido a uma relação muito próxima com o Sr. Nazir, o Sr. Azim e o Dr. Salim, integrei o grupo Azinor e, consequentemente, a SANA Hotels como administrador. Acompanhei deste modo o crescimento muito acelerado deste grande grupo.

O que sentiu quando o convidaram para administrar um projecto turístico?

A advocacia caiu deste modo, obviamente tenho conhecimentos jurídicos e envolvo-me com as equipas de advogados, mas entrei para o sector sem experiência da actividade. Isto também me permitiu dizer as coisas que um hoteleiro não podia dizer, porque a mim, se calhar, me perdoavam os erros, mas penso que conseguimos trazer algo mais a esta actividade. Os vectores que definimos correram bem, é importante que também haja pessoas que não estejam propriamente ligadas ao sector para fazer desenvolver as coisas ou, pelo menos, ajudar a surgirem novas ideias.

Que ideia lhe ficou do sector numa primeira análise?

Havia alguns nichos de mercado descurados e fomos aproveitar essa realidade, ao nível do corporate e da definição de produtos para a viragem da qualidade e captação desses nichos a nível internacional. Fazer produtos a pensar no país, mas virados para o exterior, e pela qualidade captar clientes, porque tenho a particularidade de gostar de viajar e vejo as tendências que existem lá fora. A tendência é para acabarem, ou serem abandonados, os conceitos hoteleiros muito formais que hoje ainda existem. Hoje em dia, as pessoas vivem num mundo de alta tecnologia e de informalismo. São muitos detalhes que, muitas das vezes, transpostos para o conceito hoteleiro, definem e marcam uma diferença completamente diferente.

Como descreve o ADN deste grupo?

O ADN do grupo está relacionado com três grandes princípios, o rigor, a excelência e a seriedade. Estes são os três pilares transmitidos pelo nosso líder, Sr. Nazir. Este é o ADN que queremos implementar na empresa, e tudo o resto vem por acréscimo. O restante vem pelo esforço de trabalho dos nossos colaboradores, que se esmeram no seu dia-a-dia, e pelo prazer que eles têm em trabalhar. Temos aqui um bom ambiente de trabalho, um ambiente familiar. Sou administrador do grupo, mas falo com todos os colaboradores, cumprimento-os, aqui dentro sou o Carlos Neves, tenho uma relação de simplicidade e humildade com estes. Estes são princípios genuínos, não são forçados, é uma cultura da empresa. O mesmo sucede com o Sr. Nazir. Há pequenas coisas que não são visíveis mas que motivam as pessoas.

Qual o hotel com maior simbolismo para si?

Um que nunca vou poder esquecer é o SANA Lisboa. Foi na altura que a SANA Hotels tinha iniciado o seu crescimento, aliás acompanhei todo esse processo, ainda não a tempo inteiro, fui das pessoas que indiquei aquela localização. Tinha já aprendido um princípio na advocacia que transportei para a hotelaria, na altura em que tratava dos negócios dos franchisings, e que aprendi com a McDonalds, que é o princípio da importância da localização. Num hotel, a não ser que seja uma unidade destino, em que uma pessoa faça 400 quilómetros para lá ir, a localização é fundamental. E por isso não posso esquecer o Sana Lisboa.

Qual o hotel dos seus/vossos sonhos?

Um hotel dos SANA é a concretização de um sonho e projectar um hotel SANA é sempre um sonho. Todos os nossos hotéis são os nossos “bebés” e são o sonho de todos nós. Se amanhã decidirmos fazer um hotel na Cidade do México ou no Brasil, este será a projecção de um sonho. Se temos vindo a concretizar os nossos sonhos? Temos.

Vê-se a continuar a trabalhar nesta área por muitos anos?

Eu era um jovem, e ainda não estou velho, que estava bem na advocacia. Terminei o meu curso relativamente cedo, na vida é preciso ter uma pontinha de sorte, mas também é preciso trabalhar. Estava bem na advocacia e tinha bons clientes. Podia nunca ter saído da advocacia, o que significa que o grupo Azinor se tornou o projecto da minha vida. Espero um dia ir para a reforma com saúde, continuando a visitar os novos hotéis de helicóptero, quando já for velhinho. Mas também espero que aconteça o mesmo à grande equipa de profissionais da SANA Hotels.Tenho que dizer uma coisa muito importante, o grupo Azinor dá estabilidade às pessoas. Temos colaboradores com trinta e vinte anos de casa, muitos de empresas que comprámos e continuaram na empresa. A estabilidade e tranquilidade são muito importantes num projecto. Obviamente reconhecemos que na parte hoteleira há volatilidade, porque faz parte das regras do mercado que haja convites de outras empresas. Mas posso-lhe dizer que isso no nosso grupo não tem expressão, o que é um bom sinal. O espírito de equipa da SANA Hotels é muito bom.

Que opinião tem do associativismo turístico?

O grupo respeita e reconhece que, nalguns pontos, tem feito um bom trabalho. Mas também já disse que, e esta é uma posição pessoal, muitas das vezes o nosso associativismo é como vários galos na mesma capoeira. Em situações estratégicas, mas também no Governo, não podem estar de costas voltadas, têm que se unir. Tem de haver união em estratégias basilares para o desenvolvimento do turismo nacional. Isso não se verifica muitas vezes. Mas o mais importante é dar tranquilidade às pessoas que estão no terreno e que operam. A desburocratização dentro de uma legalidade, os licenciamentos, são questões fundamentais que se têm de trabalhar. Não há dúvidas que nos últimos anos já foram dados passos importantes, por exemplo, ao nível do licenciamento, onde os processos eram muito complicados, levando dois a três anos, começando-se a implementar o produto com o conceito já desactualizado. As mentes vão se abrindo e despertando. Há uma coisa que o turismo reivindicou que é o princípio da globalidade e hoje vivemos num mundo fechado. Na altura dos Descobrimentos, Vasco da Gama, com recursos limitados chegou onde chegou, hoje com muitos mais recursos, limitamo-nos.

A Ambitur.pt tem vindo a publicar parte das Grandes Entrevistas que tem realizado nas suas edições impressas, com alguns excertos inéditos.

A entrevista foi realizada em Novembro de 2014.