“A minha motivação é o projecto e as pessoas” (II)

Frederico Costa faz um balanço dos primeiros tempos “a bordo” da Visabeira, projecto que abraçou sem hesitar e no qual arregaçou desde logo as mangas para que o Turismo seja uma área com maior expressão neste grupo sedeado em Viseu. Em Lisboa, o empresário abraçou os negócios de Turismo, Imobiliário e Saúde da Visabeira, e garante que saiu do sector público numa altura em que já não sentia motivação para continuar.

Como têm sido os primeiros tempos na Visabeira, já arregaçou as mangas ou ainda está numa fase de entrosamento?

Arregaçar as mangas é desde o primeiro dia… Mas é um processo evolutivo, é uma casa muito grande, com grandes especificidades, desde logo o facto de a sua sede estar em Viseu, não em Lisboa, onde eu estou… Portanto, foi sair de uma vida, saí do Turismo de Portugal numa segunda-feira, dia 30 de Setembro, às 23H30, e na terça-feira de manhã, às 09H00, estava em Viseu, a trabalhar num grupo privado, num projecto. Não houve uma fase para desacelerar mas isso é normal. Mas sim, já estou a arregaçar as mangas desde o primeiro dia, e penso que cada vez estou mais dentro da operação e das prioridades, e do que me foi pedido. Há uma fase de adaptação em tudo e principalmente à realidade desta empresa, na qual o sector do Turismo não é a principal área de actuação. Mas o que me foi pedido em termos de prioridades, é onde estou a concentrar o meu trabalho e penso que já estamos a dar passos importantes.

E um dos seus objectivos é tornar a área do Turismo mais expressiva no Grupo?

É. Eu tinha essencialmente três desafios. O primeiro é juntar toda esta operação que estava muito atomizada, ou seja, eu não sou só responsável pela área do Turismo, também tenho a área de imobiliária e a área de saúde. Temos alguns projectos engraçados, temos a operação em Moçambique, os hotéis em Viseu, os novos hotéis, a saúde, o imobiliário. Juntar todas estas peças sobre uma mesma alçada, uma mesma administração, este é o primeiro desafio, a consolidação e articulação de todas estas áreas de intervenção. O segundo é nitidamente uma área de expansão, ou seja, construção de novos hotéis. Temos dois em projecto, um o Palácio da Vista Alegre, em Ílhavo, e outro em Lisboa, mais pequeno. Depois há a expansão natural, que passará por Lisboa – comprar, adquirir, gerir, explorar, alugar uma nova unidade hoteleira. A expansão pode ser em Portugal ou noutro país. Por exemplo, a Visabeira tem mais de 700 funcionários em França e este pode ser um destino de expansão natural, e para isso vim dar o meu contributo. O terceiro ponto são os resultados, ou seja, porque o peso do Turismo na Visabeira é pequeno mas está muito centrado em unidades hoteleiras, umas estão em Moçambique que atravessam também os seus desafios agora, face à instabilidade no país. Mas as nossas unidades em Portugal estão muito centradas no centro de Portugal e, portanto muito dependentes do mercado interno. Sabemos que, com esta crise, o mercado interno desapareceu muito e, portanto, há aqui um desafio de ir buscar novos mercados, de conquistar Espanha, ir procurar novos segmentos também em Portugal.

E de que modo é que vai fazer a diferença aqui?

Por acaso acho engraçado, porque o grupo Visabeira tem uma forma muito interessante de marcar a diferença, já em si, é uma cultura da própria casa. Não sei, já esta situação de ser um grupo liderado a partir de uma cidade que é Viseu… Mais do que estar a inventar um posicionamento ou um conceito, que a empresa tem o seu próprio conceito e a sua própria dinâmica, acho que a cultura, por exemplo, pela gastronomia, pelo serviço, pelo sorriso, são características da própria empresa e portanto para mim é fácil não ter que andar a inventar um posicionamento para a empresa, a empresa já o tem, é só potenciá-lo.

Organicamente assume as áreas do Turismo, Imobiliário e Saúde?

Há duas holdings, a holding do Turismo e a holding do Imobiliário; depois há a Saúde. Temos ainda a empresa em Moçambique, que é Turvisa. Eu sou o presidente da Visabeira Turismo e Imobiliária, sou presidente da Visabeira Turismo e presidente da Visabeira Imobiliária, presidente ainda da Porto Salus, o nosso empreendimento de saúde, e depois acompanho todo o negócio da Turvisa em Moçambique. A Porto Salus é uma parceria que temos com a Misericórdia de Azeitão, é um hospital e residências assistidas, portanto é um hotel mas assistido. Temos 20% de hospital e a Misericórdia tem 80%, e temos 80% das residências e a Misericórdia 20%. Vamos inaugurar agora em Março e é um projecto em que acredito piamente.

Já falou em dois projectos concretos, Ílhavo e Lisboa…

Lisboa é um projecto mais difícil porque está num zona histórica da cidade e é um edifico protegido, no largo Barão de Quintela. É um palácio muito bonito, vai ser um hotel de charme, de 45 quartos, mas que esperamos que seja um hotel completamente diferente, aliás como sou apologista de que a oferta deve crescer muito pouco, e se crescer tem que ser diferenciada. Estamos a trabalhar para que seja um hotel único, não só em Portugal mas mesmo ao nível do mundo. O projecto de Ílhavo está mais avançado, porque já tem o financiamento, o licenciamento, vai entrar em obras agora em Abril. O de Lisboa ainda estamos em discussões com a Câmara e com o Património, no sentido de finalizar o que se pode ou não fazer no edifício. O projecto de Ílhavo vai estar pronto algures no Verão de 2015, e o de Lisboa apontará já para o final de 2015 ou, princípio de 2016.

E fora do país?

Fora do país estamos atentos a oportunidades mas face ao que há para fazer em Portugal, principalmente ao nível da consolidação de resultados e de arrumação da casa, tem que ficar para uma segunda prioridade. Temos mais de 700 colaboradores em França, portanto temos uma administração lá que está atenta às oportunidades, mas não estamos propriamente tão activos como aqui em Portugal.

Lisboa é portanto o foco neste momento?

Em Lisboa, desde que cheguei nos últimos quatro meses, já analisámos mais de 30 projectos, e agora estamos com sete ou oito. Penso que é a expansão natural do grupo. É por onde entram também muitos dos nossos clientes. Nós estamos em 10 países, compradores, funcionários, intermediários, governantes, todos passam por Lisboa, e em vez de ficarem numa unidade concorrente ficam na nossa, portanto é natural.

Esta é uma área com recursos para investir?

Felizmente a situação financeira e económica do grupo é saudável, temos no nosso corpo accionista um banco, a Caixa Geral de Depósitos, e portanto esta saúde que o grupo tem obviamente também lhe permite contrair empréstimos e financiamento para qualquer intervenção que queiramos fazer e que seja oportuna.

É viciado no trabalho, ambicioso?

Não sou doente em nada, acho que por acaso sou bastante saudável (sorrisos). Dedico-me, mas não sou doente, no sentido em que é muito importante para se fazer um bom trabalho, tem que se equilibrar a situação familiar e a situação pessoal. As pessoas perguntavam-me muito porque é que corria as maratonas e subia montanhas. Exactamente para isso, para equilibrar e não dar prioridade absoluta a um dos temas, caso contrário, mais tarde ou mais cedo, uma pessoa cansa-se, ou pelo menos perde motivação, e portanto é bom que haja uma vida equilibrada e eu defendo isso muito, o equilibro das coisas, dedicação absoluta a todas mas com equilíbrio. Sobre a ambição, já fui muito mais do que sou hoje em dia, acho que estou muito satisfeito, sinto-me concretizado na minha vida profissional, acho que ainda tenho muito para evoluir, muito para dar e algumas coisas para aprender, mas não tenho uma ambição de um lugar. Aliás, quando decidi sair do Turismo de Portugal, não tinha nada, não sabia para onde ia, não tinha lugar de recuo, mas não me preocupou nada, porque se tivesse que descer três degraus e fazer outras funções completamente diferentes não só não me assustava como se calhar abraçaria com o maior dos gostos. Portanto, a ambição está muito no projecto em que me colocam, não propriamente na posição. A minha motivação é o projecto e as pessoas.

Continua a fazer maratonas?

Essa página já virou. Nesta fase era muito importante estar bastante focalizado aqui, portanto prescindi um bocadinho daquela terceira componente, para me dedicar mais ao grupo Visabeira, mas em breve encontrarei outra vez um terceiro eixo que possa equilibrar as coisas, um escape. É muito importante isso…

Como viu o aparecimento dos fundos hoteleiros? Que rumo devem seguir hoje?

Primeiro os fundos nasceram como uma resposta natural da economia, portanto não há que analisar muito, ou seja, eles apareceram porque os bancos tinham uma necessidade de expurgar activos tóxicos ou, pelo menos situações complicadas que tinham nos seus balanços. O segundo ponto é o futuro e a sua capacidade de gestão, e não me cabe a mim questionar a sua capacidade de gestão, a verdade é que eles hoje em dia já gerem. Recebem comissões pelos activos que têm e essas comissões capacitam os fundos de terem ou de contratarem quadros para poderem gerir os activos que estão em condições de ser geridos ou então de os poder recuperar no sentido de os colocar no mercado. É um processo, se vai ter sucesso ou não, o futuro o dirá. Uma coisa que me assusta é que não se está também a solucionar o problema, ou seja, os problemas das dívidas e que geraram esta tomada de posição pelos bancos e a sua alienação para os fundos, a verdade é que não ficou nada resolvido, ou seja, os bancos não registaram grandes imparidades, os fundos não vão conseguir vender os activos que têm pelo preço que eles custaram, ponto. Portanto, no prazo de cinco/dez anos, isso não vai acontecer, e portanto, das duas uma, ou as unidades de participação vão diminuir valor, ou os bancos vão ter que rever, e os próprios fundos vão ter que rever, o valor dos seus activos. Mas a verdade é que tenho que olhar isto não de forma egoísta, e muitos desses activos que estavam parados, como por exemplo o Colombos Resort em Porto Santo, entrou num fundo e resolveu-se, investiu-se o que foi preciso investir e entregou-se a gestão ao Grupo Pestana, portanto foi uma solução boa.