“Lisboa é um destino maduro, em curva ascendente”

Vítor Costa, director-geral do Turismo de Lisboa, foi capa da Ambitur em Maio, fazendo um balanço e apontando o futuro da actividade turística da cidade de Lisboa. O homem que há 13 anos é director geral da Associação Turismo de Lisboa recebeu a Ambitur no seu escritório disposto a uma longa conversa sobre o potencial da capital portuguesa atingir um novo patamar de desenvolvimento turístico. Recordamos que esta entrevista foi feita em Maio do ano em curso.Lisboa marca presença assídua nas várias publicações mundiais recebendo inclusive distinções progressivas.

Qual o envolvimento do Turismo de Lisboa na criação desta dinâmica?

Tudo isto acontece porque temos um bom conteúdo turístico, com muita qualidade. Este tem, progressivamente sido desenvolvido e é a primeira condição para esta dinâmica. A segunda é que, de facto, há uma estratégia que temos seguido no Turismo de Lisboa desde o primeiro plano estratégico em 1998 de apostar exactamente nesse segmento da comunicação, intervimos junto da comunicação social contratando agências de comunicação dos principais mercados e patrocinando, estimulando, apoiando visitas de jornalistas, e isso claro que é um trabalho de longo prazo que está a dar os seus frutos. Não é só o trabalho do Turismo de Lisboa, mas tentamos gerar uma dinâmica e isso está de facto a produzir os seus resultados plenos.

Lisboa é hoje um destino maduro?

É um destino maduro na divisão em que Lisboa se integra, onde estão grandes destinos turísticos urbanos, como Barcelona, Viena, Amesterdão, Berlim, entre outros. É um destino maduro, mas com a possibilidade de aceder a outro patamar e é isso que neste momento estamos a discutir em termos do nosso plano regional, no sentido de entendermos como é que atingimos o novo nível de desenvolvimento do turismo, mas penso que podemos considerar que Lisboa é hoje um destino bastante maduro em curva ascendente.

Ao longo destes anos todos consegue destacar os melhores momentos aqui em termos de turismo de Lisboa e os mais difíceis?

Nos melhores momentos da cidade e da região enquanto turismo destaco a Expo 98, que foi de facto o ponto de viragem, porque todo este processo só foi possível porque existiu este evento que teve impactos muitos fortes, abriu as perspectivas do turismo e também abriu a responsabilidade de se encontrar uma forma organizativa para aproveitar as oportunidades que existiam, para termos uma linha de desenvolvimento. Depois houve momentos importantes como outros eventos, campeonato da Europa, entre outras, e houve alguns momentos marcantes pelas ameaças que trouxeram. Por exemplo, o 11 de Setembro, estávamos em pleno desenvolvimento inicial de toda esta estratégia e as perspectivas tinham sido muito boas, veio 1999/2000, tinham sido anos bastante bons, e tivemos aquele “acontecimento” que teve um impacto estrutural muito forte, depois alguns altos e baixos, e depois veio a crise em 2008 e essa também foi um bocadinho difícil, mas demonstrou-se que, apesar de tudo, estávamos mais fortes. Porque a crise foi forte nos mercados, no nosso mercado interno, no espanhol, no italiano, em mercados tradicionais, mas conseguiu-se resistir bem, portanto eu penso que neste momento, estamos preparados para as eventualidades.

Qual o balanço do TLX 14 (Plano Estratégico para o Turismo de Lisboa) e que bases servirão para o novo plano estratégico?

O novo plano estratégico está a ser feito e tem de ser apresentado este ano e entrar em execução no dia 1 de Janeiro do próximo ano, é isso que está programado. O balanço mais fino será feito nesse plano. De qualquer maneira o balanço é globalmente positivo, mas nuns aspectos foi mais concretizado no que noutros. Dou o exemplo mais conseguido, a revitalização do Terreiro do Paço. O exemplo de um programa que não tenha sido realizado, é o de Belém. Há um grupo de trabalho constituído, com a Câmara, connosco, com a Direcção Geral do Património Cultural, para tentar desenvolver esse plano mas não se concretizou em nada. E depois há outros que não tiveram tradução ainda completa, mas que avançaram muito, o caso do Centro de Congressos, na parte do MI, e também do parque de diversões, na perspectiva de fomentar o turismo de famílias. Os planos que precedem o TLX14, que aliás sucedeu ao TLx10, tem bases que ultrapassam muito o seu período temporal e portanto são aproveitáveis. Por exemplo, o conceito da centralidade turística. O que se tem de fazer agora é redefinir quais são essas centralidades, quer da cidade, quer de fora de Lisboa e é esta parte regional o grande passo em frente deste novo plano, uma maior integração e visão regional e respostas adequadas a cada uma das situações.A questão é muito simples, perguntou-me há pouco se éramos um destino maduro, nós sabemos que um destino maduro muita vezes antecede a um período de cadência, para que isso não aconteça tem que ser renovado, tem que ser reinventando, e para termos novos conteúdos turísticos, temos que olhar bastante mais além do que as zonas da região que já estão consolidadas, designadamente Lisboa e Cascais. Uma visão regional não está trabalhada, portanto, temos que ver onde é que há esse potencial. Temos que o transformar em produtos turísticos, captar investimento, há muito por exemplo na cidade de Lisboa e há dinâmica, mas é preciso também ter investimentos, e mostrar aos potenciais investidores que há outras zonas da região onde se pode fazer bons investimentos, em boas condições e rentáveis. É um pouco essa expectativa que tenho desse plano que é que ele nos coloque num outro patamar.

A taxa turística é hoje um cenário afastado dos empresários da cidade?

Não sei se é um cenário afastado, as taxas turísticas são possíveis de serem criadas pelo Estado o pelas autarquias, portanto não posso responder. Ainda não há muito tempo li que o Governo equacionou a hipótese de criar uma taxa turística a nível nacional, como é que eu posso dizer que está ultrapassado se não somos nós que temos essa de decisão. Agora o que lhe posso dizer é que, no caso de Lisboa, a questão do financiamento tem que ser sempre discutida.

Há necessidade de arranjar outras formas de financiamento?

Temos a necessidade de o fazer, toda a gente considera que Lisboa tem de fazer um novo Centro de Congressos é uma questão fundamental. Sabemos que o centro de congressos para dinamizar a oferta existente, que é isso que se pretende, não pode ter uma natureza de investimento privado, porque então não teria esse impacto, ou seja, a sua gestão seria na perspectiva da rentabilidade do próprio centro e não da economia regional, local. Isso acontece não só aqui, como nos EUA ou na Europa, os centros de congressos são integrados em grandes complexos de investimentos, designadamente imobiliários, hoteleiros, entre outros, ou são públicos ou de iniciativa pública. Se forem de iniciativa pública estamos a falar de um equipamento que vai gerar uma receita adicional de 50 milhões por ano, vai duplicar o número de congressistas que temos em Lisboa, vai dinamizar a oferta que existe, portanto, a oferta que existe não só na proximidade, se ele for feito no Parque Eduardo VII como é uma hipótese, portanto lá temos o El Corte Inglês, as lojas da Avenida da Liberdade, os hotéis, entre outros, esses vão ganhar muito com isso, portanto, eu acho que temos de reflectir como é que se consegue criar as condições para fazer o centro.

O Pavilhão Carlos Lopes é a solução mais actual?

Neste momento é aquela que está estudada e que parece que apresenta vantagens, porque está numa zona central, perto da hotelaria, com muita acessibilidade, uma linha de metro, tem já um estacionamento com 1500 lugares, e portanto há um financiamento inicial das contrapartidas do jogo que pode ser canalizado. Mas isso não chega nem de perto, nem de longe, mas pronto é uma contribuição, e portanto, à partida parece que é a melhor solução. A sua localização permite sermos mais competitivos e é isso que queremos e para praticar preços também competitivos e flexibilidade de gestão, são estas as questões essenciais para se ganharem mais congressos. Nós estamos num bom posicionamento de congressos, subimos agora cinco lugares no ranking da ICCA, ficámos em nono, mas digamos em congressos pequenos, porque Lisboa é reconhecida em congressos até 1500 pessoas como altamente competitiva, mas daí para cima não. Lá está é um novo patamar. E as nossas contas, no business plan que já fizemos sobre isso, dizemos que há pelo menos um ganho directo de 50 milhões de euros por ano para o sector do turismo, se ele for construído. Se criarem condições, se não houverem condições para se reunir o financiamento, então não temos esses 50 milhões.

Esta é parte da entrevista que pode ser lida na íntegra na edição de Ambitur de Setembro, nº 273.