“Esta é a primeira crise em que a sustentabilidade não saiu da agenda, foi inclusive reforçada”

“Esta é a primeira crise em que a sustentabilidade não saiu da agenda, foi inclusive reforçada”. Foi assim que João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), iniciou o seu discurso da sessão de abertura da apresentação do Plano Turismo + Sustentável, que decorreu ontem, no Algarve. O responsável recorda que não é de hoje que o Turismo de Portugal tem vindo a monitorizar estas questões de sustentabilidade, nomeadamente ao nível do desempenho dos empreendimentos turísticos, e que “o Algarve saiu-se bem na fotografia”, o que não significa que não tenha ainda um caminho a percorrer.

Mas João Fernandes lembra que em matéria de eficiência hídrica, os estabelecimentos hoteleiros algarvios têm uma média superior à média nacional, e o número de empreendimentos que adotam medidas de eficiência hídrica corresponde a cerca de 76%, quando a média nacional, em 2019, era de 70%. E esta preocupação já vem de antigamente, com a RTA (e até antes, com a Junta de Turismo do Algarve) a deixar a sua marca em muitos investimentos infraestruturais nesta área, por exemplo, a nível do saneamento básico, pois esse foi o desígnio dos anos 70. “Hoje temos 99% da população servida com água de alta qualidade no Algarve”, frisa o dirigente. E acrescenta que contribuiu ainda para o desenho do Plano de Eficiência Hídrica, que tem cerca de 200 milhões de euros de investimento a fundo perdido para o Algarve.

A nível da energia, o Algarve também tem vindo a diversificar as suas fontes, contando hoje com três centrais de bio-gás, 11 parques eólicos, 12 estações de painéis solares fotovoltaicos e duas pequenas hidroelétricas. “Este é um caminho em que vamos crescer todos os dias no Algarve”, garante João Fernandes.

Ao nível da eficiência energética, “temos nos empreendimentos do Algarve melhor aposta do que a média nacional”, avança ainda.

E, prosseguindo para a área da recolha seletiva de resíduos, o responsável explica que tal já acontece há muitos anos na região, e “com taxas muito superiores” à media nacional. Isto porque “a nossa procura já o ditava”, admite, “a nossa procura é de mercados do norte da Europa, que há muito já tinham o mindset certo e que obrigaram a oferta a reagir”.

Além disso, o orador sublinhou que o Algarve tem 38% do seu território com estatuto de conservação de natureza, contando com dois parques naturais, 14 sítios da Rede Natura e toda a costa como reserva ecológica nacional. “Por isso mesmo, já há anos, apostámos no turismo de natureza. Apostámos em áreas que depois se tornaram um benchmark para o país”, aponta. E dá o exemplo de um projeto que a RTA fez com o Turismo de Portugal, de Cycling & Walking, e que hoje dá origem ao Portuguese Trails. Ou do Algarve Nature Week, que hoje se vê replicado por várias outras regiões do país. Ou ainda do Revitalizar Monchique, “um projeto logo após a intervenção dos bombeiros para o debelar do incêndio, e que foi concretizado pelo turismo”. E, adianta, abriu-se uma porta que foi a criação de um portfólio de compensação carbónica que já permitiu à Ryanair, por exemplo, investir 750 mil euros na florestação de Monchique, em três anos; ou que permitiu à Olimar investir no projeto Montanha Verde. “E acabámos de receber ontem um projeto do ICNF para que também haja um portfólio de pradarias marinhas”, revela.

João Fernandes concluiu relembrando que a sustentabilidade não é apenas uma questão ambiental. E explicita que o Algarve também concorre para o pilar social com “melhor emprego, mais estável, melhor remunerado”.