“Estamos empenhados em colocar o Alentejo e o Ribatejo na rota da transição digital e climática”
José Manuel Santos está à frente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo desde julho deste ano e falou com a Ambitur sobre quais as prioridades destas duas regiões num futuro próximo.
Como está a correr o ano em termos turísticos para a região do Alentejo/Ribatejo? Balanço do 1º semestre e do verão?
Já conhecemos os dados provisórios até julho que nos indicam que o Alentejo/Ribatejo foi a região do país que nos primeiros sete meses do ano mais cresceu no mercado interno, no caso 8.7%.
Olhando só para o mês de julho foi também o Alentejo/Ribatejo a zona turística que se destacou, observando os maiores crescimentos, mas também aqui o mercado externo liderou com mais 11.5% de dormidas, comparativamente, ao último ano. Importa ainda assinalar que, de janeiro a julho, estamos já em número de pernoitas acima dos resultados de 2019, cerca de 11,7%.
No que se refere aos proveitos, estamos com indicadores acima de 2019, é verdade que em boa medida os preços de venda ao público refletem a inflação, mas há também muito valor criado que advém da predisposição do mercado em querer visitar o Alentejo e o Ribatejo, estando disponível para pagar mais.
Tem sido um verão desafiante e exigente, mas os nossos empresários têm estado à altura e o certo é que no mercado interno o Alentejo e o Ribatejo têm ganho quota de mercado face a outros destinos mais consolidados.
Quais as expectativas para o segundo semestre?
Creio que boas. O Alentejo e o Ribatejo têm, nos últimos anos, sido mais competitivos neste período, principalmente, graças à procura internacional, mas é preciso investir em eventos e continuar a enriquecer a oferta.
Os empresários estão, razoavelmente, confiantes, ainda que tenhamos a noção que o mercado interno irá continuar a ser muito desafiante nos próximos meses.
Temos de capitalizar melhor a excelente oferta de estação média de que dispomos. Continuamos a ter muitos dias de sol e sem muito frio, pelos menos até novembro.
Por isso vamos ser muito ativos neste período, de forma a reforçar a notoriedade dos destinos Alentejo e Ribatejo, junto dos portugueses.
Estamos a lançar novos produtos como a rede de áreas de serviço para autocaravanas, cuja campanha irá para estrada em novembro. No que respeita à divulgação, estamos a fechar um acordo com o ACP e outro com a Revista Visão. Trata-se de um produto novo destinado a um segmento de procura que está a crescer.
Estivemos nos Açores na Bienal Ibérica do Património Cultural e a promover as nossas experiências do Património Cultural Imaterial.
Lançámos uma nova variante dos Caminhos de Santiago Alentejo e Ribatejo, no caso a Via Atlântico que vai desde Castro Verde a Sines. Será mais um produto que enriquecerá a fileira dos Caminhos da Fé no Alentejo.
Vão lançar uma campanha para atrair turistas no outono? Em que consiste esta campanha, quais os objetivos e período em que decorre?
Trata-se de uma campanha “tática” que assenta no mote “Agora é que é um Descanso”, claramente, direcionada para o período pós-verão. A premissa é simples. O verão foi bom, mas o outono e o inverno vão ser ainda melhores. Depois da correria do regresso as aulas, as famílias portuguesas, que cada vez preferem mais o Alentejo e o Ribatejo, estão de novo a precisar de férias.
Temos duas campanhas em separado, em outubro a do Alentejo e em novembro a do Ribatejo.
Somos uma entidade regional de turismo que gere dois destinos e duas marcas e por isso entendemos que as campanhas não se devem misturar. Em articulação com o Turismo de Portugal, vamos ligar a nossa campanha à de âmbito nacional, cuja mote é “Viaja pelo teu interior”. Creio que essa ligação é fundamental para evitar ruídos e sobreposição de mensagens.
Foi uma campanha muito discutida nos nossos órgãos, quer pela Comissão Executiva, quer no Conselho de Marketing, que a aprovou. Penso que a desenvolvemos e fechamos, criativamente, o processo num tempo recorde. Estamos muito satisfeitos com o resultado.
Não temos um grande budget, por isso vamos apostar muito no OOH e no Digital. Será o plano de media possível nesta fase em que continuamos sem aceder a fundos europeus para a promoção dos nossos destinos.
Mas teremos também uma excelente ferramenta de RP para nos apoiar na relação com os media.
Apesar das condicionantes estou convicto que irá ser uma campanha com uma boa visibilidade, em especial na zona da grande Lisboa e que irá reforçar a ligação do mercado português com a oferta turística do Alentejo e do Ribatejo.
Qual o plano de atividades para o próximo ano? Quais as prioridades? Haverá alguma mudança estratégica?
Definimos quatro grandes prioridades. A primeira será colocar as regiões turísticas do Alentejo e do Ribatejo no caminho da transição digital e ambiental.
A segunda passa por reduzir a sazonalidade em articulação com a densificação dos produtos e experiências turísticas propiciados pelos destinos Alentejo e Ribatejo, aumentando o peso do capital natural e patrimonial e o alargamento da visitação a todo o território.
A terceira implica um esforço na melhoria do marketing e da comunicação. Queremos elevar o retorno dos programas, obter maior notoriedade e repetição de visitas e fortalecer a afinidade do Alentejo com o mercado nacional e os portugueses.
E a quarta tem a ver com uma ideia já expressa, anteriormente, que se relaciona com a autonomização do marketing estratégico e operacional da Lezíria do Tejo/ Ribatejo.
Há linhas de continuidade, como se pode constatar, designadamente, no desenvolvimento e gestão das redes de oferta, mas diria que há alterações em quase tudo o resto.
Mesmo neste caso das redes é fundamental atrair mais DMC e agências de viagens para venderem estes produtos. O “produto territorial” tem de evoluir para “produto comercial”, com capacidade de venda. Estamos muito empenhados nisso. Vamos propor à APAVT e à APECATE a celebração de protocolos específicos com essa finalidade.
Por outro lado, queremos ter as empresas e as pessoas no centro da nossa estratégia e, por conseguinte, no plano de atividades. Projetos e iniciativas como as Bolsas de Empregabilidade, o Plano de Atração de Nómadas Digitais em articulação com a hotelaria, ou o Plano de Hospitalidade do Evora 2027, constituem exemplos do que referi.
Na formação queremos influenciar o trabalho regional que se faz, procurando que as ofertas formativas vão, de facto, ao encontro das necessidades das empresas e do destino.
Vamos também desenhar e executar operações especificas de valorização turística para os territórios do Sudoeste Alentejano, Serra de Ossa e Serra de São Mamede.
O Enoturismo e uma nova aposta no Olivoturismo, constituirão grandes apostas para os próximos anos, mas ainda estamos à procura do melhor instrumento de financiamento para concretizar este propósito. No Ribatejo vamos dinamizar a Capital do Vinho.
No Baixo Alentejo queremos com a CIMBAL e os seus Municípios candidatar este território a Cidade Europeia do Vinho em 2026. Estes produtos ligados ao Vinho assumem uma forte expressão territorial e empresarial no Alentejo e na Lezíria do Tejo.
Vamos também começar a estruturar oferta e produto na ótica da adaptação às alterações climáticas. A primeira ideia é criar um festival de atividades noturnas promovendo várias experiências na água.
Um aspeto, claramente, novo e que vamos assumir é a promoção no território transfronteiriço com Espanha, através de uma campanha promocional especifica para os anos de 2024 e 2025, obviamente, em articulação com o Turismo de Portugal e a nossa ARPT.
Relativamente à temática da sustentabilidade, o que está a região a fazer no sentido de tornar o destino mais sustentável? Quando será lançado o Plano Diretor de Sustentabilidade, quais as suas metas/objetivos, qual a estratégia?
Este plano vai ser transversal à atividade global da entidade regional de turismo e será apresentado, publicamente, no próximo mês de novembro, mas acaba por estar mais ligado à primeira prioridade que atrás mencionei.
Estamos empenhados em colocar o Alentejo e o Ribatejo na rota da transição digital e climática, que não são conceitos vãos, mas que ao contrário têm um conteúdo e um significado cada vez mais prementes, junto dos mercados e dos consumidores. Queremos por isso colocar em marcha o plano diretor de sustentabilidade turística regional, o qual contém vários eixos de intervenção e objetivos, a saber: dar um novo impulso à certificação de toda a cadeia de valor do setor, aumentando o número de alojamentos com um label sustentável; lançar um programa de apoio à circularidade dos serviços turísticos, por exemplo apoiando projetos para reduzir o desperdício alimentar na hotelaria e restauração; apoiar as micro e as PME na descarbonização; dinamizar a digitalização dos serviços e criar um verdadeiro ecossistema digital de promoção; realizar as bolsas de empregabilidade, aproximando a oferta e a procura de emprego na hotelaria; estruturar produto turístico adaptável às alterações climáticas e reforçar a dinâmica do Observatório do Turismo Sustentável para termos mais e melhores dados com maior antecedência que nos ajudem a otimizar a gestão do destino e dos negócios turísticos.
Para todas estas medidas será muito importante contar com o apoio vigoroso dos Fundos Europeus. Sem um apoio esclarecedor do PR Alentejo 2030 não será possível termos impacte, nem chegar a resultados estruturais que mudem para melhor o sistema turístico regional. Como referiu, recentemente, o Secretário-Geral da Organização Mundial do Turismo, o turismo precisa de investimento, investimentos verdes, na sustentabilidade e no crescimento desta atividade. Não obstante algumas dificuldades, estou convicto que será isso que sucederá no Alentejo e no Ribatejo.
Por Inês Gromicho