Os valores culturais tradicionais e a política governamental influenciam de que forma os “mochileiros” chineses usam a tecnologia quando viajam, de acordo com uma nova investigação da Universidade de East Anglia (UEA). O estudo observou como os turistas chineses independentes usam a Internet durante as suas viagens internacionais e descobriu fortes influências sociais no seu comportamento digital. Estas resultam da sua cultura, círculos sociais e da confiança colocada nas plataformas de análise “boca a boca”.
Os investigadores perceberam que os “mochileiros” gostam de receber comentários e elogios nas suas publicações nas redes sociais, e o processo de editar e publicar fotos, e de interagirem com comentários é um elemento essencial das suas viagens.
Também valorizam muito as recomendações “boca a boca” quando viajam para o exterior, fazendo bom proveito das plataformas de análise que já lhes são familiares, bem como de outras populares mas que estão banidas na China. Isto exige que eles aprendam a usar novas tecnologias, usadas mais habitualmente fora do seu país.
As descobertas, publicadas no Pacific Asia Journal da Association for Information Systems, também indicam que os viajantes chineses dependem fortemente das tecnologias digitaos como Ali Pay e WeChat Pay para pagamentos móveis.
O fenómeno das viagens independentes está a tornar-se cada vez mais importante na China, tanto a nível doméstico como internacional. Os turistas chineses são conhecidos como peritos em technologia e o autor principal do estudo, Brad McKenna, da UEA – que trabalhou com colegas da Universidade de Greenwich e da Universidade de Jyväskylä na Finlândia – afirma que os valores “Coletivos” e de “Confúcio” da cultura chinesa desempenham um papel essencial no seu uso das TI.
“De uma cultura coletivista, a relação entre as gerações está muito próxima. Além disso, nos últimos 30 anos a política de um filho na China teve impactos sociais tremendos, ao ponto de a nova geração se ter tornado o centro da família”, refere McKenna. E acrescenta: “Isto levou a uma forte utilização das redes sociais quando viajam, para que as famílas possam manter-se em contacto. Foi sugerido que o uso das redes sociais quando viajam desenvolveu-se na questão da vigilância através das TI. Espera-se que os turistas chineses independentes tenham uma presença virtual constante para apaziguar as preocupações das famílias e sentem-se obrigados a manter a ligação às mesmas”.
O conceito chinês de “guanxi”, que requer que eles estejam permanentemente ligados, também influencia a forma como os viajantes independentes utilizam a tecnologia. A função de “cola social” da tecnologia permite-lhes manter o elevado nível de conexão quando viajam.
As publicações nas redes sociais permitem que os turistas chineses não só partilhem as suas experiências de viagem como também recebam apoio emocional ao responder a comentários de amigos e familiares.
A infraestrutura técnica desempenha um forte papel no seu uso de TI e McKenna revela que as descobertas têm implicações para a indústria turística: “Os fornecedores turísticos devem compreender que os viajantes independentes chineses originam inferências sociais sobretudo quando usam tecnologia digital nas férias. Como garantir que podem manter constantemente esta conexão virtual e como transferir os produtos turísticos para experiências memoráveis e «compartilháveis» é essencial. Atualmente, há uma lacuna entre o uso tecnológico móvel da China e o resto do mundo. Há uma rede de tecnologia chinesa, tais como WeChat, Weibo, Alipay e DazhongDianping, e as apps ocidentais mais populares têm o seu equivalente chinês”.
Os autores do estudo dizem que quando os chineses viajam para fora enfrentam muitas apps desconhecidas, e algumas das que habitualmente usam na China não funcionam tão bem, como por exemplo, Baidu Maps e Baidu.com, que podem ser lentas. Além disso, as plataformas de análise “boca em boca” eletrónicas (eWoM) não têm tanta informação como teriam na China.
“Os fornecedores turísticos devem pôr fim a esta lacuna e proporcionar uma experiência tranquila”, acrescenta o investigador. “Talvez as plataformas eWoM possam trabalhar em parceria. Por exemplo, uma plataforma de análise online chinesa poderia trabalhar com o TripAdvisor para que os turistas chineses tenham acesso a mais críticas”.
O estudo acompanhou 14 “mochileiros” chineses em três grupos enquanto viajavam pela Europa – para Espanha e Portugal, Reino Unido e Polónia. Um investigador de língua chinesa acompanhou estes grupos, efetuando entrevistas.
Pode ter acesso ao estudo aqui.