ETC prevê retoma lenta das viagens na Europa esta primavera e lento regresso a “nova normalidade” no verão e outono de 2021

Com a pandemia da Covid-19 a entrar no seu segundo ano, o seu impacto global continua a pesar fortemente sobre os destinos europeus e a economia do turismo global. A mais recente edição do relatório da European Travel Comission (ETC) – “European Tourism Trends & Prospects” monitoriza o impacto do novo coronavírus sobre o setor e de que forma a atividade das viagens deverá retomar em 2021 perante as atuais vagas de infeções e o arranque lento dos programas de vacinação.

Segundo a análise, a chegada de turistas internacionais à Europa caiu 70% em 2020 face ao ano anterior. Apesar dos desafios de distribuição que têm pesado sobre a União Europeia nas últimas semanas, o desenvolvimento das vacinas por toda a Europa e melhores programas de testagem e rastreio oferecem alguma esperança para o abrandamento das restrições de viagens em 2021. No entanto, o regresso aos padrões de procura internacional típicos será gradual, diz a ETC, com os níveis de 2019 a voltarem apenas em 2023.

Eduardo Santander, diretor executivo da ETC, afirma que “acreditamos que a retoma lenta das viagens possa ocorrer na primavera em toda a Europa com um lento regresso a uma «nova normalidade» no verão e outono de 2021. A retoma das viagens acontecerá porém com novos hábitos dos consumidores, que exigem uma forte adaptação e reações ágeis por parte do setor do turismo. Garantir oportunidades de viagem seguras deverá tornar-se uma prioridade para os destinos com os viajantes potenciais a viajarem mais perto de casa e para destinos menos conhecidos”.

Todos os destinos europeus analisados registaram quebras nas chegadas entre 51% e 85% em 2020, com um em cada três destinos a assumir declínios entre os 70% e os 79%. Ao observar os países que dependem mais fortemente dos mercados internacionais, os resultados são ainda piores, com Montenegro a registar uma diminuição de 85%, o Chipre de 84%% e a Roménia de 83%. Em Espanha, onde o turismo representa 12% do PIB do país, a perda de chegadas dos seus principais mercados (Reino Unido, Alemanha, França, Países Baixos e Itália) levou a uma descida de 77% nas chegadas de turistas internacionais.

As chegadas de turistas a Portugal, Sérvia, Malta e Hungria (todos -75%) também caiu. Do outro lado encontramos a Áustria (-53%) que registou uma das quedas mais leves no que diz respeito às chegadas, dependendo bastante de viagens curtas pelo país que beneficiaram o turismo em 2020. Porém, os níveis de contágio das últimas semanas levaram a Áustria a introduzir uma proibição no que diz respeito ao turismo no início de 2021.

O desempenho da indústria
A indústria da hospitalidade tem sido uma das mais afetadas, com a quebra da procura a levar muitos hotéis a permanecerem fechados durante quase todo o ano de 2020, registando uma descida de 54% nas taxas de ocupação. Um abrandamento mais rápido das restrições às viagens domésticas e uma forte procura por parte dos residentes para viajarem localmente apoiou alguns hotéis que continuaram abertos mas uma segunda vaga da Covid-19 travou as viagens.

Quanto à indústria da aviação, a esperança de uma ligeira recuperação em 2021 foi arrasada com a reintrodução de confinamentos pela Europa devido a novos surtos no inverno de 2020. As últimas previsões da IATA apontam para que a Europa seja a região mais afetada em 2021 no que diz respeito aos prejuízos das companhias aéreas, com uma descida estimada de 11.9 mil milhões de dólares. Os dados anuais indicam um recorde mínimo no tráfego aéreo dos passageiros na Europa (-69,3%).

Viagens corporativas na Europa pós-pandémica
A pandemia provou ser uma oportunidade para reavaliar práticas existentes e a gestão de relações empresariais, e as viagens corporativas em específico. Isto resultou em pedidos para que as empresas se tornassem mais conscientes do impacto ambiental das suas viagens, levantando questões sobre se as viagens corporativas alguma vez regressarão aos níveis pré-pandémicos.

O relatório da ETC indica que as previsões no que diz respeito ao colapso das viagens de trabalho provavelmente não vão materializar-se, já que as reuniões cara-a-cara permanecerão como um ativo essencial das relações de trabalho. Uma pesquisa da SAP Concur em meados de 2020 sublinha a importância do contacto cara-a-cara, com 92% dos viajantes a corporativos a esperar que as suas empresas tenham resultados negativos devido às restrições de viagens, incluindo um número reduzido de contratos e negócios assinados e diminuições de angariação de novos clientes/negócios. A retoma das viagens internacionais corporativas a níveis pré-Covid-19 deverá ocorrer em 2024, com as viagens corporativas domésticas a recuperarem mais depressa em 2023.