Eventos: “Será dramático para a indústria se, até dezembro, nada acontecer”

Num momento em que se aproxima o período de desconfinamento, a terceira edição da “Tourism Talks”, promovida pela Message in a Bottle, debruçou-se sobre indústria dos eventos. “Meeting Industry. Fim ou um novo começo?” foi o tema desta sessão e que contou com, entre outros profissionais, Jorge Vinha da Silva, CEO do Altice Arena

A principal sala de espetáculos e eventos de Lisboa não conseguiu fugir aos efeitos da Covid-19: “Desde o primeiro semestre, foram vários os eventos adiados e outros cancelados”, afirma o administrador, não dando uma previsão para a retoma da normalidade. “Prefiro falar em fases”, diz. 2020 estava “em linha” com a atividade dos dois anos anteriores. Mas, de um momento para o outro, a atividade “foi reduzida a zero, fazendo com que o país entrasse “na fase do medo e da incerteza”, impossibilitando a sala de “operar” normalmente. No entanto, o impacto centrou-se apenas “no imediato”, devido ao facto de a Altice Arena trabalhar “em antecedência”. 

O segundo semestre será, então, a “fase de transição. Ninguém sabe bem o que vai acontecer”, sustenta o administrador, sublinhando que, “até ao final do ano, a “cautela” vai mandar” no setor. Mas esta área não pode estar pendente pela atividade a realizar até 2021: “Se for possível fazer coisas mais pequenas ou de forma diferente, terá um peso nesta fase de transição”, acredita Jorge Vinha da Silva, acrescentando que “há muito para fazer em 2020 e não podemos perder essas oportunidades enquanto indústria”. No entanto, e na ótica do responsável, as oportunidades podem-se perder devido à apresentação de “regras a nível de eventos” durante o mês de maio: “Receio que venha um regulamento que impossibilite a realização destas iniciativas”, alerta. Apesar de acreditar que a necessidade humana de “reunir e criar empatias não vai desaparecer”, o administrador da Altice Arena avisa que houve uma quebra: “Vivemos numa indústria que vive de duas coisas: de juntar pessoas e do clima de confiança. Estas duas questões foram abaladas”. Para restaurar essa confiança, Jorge Vinha da Silva diz que é preciso “algo mais. Não basta uma medida legislativa para que a atividade possa retomar”. 

Durante a próxima fase, o CEO acredita que as marcas irão começar a “fazer alguns eventos online” e que “vai ser possível começar a ter alguma atividade” no último quadrimestre do ano mas “em condições diferentes. Será dramático para indústria se, até dezembro, nada acontecer”, sustenta. O foco do setor deverá ser “a comunicação” de que é possível organizar atividades, mesmo que sejam “poucas coisas e mais pequenas”. 

É justamente neste horizonte temporal do último quadrimestre do ano que a Altice Arena tem estado a “trabalhar em documentos e propostas”. O administrador defende o objetivo de “vencer o medo e receio, e agir em conjunto. Temos de nos “contagiar mútua e positivamente para agir”. Apesar de ser um “processo evolutivo”, Jorge Vinha da Silva diz que prefere fazer “investimentos no edifício em questões de segurança e higiene e tentar ter alguma atividade” do que não ter nada. 

“Temos de olhar para o destino como um todo”

O CEO da Altice Arena não tem dúvidas de que a pandemia ensinou que há coisas que vieram para ficar: “Nesta fase, temos uma percentagem muito mais elevada de pessoas no digital do que no físico”, referindo que “vamos passar para uma transição em que vamos ter mais eventos híbridos”. Já no médio e longo prazo, o cenário poderá ser o de “transformar um grande evento europeu ou nacional, que tem um lógica presencial e de proximidade, e alavancar com fontes adicionais de receitas que vêm de todas as geografias”, descreve, acreditando que “será um contributo do híbrido para complementar e fazer crescer o setor”. É fundamental ter em atenção a forma de comunicar a absorção destas novas tecnologias: “Um evento 100% digital não vai gerar receitas na hotelaria e no F&B”, exemplifica o responsável, alertando para a necessidade de se atuar “como um todo”. Caso contrário, seria a “destruição de valor completo” para a indústria e para o destino.

De forma a potenciar a Meeting Industry (MI), no caso do Algarve o CEO da Altice Arena afirma que é fundamental “existir ligações aéreas do mercado de origem. Não há outras formas”, referindo que, enquanto não se criarem condições de infraestruturas e acessibilidades, “os operadores não têm interesse em ir para o destino”. A visão do responsável é de que é “possível fazer mais no destino sem destruir o que existe”, como, por exemplo, pensar na criação de programas sociais. “Se existirem condições, serão canalizados mais negócios para essa localização”, diz. O mesmo acontece em Lisboa: “Quantas mais e melhores infraestruturas, mais negócios se potenciam”, acrescenta. Nos últimos anos, a MI tem crescido no país pelo que é fundamental “existirem destinos alternativos” como Braga, Alentejo ou Viseu. “Temos de olhar para o destino como um todo”, sendo essencial para todo o setor que está espalhado por Portugal.