Com o Portugal 2030 já no horizonte, Pedro Marques, ministro do Planeamento e das Infraestruturas, em Grande Entrevista a Ambitur, efetua um balanço do Portugal 2020 e avisa que “não temos nenhuma expectativa de termos atingido o limite de disponibilidade para o financiamento da atividade dos vários setores de atividade económica”. Por outro lado, indica que o processo de reprogramação do Portugal 2020, “que estamos agora a começar a implementar, vai no sentido de continuar a ter condições para apoiar o investimento inovador durante os próximos anos. Queremos criar condições para continuar a apoiar o investimento inovador, que qualifica o território e a oferta hoteleira”.
Como ministro do Planeamento e das Infraestruturas como encara a atividade turística do país?
Felizmente, o país tem assistido a um desenvolvimento extraordinário do setor, uma qualificação significativa. E isso é muito importante, pois a melhoria não foi apenas quantitativa, o que significa que nos posicionou em segmentos de valor acrescentado importantes. Quer no atual período em que nos encontramos, mas a pensar também na próxima década, o turismo tem que continuar a ser uma aposta do país, e um turismo de qualidade, que garanta mais coesão territorial.
Com os instrumentos que temos, que são os fundos europeus de apoio às decisões de investimento, ao investimento privado ou mesmo do lado da política pública, temos feito um esforço grande. Neste momento já aprovámos investimentos totais de 765 milhões de euros no âmbito do setor do Turismo, no Portugal 2020, para mais de mil projetos diferentes – desde projetos de empresas até projetos de valorização de património construído, valorização de património natural, promoção turística. Tem sido um dos setores fortemente apoiado, e tenho a expetativa de que isso possa acontecer também durante a próxima década. Estamos agora a começar a discutir a estratégia para Portugal para a década seguinte, ao que chamámos Portugal 2030, e tivemos interações muito importantes, nomeadamente com a Confederação do Turismo Português (CTP) sobre essa matéria, e acreditamos muito no papel do turismo que já está consolidado agora mas que há-de continuar a estar muito forte nesse próximo período. Os desafios estão aí mas as oportunidades são enormes e, por isso, os instrumentos da política pública têm que continuar a estar disponíveis.
Onde pode a atividade turística ser mais interventiva no papel da economia do país?
Há alguma coisa que temos estado a fazer e acho que com grande consenso nacional nos últimos anos: diversificar e qualificar oferta. Mesmo no turismo mais tradicional do sol e mar qualificámos muito a oferta hoteleira para garantir a valorização da nossa posição em termos internacionais. Mas a diversificação da oferta foi absolutamente essencial. E diversificação do produto turístico também. Eu diria que é este o caminho que o turismo foi fazendo nestes últimos anos, e com o reflexo que agora se viu em 2017 de ter uma oferta muito mais disseminada no território, que aproveita singularidades absolutas de um país com 900 anos de fronteiras estáveis, o que nos garante idiossincrasias linguísticas, culturais, etc… que como sabem é aquilo que os turistas muitas vezes procuram, a diferença. Explorar essas caracteríticas identitárias, a diversidade do país, do território, todo esse conjunto de oportunidades e promover por essa via a coesão territorial, é certamente o que o país pode e deve esperar do setor turístico. E ainda por cima a política pública pode estar ao lado dessa diversificação e desse reforço da coesão.
O investimento com fundos comunitários está em velocidade cruzeiro, o do turismo também entrou em velocidade cruzeiro…
O investimento público está a ser executado normalmente no terreno. O investimento privado está com níveis globais de aprovação recorde de investimentos dos vários setores – da indústria e do turismo certamente – estamos a executar esses projetos e a pagá-los a um ritmo muito razoável e não temos nenhuma expetativa de termos atingido o limite de disponibilidade para o financiamento da atividade dos vários setores de atividade económica. O processo de reprogramação do Portugal 2020, que estamos agora a começar a implementar, vai no sentido de continuar a ter condições para apoiar o investimento inovador durante os próximos anos. Queremos criar condições para continuar a apoiar o investimento inovador, que qualifica o território e a oferta hoteleira.
Relativamente ao Portugal 2030, que contributos espera ter do setor?
Nós temos um contexto económico em geral que procura, na próxima década, posicionar Portugal na liga da frente, a nossa visão é da qualidade e da qualificação, quer na perspetiva da inovação no próprio setor, da inovação mais integrada de diversificação de produto mas também da qualificação dos próprios recursos humanos.
A discussão que vamos debater do ponto de vista político e setorial, que temos desenvolvido na prática há mais de seis meses para cá, há-de ser no sentido de definirmos em conjunto – política pública e agentes do setor, privados, confederação – as grandes prioridades estratégicas para a próxima década e vamos tentar que os fundos de financiamento possam estar alocados às prioridades. Não se pretende que seja o Estado a definir o que vai ser o setor ou a oferta. O Estado deve compreender com o setor os caminhos por onde podemos continuar a ser mais competitivos, a caminhar no sentido de elevar a nossa posição competitiva internacional e não a correr pelo fundo, pelo preço mais baixo, e ver quais são os fatores que a política pública pode apoiar, o tipo de investimentos até dos agentes privados que podem ser apoiados para poder continuar a fazer esse caminho.