Francisco Calheiros: “Parem com isto”
Os constrangimentos nos aeroportos portugueses estão a causar má imagem ao país e poderão ter um reflexo muito negativo para a procura a curto prazo, principalmente no desembarque de estrangeiros. Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal, em declarações a ambitur.pt à margem da tomada de posse da Direção da Associação dos Directores de Hotéis de Portugal (ADHP), que teve lugar esta quinta-feira, no Palácio do Governador, em Lisboa, insiste que esta situação se prolonga há dois meses e é insustentável. “Não só não estamos a arranjar maneira para que os turistas possam vir mais (não decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa). Mas estamos a estragar o trabalho feito com os que cá vêm”, indica o responsável, acrescentando que o serviço dos aeroportos é “uma realidade, eu não posso ter um desembarque em Lisboa que demore mais tempo que o voo que tenha vindo para cá. Portanto, a minha prioridade hoje é que parem com isto. Isto dura há dois meses. Desde a segunda quinzena de maio que estamos nesta situação. É um dia, dois, três, um pico, aceitamos tudo. Mas estamos nisto há dois meses. Resolvam o problema, ponham mais polícia, ponham os rápidos a funcionar. Em parte nenhuma do mundo isto acontece”.
O responsável comentou ainda a evolução do dossier TAP, indicando que “para o comprador poder captar todas as sinergias da TAP, tem de ter 100% da TAP”. Neste contexto, o responsável considera que “não é possível aguentar uma TAP orgulhosamente só. Todas as nossas concorrentes estão em plataformas, a TAP devia estar numa plataforma. E, como tal, sou apologista da privatização da TAP”.
Relativamente ao trabalho com o novo Governo, Francisco Calheiros anuncia que já está a decorrer trabalho com o ministro da Reforma do Estado, estando planeada para setembro uma reunião de trabalho com os stakeholders do turismo português: “Já reunimos com ele durante uma tarde, com ideias muito firmes. Já marcámos, logo que acabe o verão, uma reunião de trabalho com todos os stakeholders do turismo, para poder haver essas simplificações”.
No entanto, existem outras expectativas para a Confederação: “Como eu já disse, nós estamos a ter governos de ano a ano. Não se faz nada. Em sede de concertação social, não temos feito nada. Nós temos que revisitar a legislação laboral: é caduca, é velha, não é dinâmica, não é aquilo que se pretende. A fiscalidade tem de ser revisitada. Já anunciámos 20 vezes a baixa do IRC, nunca se fez porque o Governo caiu. O que é que eu espero? Espero vivamente que este Governo aguente os quatro e que consiga fazer algo”.
Relativamente ao novo aeroporto de Lisboa, Francisco Calheiros indica que o turismo desespera por soluções de acessibilidade. Se, por um lado, não contesta a decisão de Alcochete, pois não tem conhecimentos técnicos para o fazer, indica que a sua operacionalidade terá um prazo de 12 anos, pois tudo depende de uma série de fatores, inclusive da ferrovia, terceira via da ponte, entre outros. “Mas tem que haver uma solução intermédia. Se é Alverca, se é Montijo, se é o que quer que seja, não interessa, arranje-se uma solução”, enfatiza.
Por outro lado, destaca que “temos que acrescentar isto à ferrovia. Esta ferrovia está a tornar-se um novo aeroporto. Se tivermos um «AVE», de Lisboa para Porto e Madrid, libertam-se mais de 40 voos por dia. 40 voos por dia. Façam as contas, a 200 pessoas a 365 dias, o que é que dá? Há que acelerar a ferrovia”.
Por último, o responsável abordou a questão da mão-de-obra considerando que “somos um dos setores que emprega 30% com mão-de-obra estrangeira. Estamos todos a aprender com isto da imigração. Abriu-se muito. Agora se calhar tem que se fechar. Eu não posso ter mais um milhão de pessoas que entram aqui sem casa, sem emprego. Sim, precisamos de mão-de-obra estrangeira, mas tem que ser uma migração controlada, de qualidade. E nestes protocolos que estamos todos a fazer, como fizemos com o Turismo de Portugal, a EMA identifica os migrantes, são formados no Turismo de Portugal, aprendem a língua, dão estágios em hotéis. É assim que nós temos de continuar”.
Por Pedro Chenrim