O agrupamento de gestão de agências de viagens GEA analisa à ambitur.pt o produto de viagens colocado no mercado nacional, indicando que a oferta é idêntica a 2019, mas com transferência de oferta de destinos. Para os responsáveis, este ano o objetivo tem de ser atingir 80/85% das vendas, face a 2019, depois de um ano (2021) onde as faturações oscilaram entre os 40/45% face ao mesmo período.
Ambitur.pt entrevistou Pedro Gordon, diretor-geral do grupo, Paulo Mendes, diretor de Contratação, e Nuno Tomaz, diretor comercial, sobre os desafios que este ano se colocam, quais as expectativas, o andamento dos projetos internos, entre outras temáticas. Esta é a última parte desta entrevista.
[blockquote style=”1″]O que se está a passar é que o preço está a ser colocado no mercado ao preço que este tem de ser vendido, sem os descontos avultados que aconteceram em outras alturas.[/blockquote]
O aumento de preços das viagens será inevitável este ano? Até que ponto?
Pedro Gordon: Não concordo que aconteça um aumento de preços muito generalizado. Haverá um aumento de preços em alguns produtos, principalmente na Europa, nos circuitos. No produto de massas, como as Caraíbas, Madeira, Porto Santo, Baleares, Canárias, Cabo Verde e Mediterrâneo não há aumento de preço. O que se está a passar é que o preço está a ser colocado no mercado ao preço que este tem de ser vendido, sem os descontos avultados que aconteceram em outras alturas. Se o preço das Caraíbas para um hotel de cinco estrelas é 1300 euros não se pode vender por 900 euros, este é um preço para escoar produto não para ganhar. Há uma coisa clara, este ano tem de ser para ganhar dinheiro. Ou começamos a ganhar dinheiro ou vamos prolongar o descalabro dos resultados das contas das empresas do setor para a eternidade. Este ano há uma necessidade de termos um retorno nas vendas, tanto ao nível dos operadores, como das agências de viagens, como em todos os elementos da cadeia de valores das viagens. Este tem de ser tempo de ganhar dinheiro., não de fazer maluquices e descontos absurdos. No setor, os saldos dos bancos não estão como gostaríamos, por isso vamos ter de vender ao preço que se tem de vender.
[blockquote style=”1″]Este ano há uma necessidade de termos um retorno nas vendas, tanto ao nível dos operadores, como das agências de viagens, como em todos os elementos da cadeia de valores das viagens. Este tem de ser tempo de ganhar dinheiro., não de fazer maluquices e descontos absurdos.[/blockquote]
Paulo Mendes: Os preços estão a adaptar-se à lei da oferta e da procura. Neste momento, existe uma procura ajustada de acordo com as necessidades que se verificam. É óbvio que se a procura aumentar muito, a oferta irá aumentar. Neste momento, os preços estão bastantes estáveis, não verificamos oscilações de semana para semana. Isso reflete-se em outras áreas de atividade, mas notamos que há uma adequação do preço face à procura existente.
[blockquote style=”1″]Temos que atingir resultados entre os 80/85% do que foi conseguido em 2019, há que vender, mas sobretudo há que ter um retorno de margens.[/blockquote]
Este é um ano crucial para o setor, os indicadores positivos não vos servem de consolo…
Pedro Gordon: Foram dois anos críticos. 2020 foi para esquecer. Em 2021, com sorte, teremos faturações entre os 40/45% face a 2019. As tesourarias das empresas estão esgotadas. Temos que atingir resultados entre os 80/85% do que foi conseguido em 2019, há que vender, mas sobretudo há que ter um retorno de margens. Temos de trabalhar com margens dignas. Essa é a única forma de sobreviver. Não podemos esmagar margens para poder vender, isso será o caminho para continuarmos numa crise permanente. Temos de trabalhar para ganhar dinheiro. Agora mais do que nunca.
Em termos de produto, qual a vossa ideia face ao que está colocado no mercado para venda e às auscultações que tiveram?
Pedro Gordon: Cada um aqui tem a sua opinião. A minha é que há menos destinos à venda do que verificávamos em 2019. De um modo geral, irão vender-se menos circuitos europeus do que se vendia, Ásia vai-se vender pouco, América do Sul menos, quem sai beneficiado desta quebra de procura destes destinos serão os destinos portugueses, Caraíbas, ilhas espanholas, Cabo Verde e Mediterrâneo. Notamos de facto que há mais um avião grande a operar para as Caraíbas, este ano, relativamente a 2019, um A330. Teremos mais um avião para as ilhas espanholas do que havia e mais uma operação também para Cabo Verde. Nos destinos que se vão vender há um incremento de oferta, para colmatar a perda da oferta de destinos que vão ser de difícil venda.
Paulo Mendes: A minha opinião ao nível de produto é que a grande aposta são destinos seguros e aqueles em que o viajante português se sinta confortável. Não há nenhum operador de referência no mercado, com quem já trabalhamos em 2019, que não vá criar nenhuma operação que não esteja neste contexto. De facto, não estamos em tempos de aventura e de perder dinheiro. Há garantias de facto que se há uma operação para Cabo Verde é porque ela é segura, vai ser sustentada e vai-se manter. O mesmo para as Caraíbas. Relativamente às Caraíbas, por mais que haja um novo player no mercado, o número de lugares disponíveis não é superior a 2019. Tínhamos três rotações por semana para Punta Cana, neste momento temos o mesmo. Não há aqui um excesso.
Teremos operações da TAP para esse destino…
Pedro Gordon: E teremos voos regulares desde o Porto, que não existiam em 2019, para Punta Cana, Baleares e Canárias.
Paulo Mendes: É verdade. Mas observamos uma concentração das operações nos meses premium de férias. Aí sim, observamos que são operações mais curtas, mas com segurança, dando a garantia de que as pessoas podem ir para o seu destino entre julho e setembro. É neste período que as agências têm bastante produto disponível para vender e os clientes destinos de confiança. Temos então um produto semelhante ao que havia em 2019, com poucas novidades. Os grandes destinos penalizados serão as grandes viagens, onde não existe uma grande segurança pelo cliente em viajar. Não há muita procura para esse tipo de destinos, com algumas exceções como as Maldivas e Seychelles, que sempre se venderam na pandemia. O próprio Dubai, que ajudou durante a pandemia a manter algumas vendas nas agências. Acreditamos que vai haver um boom de vendas nas agências nas operações charter comparativamente às viagens por medida que os clientes solicitavam. Esta pode ser a grande diferença face a 2019.
Nuno Tomaz: Sublinhando aquilo que o Pedro e o Paulo disseram, há uma aposta na continuidade e no turismo de proximidade. Ainda hoje se falava, numa das nossas formações, que o consumidor quer viajar, mas num contexto onde se sinta confortável. Continua a haver uma aposta no produto de autoférias e charter em destinos que ofereçam essa garantia ou de proximidade. Algo que também temos notado de forma geral é uma readaptação do produto de grupos, que estão a começar a ser feitos de novo, situação impossível durante toda a pandemia. Antigamente os grupos eram feitos até 50/80 pessoas, hoje são mais reduzidos e adaptados em função das necessidades sanitárias. Nota-se também um regresso dos clientes ao turismo de cruzeiros, que estão a planificar de novo toda a sua operação e também voltando às operações charter uma mudança de paradigma. Até agora temos as operações charter, mas há uma adaptação dos operadores a uma nova realidade: as companhias aéreas regulares estão a começar a voar em força para os destinos charter. Estão a apostar muito nessa vertente, para poderem oferecer aos seus clientes um produto alternativo que é o pacote dinâmico, com um preço dinâmico e um produto dinâmico. Esta é uma nova realidade.
Leia também
“GEA (1): «A integração da RAVT na GEA representa um incremento de 10% em empresas”»
“GEA (II): Novo projeto permite «um passo à frente visando o comportamento do cliente»”