GEA: Preço das viagens turísticas deverá aumentar em 2022 no mercado nacional

Num painel de debate sobre “Mudanças e tendências no produto e comportamento da distribuição pós-covid na ótica dos fornecedores”, realizado no âmbito da 17ª Convenção Nacional do Grupo de Agências de Viagens GEA, que juntou quatro operadores de viagens, ficou claro que, no próximo ano, o preço das viagens turísticas em Portugal poderá atingir os valores verificados antes da pandemia. Fizeram parte deste diálogo Nuno Mateus, diretor-geral da Solférias, Duarte Correia, managing diretor da W2M, Nuno Aleixo, diretor Geral da Nortravel e Eduardo Cabrita, diretor-geral da MSC Cruzeiros em Portugal.

Nortravel: “Não vai poder continuar uma grande flexibilidade na sinalização de compras”

Nuno Aleixo

Relativamente ao próximo ano. Nuno Aleixo, diretor geral da Nortravel, indica que “temos a programação avançada, iremos repor produtos que tínhamos, voltando aos destinos tradicionais, com os mesmos conceitos, evitando multidestinos, mas apostando em cidades com uma grande oferta cultural ou regiões, nas mesmas condições, de um país”. Destaca ainda o responsável que para o mercado nacional haverá um aumento da oferta em circuitos.

Recorda também que, desde o início da pandemia, verificou-se uma retoma das vendas em «last minute», sendo que se nota que o passageiro tem uma atenção redobrada sobre a segurança, sobre o que poderá acontecer se algo ocorrer no destino.

Questionado sobre se haverá alterações ao nível da sinalização da compra dos pacotes turísticos, Nuno Aleixo considera que “é uma situação muito complexa”. E indica que “temos hoje uma mais-valia que é a confiança dos consumidores nas agências de viagens e isso é muito importante. Hoje em dia o consumidor não tem receio de deixar o dinheiro nas agências de viagens, houve da parte da cadeia de valor um compromisso assumido perante o cliente”. Complementa o responsável da Nortravel que “o consumidor e os agentes de viagens precisam de produto para 2022 e nós temos de assumir compromissos perante companhias aéreas e hotéis para que isso aconteça. Para isso vai ter que continuar a existir depósitos, por parte dos clientes às agências, e terá que continuar a ter que haver pagamentos aos operadores”. Nuno Aleixo recorda que “houve uma grande flexibilização em 2021 por parte de todos os operadores, de forma a passarmos confiança ao cliente ao nível da reserva, houve casos de 60 a 45 dias, mas esta prática não vai poder continuar, isso é certo. No entanto, acredito que possa haver flexibilização do prazo de concretização das reservas, sem qualquer custo. Esta é uma situação que estamos a acompanhar e à qual somos sensíveis. Não vai poder continuar a haver uma grande flexibilidade”. Sendo assim, acredita o orador que “temos de comunicar mais com os clientes, ao nível da segurança que têm em reservar com os agentes de viagens”.

Relativamente aos preços de venda ao público, Nuno Aleixo indica que “para 2022 os aumentos que nos estão a passar (fornecedores) são cumulativos dos dois últimos anos. Todo o ciclo da cadeia de valor está a mexer, por exemplo, os autocarros que usamos também estão a aumentar o preço”. Insiste o responsável que “os destinos de maior procura, que já trabalharam bem este ano vão aumentar preço, até pela procura. Nos destinos que ainda não arrancaram, acredito que consigamos manter uma política de preços atrativos, porque estes têm de se reposicionar junto dos fornecedores. Apesar da incógnita, já assistimos a um aumento de preço, por exemplo, em Espanha já temos circuitos com acréscimo de preço de 15/20% para o próximo ano. Aumentos desta dimensão têm de ser refletidos”.

Sintetizando, Nuno Aleixo indica que “tenho uma visão que 2022 poderá ser uma tentação para alguns fornecedores aumentarem o equivalente ao que se poderia verificar em dois ou três anos”.

Solférias: “A nossa oferta para Cabo Verde em 2022 vai ser extremamente arrojada”

Nuno Mateus

Da parte da Solférias, olhando para o próximo ano, Nuno Mateus indica que “a nossa oferta para Cabo Verde em 2022 vai ser extremamente arrojada”. Para o interlocutor, o turista nacional quer confiança e curta distância para as suas férias, sendo assim “vamos privilegiar a curta distância, em destinos onde o movimento turístico está consolidado. Só abrimos um destino dois meses depois de estar consolidado, para evitar as questões das reservas e cancelamentos”. Por outro lado, o operador turístico também conta aumentar a oferta no mercado nacional. O diretor geral do operador turístico não deixa de chamar a atenção que para destinos fora da União Europeia o desafio é maior e é onde a Solférias tem a maior parte da sua oferta, sendo necessário uma “readaptação às mudanças que vão surgindo, rapidamente”.

Relativamente às tendências do nosso mercado, refere Nuno Mateus que em 2021 o «last minute» foi dominante. Mas, “no caso do (próximo) fim-de-ano sentimos uma inversão (regista-se nas operações para a Ilha do Sal, Funchal, Porto Santo e Brasil). O período de antecedência da compra aumentou”. Nuno Mateus chama ainda a atenção que “recentemente lançámos Senegal e Tunísia para o próximo ano, em junho, e de imediato começaram a cair reservas”. Considera o orador que as pessoas estão a reajustar-se a uma nova realidade. E afirma que “é claro que não conseguimos fazer uma aposta em 50 destinos (neste contexto), mas se conseguirmos colocar uma dúzia já é bom. Portugal está a demonstrar uma cultura familiar, que reserva à base das crianças, e surpreende-me a procura pela Disney, que esteve fechada em junho, mas em quatro meses chega ao 4º destino mais vendido dentro da Solférias. As lógicas existem para serem quebradas”.

Relativamente à questão da sinalização da compra dos pacotes turísticos considera Nuno Mateus que “a flexibilização é a grande arma do agente de viagens”. Mas mais importante é “conseguirmos passar a palavra ao cliente final que o arriscar meter o cartão de crédito num site qualquer é diferente de depositar dinheiro nos agentes de viagens e operadores que estão abrangidos por uma Lei Comunitária que nos obriga à devolução desse montante com prazos definidos”. Mas relativamente à flexibilização da sinalização dos pacotes. Nuno Mateus considera que “as coisas têm de mudar, porque os fornecedores estão a exigir-nos mais. Por exemplo, nos charters para o próximo ano, tivemos de os sinalizar já este ano”.

Relativamente ao momento do negócio, o responsável da Solférias considera que “ninguém tenha dúvidas que «luz» hoje em dia não falta, pode é não estar a incidir com tanta força como queremos. Se há momento para celebrar entre todos nós é agora. Não é que já tenha chegado a vitória, mas o rumo está traçado”.

Relativamente aos preços de venda das viagens no mercado nacional em 2022, considera Nuno Mateus que já começou “a normalização de preços tendo como referência 2019, ao nível dos charters. Relativamente aos voos regulares, estes serão mais complexos. Hoje em dia há menos voos, face a 2019, a tendência é que a tarifa média aumente. Como é que tentamos minimizar estas dificuldades? Através da negociação de allotments e por outro lado, através de uma utilização de tecnologias”. Alerta ainda o responsável que “neste momento temos de estar atentos à questão do fuel, do qual estamos completamente dependentes nas nossas operações”.

Refere ainda o responsável que “nas operações da Solférias nunca irão ver na última semana preços com quedas significativas. Porque isso seria o descrédito total daquilo que todos defendemos. Queremos vender com antecedência. O risco é nosso. A política comercial que tentamos incutir para que vocês possam beneficiar e não serem cruxificados pelo vosso cliente é transparente e tranquila. Mesmo perdendo algum dinheiro”.

Eduardo Cabrita: “Ainda não lançámos uma novidade que está a ser bem cozinhada para o mercado português”

Por seu lado, Eduardo Cabrita, diretor-geral da MSC Cruzeiros em Portugal, fala de um percurso de retoma

Eduardo Cabrita

de atividade que poderá ser atingida já no próximo ano. “Houve uma readaptação, esta é constante, semana a semana, mês a mês. Temos um gabinete de crise em contacto com os governos para onde paramos, de forma a conseguirmos antecipar o que fazer. Haverá adaptações nos próximos meses. Esperamos que em 2022 no verão tenhamos a frota toda a navegar em todo o globo, com alguma normalidade, com protocolos de segurança e higiene mais fortes que os da própria sociedade”.

Para o responsável “as companhias têm que se adaptar à realidade. As reservas dos cruzeiros atualmente estão a ser feitas entre os seis a um mês antes da partida. Mas se não tivermos os destinos programados não temos reservas, nem passageiros”. Mas chama a atenção o orador que “as nossas expectativas é que voltemos rapidamente aos níveis pré-pandemia, aliás em 2022 ao nível de reservas estamos muito próximos do que acontecia em 2018 relativamente a 2019”. Indica ainda o interlocutor que “ainda não lançámos uma novidade que está a ser bem cozinhada para o mercado português, mas lá chegaremos”.

Relativamente à flexibilidade da sinalização da compra dos pacotes turísticos, para Eduardo Cabrita “a palavra de ordem é a flexibilização. A pandemia veio mostrar que nos temos de ajustar em termos comerciais à realidade. No nosso caso temos uma política definida desde 2020, esta permite que os clientes reservem o seu cruzeiro e tenham a possibilidade de reagendar o mesmo sem custo, até 15 dias da partida se for só cruzeiro, 21 dias se tiver voo”. No entanto, haverá alterações no futuro. “Esta política vai ter de ser readaptada ao longo de 2022, à medida que este vá passando. Para nós, este é o ano de reconstruir, já muito próximo de 2019. Em relação aos depósitos vamos mantê-los, acreditamos que não é este o drive que faça a diferença para que as pessoas possam reservar”.

Olhando para o preço de venda do produto MSC ao público, considera o operador de cruzeiros que “notamos que nos vários setores económicos há uma grande disrupção das cadeias de valor dos negócios. Por isso recomeçámos as operações em agosto do ano passado, para que isso não se verificasse ao nível dos fornecedores dos cruzeiros. Poderíamos ter subido os preços nessa altura e pensar que o negócio estaria acima de tudo, mas não. A ideia seria recomeçar por causa das cadeias de valor e ter um preço ajustado ao mercado, ou seja, ter um preço mais baixo. Passado um ano e meio verificamos que esse preço médio ainda está abaixo do que seria 2019”. Sendo assim, destaca Eduardo Cabrita que “a tendência de 2022 será uma subida progressiva, podemos até chegar ao preço médio de 2019. Como o setor dos cruzeiros tem esta característica, é muito mais fácil trabalharmos com algum tempo e verificar se esse preço médio fará sentido subir ou estabilizar ou ainda descer. A ideia que nos apraz é que ele se mantenha até ao final do Inverno de 2021, março/abril, sendo que a partir de fevereiro/março progressivamente, e com muita cautela, possa ter uma pequena subida sobre o verão”.

Duarte Correia: “World2Fly com licença para voar à partida de Lisboa”

Duarte Correia

Duarte Correia, managing diretor da World 2 Meet – W2M, também deu a sua visão sobre o mercado das viagens em Portugal e evolução do negócio, não sem antes anunciar que a World2Fly, a nova companhia aérea do grupo, havia conseguido na passada sexta-feira a licença para voar à partida de Lisboa e que o operador turístico espanhol Icárion será lançado no mercado no primeiro trimestre do próximo ano, programando Maldivas e Seycheles. Destinos que se vêm juntar às apostas do operador para Punta Cana, Cancun e Cuba.

Para Duarte Correia, 2022 será uma “continuidade da retoma do mercado”, sendo que o ponto de partida é um cenário em que “as reservas foram em grande quantidade em last minute. Irá ser de forma mais moderada em 2022, temos de estar disponíveis e aptos a trabalhar nesse registo, que não facilita em nada as operações”. O orador indica que “estamos a tomar iniciativas no sentido de antecipar as reservas, motivando os consumidores para termos mais alguma segurança em termos de operacionalidade dos nossos pacotes”. No entanto, considera que “a tendência do last minute será difícil inverter, é quase impossível. Nem os seguros, nem as pessoas querem inverter alterações a duas semanas antes de poderem viajar. Vamos flexibilizar os nossos serviços e dar tudo o necessário aos agentes de viagens para poderem garantir aos seus clientes que até à última hora têm condições para encetar as suas férias, ao contrário será difícil contrariar esta tendência”. Sendo assim, o orador indica que não antecipa “grandes alterações do modus operandis do mercado”.

Relativamente ao preço das vendas de viagens no próximo ano, Duarte Correia faz notar que “quando aparecemos no mercado tivemos uma política de equilíbrio de preços, não fugindo aos preços praticados no mercado, mas sim dando alternativas ao cliente e ao agente de viagens, que é o grande distribuidor do nosso produto. Entre as mais-valias que tínhamos para dar ao mercado apostámos na qualidade e diferenciação do serviço nos nossos voos, além do facto de que os agentes seriam ressarcidos de comissões nos destinos, de serviços vendidos na origem. Esta foi a diferenciação que tivemos na aproximação ao mercado nacional. Para o futuro, a nossa proposta de valor é exatamente a mesma. Sendo que o PVP obviamente será gerido na variante a oferta e a procura”.