“Gestão” da sazonalidade no Algarve deve passar pela criação de sinergias entre vários parceiros e setores

O futuro do Algarve esteve em discussão no 41º Congresso da APAVT, que terminou, ontem, no Algarve. No painel “Algarve – Um debate sobre o futuro”, os oradores Carlos Costa, administrador executivo do grupo Nau, Mário Candeias, diretor de operações do Grupo Pestana, Gilberto Jordan, administrador do Grupo André Jordan e Desidério Silva, presidente da Entidade Regional do Algarve, concordaram que o grande problema deste destino turístico, a sazonalidade, não tem uma solução. No entanto, foram dados vários contributos para a sua “gestão e mitigação”. A criação de um “cluster” de turismo foi uma das ideias mais defendidas. Na ocasião, Desidério Silva afirmou que “a base de trabalho da região tem que assentar entre plataformas de entendimento entre todos os parceiros”.

Mário Candeias, diretor de operações do grupo Pestana, trouxe ao debate alguns números que, alertou, poderiam gerar alguma controvérsia. De acordo com o responsável, o desafio no Algarve passa por perceber se “temos muita ou pouca sazonalidade, qual o seu nível e saber se para aumentar a riqueza devemos reduzir ou aumentar a sazonalidade”. Para o responsável do grupo Pestana, é necessário tentar conseguir que a sazonalidade seja entendida como um rácio”, ou seja, “um número que pode ser trabalhado” e “depois monitorizar estes números face a destinos -benchmark”.

Dando conta que a sazonalidade no mundo, “que é de cerca de 32%, tem uma curva de procura idêntica à do Algarve, Mário Candeias afirma que será “muito difícil” reverter a realidade e lembra que, em dez anos, a sazonalidade no Algarve apenas cresceu de 43 para 46%. Apesar deste ser ainda o destino português com mais sazonalidade, alerta o responsável, é o que tem vindo a crescer menos e acrescenta que há que ter em atenção o mercado nacional, pois neste mercado a sazonalidade aumentou de 53 para 60%. “A ideia de que eles vêm mais é verdade, mas também vêm mais no mês de agosto”, afirmou.

Aos presentes, o responsável, explicou que “aumentar a sazonalidade poderá não ser mau, se as empresas trabalharem melhor o terceiro trimestre”. “Quando olhamos para um exercício de 12 meses o queremos é saber a rentabilidade desse período, independentemente dos meses em que essa rentabilidade se dê. A sazonalidade existe e é dificilmente atenuada, sabendo que ela existe, há que perceber como podemos gerar mais riqueza”, afirmou o responsável, acrescentando que “se é naqueles três meses (de verão) que está o ouro, precisamos saber como podemos optimizá-lo”. E para Mário Candeias a solução passa por “aumentar o preço e o valor da região”. Tudo tem que aumentar, temos de sofisticar a economia ao ponto de podermos ser consumidos por valores mais altos. E é nisso que devemos pensar, como e que nós nos sofisticamos”. Um melhor trabalho ao nível do “Business inteligence”, uma aposta no branding e a operação do Algarve como um “cluster” são algumas das sugestões de Mário Candeias.

Carlos Costa, administrador Executivo da Nau Hotels & Resorts começou por colocar a questão: “o Algarve tem turismo a mais ou outras atividades económicas a menos?”. Partindo desta base, o responsável explicou que muitos dos problemas da região se prendem com “as alterações estruturais que tem vindo a sofrer nos últimos 40 anos”. A sazonalidade, por exemplo, deve-se, indiscutivelmente, a fatores estruturais: às condições climatéricas,  “que não há volta a dar”, mas também aos “os usos e costumes e às férias profissionais e escolares” que, “ainda que sejam fatores que poderiam ser alterados, levariam anos”. Ou seja, “não é possível eliminar a sazonalidade”, apenas “gerir e mitigar”, afirmou.

À sazonalidade, “responsável pelo fecho de unidades hoteleiros no período de novembro a março”, juntam-se, de acordo com Carlos Costa, outros problemas relacionados com o produto, recursos humanos, acessibilidades, financeiros e sociais. Acresce ainda o facto de, apesar deste ser o “primeiro destino turístico do país, representar 40% das dormidas registadas em Portugal, acima de Lisboa e da Madeira e ter um peso económico fortíssimo”. não ter “peso politico”.

Aos presentes, Carlos Costa deixou algumas sugestões de melhoria: a atracão de mais empresas para o Algarve, “também de turismo, mas não só”, atracão de novos residentes, aumento da massa critica populacional, programa de investimento púbico, programa de captação de investimento, eliminação de barreiras à entrada mas também à saída, alteração da legislação laboral, “precisamos, na hotelaria, de  um quadro muito mais adequado à nossa realidade”, captação de grandes eventos e aposta no turismo residencial.

Também Vítor Neto ressaltou a importância do Algarve como o principal destino turístico de Portugal. Para o responsável, “o Algarve tem antes de tudo um problema estrutural. Não temos turismo a mais, temos é os outros setores a menos”. Na mesma ocasião, o responsável criticou a pouca importância que é dada, no panorama político, ao Algarve. “O Algarve conta zero politicamente”, afirmou Vítor Neto, que comparou ainda as realidades das regiões. “Madeira e Açores têm governos regionais, Lisboa está sentada em cima do cofre e o Algarve é completamente desconsiderado”, concluiu.